As últimas descobertas de um gênio no combate aos tumores malignos
por Drauzio Varella
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O casal dedicava-se às pesquisas com o
vírus de Epstein-Barr (EBV), presente no interior das células de um tipo
de linfoma maligno que o inglês Denis Burkitt acabara de descrever em
crianças africanas.
De volta à Alemanha, nos anos 1960,
contratado pela Universidade de Wurzburg, o grupo de Zur Hausen
demonstrou que o genoma de algumas células malignas continha o DNA do
EBV. Em 1972, constatou: “Demonstramos, pela
primeira vez, que os genes dos vírus são capazes de persistir no
interior de células humanas, modificar-lhes o genoma e provocar
multiplicação celular maligna”.
Nessa época, era
pensamento corrente que o vírus do herpes simples seria o agente
causador do câncer de colo do útero. Numa conferência internacional, em
1974, Zur Hausen afirmou que o herpes vírus não era encontrado em
tumores uterinos. O silêncio foi constrangedor: o conferencista que o
havia precedido descrevera o isolamento de genes do herpes simples em
40% das amostras de câncer de colo cultivadas em seu laboratório.
Transferido para a Universidade de Erlangen-Nuremberg, Zur Hausen criou
um programa para isolar os vírus associados às verrugas genitais. Seu
grupo conseguiu detectar o DNA do papilomavírus humano (HPV) em verrugas
da pele dos pés, mas esse DNA não apresentava reações cruzadas com
aqueles encontrados nas verrugas genitais e de outros locais da pele.
Havia diferença entre eles.
Foi a primeira demonstração de que
existia heterogeneidade entre os papilomavírus, observação em seguida
confirmada em outros laboratórios.
Finalmente,
entre 1980 e 1982, seu grupo conseguiu identificar o DNA do HPV em
verrugas genitais e em papilomas de laringe. Um desses DNAs presentes em
papilomas de laringe (o do HPV 11) mostrava reações cruzadas com o DNA
presente no câncer de colo uterino. As descobertas levaram ao isolamento
do HPV 16 no material colhido por biópsia, em 50% dos casos de câncer
de colo. Mais tarde, o grupo isolou o DNA do HPV 18 em outros 20% dos
cânceres de colo.
Convencido de que o papilomavírus era o
agente etiológico de uma doença que ainda mata 300 mil mulheres por ano,
Zur Hausen pressionou a indústria farmacêutica para obter uma
preparação vacinal que protegesse contra o vírus. Seus esforços foram
compensados com a aprovação da vacina e com o reconhecimento pelo Nobel
de 2008.
Em 2003, Zur Hausen deixou o cargo de
diretor-geral do German Cancer Research Center, mas continua a trabalhar
na instituição, com as amostras de mais de 150 tipos de HPV isolados
por seu grupo.
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