Apesar da piora na avaliação da presidenta, a oposição permanece praticamente imóvel nas pesquisas eleitorais
HO / EMBRAER / AFP
Andamos um bom pedaço de 2014 e a
eleição de outubro está a apenas quatro meses. Como a Copa do Mundo vai
durar cerca de 60 dias (o período de realização somado a uma quinzena
antes e outra depois), chegaremos a ela antes de nos darmos conta.
As últimas pesquisas mostraram queda na
avaliação positiva do governo federal e redução nas intenções de voto na
presidenta. Dilma Rousseff busca a reeleição e seu trabalho é
escrutinado diariamente pelo eleitorado, que precisa decidir se ela
merece permanecer no cargo. Os insatisfeitos querem sua saída.
Um de seus antecessores passou por algo
parecido em momento análogo. Em 1998, Fernando Henrique Cardoso tentava
novo mandato, direito que adquiriu à custa de pesados “argumentos” e
muitos “entendimentos” no Congresso.
A certa altura daquele ano, parecia ter
feito péssimo negócio. No fim de maio, segundo dados do Datafolha, seu
governo era aprovado por 31% dos entrevistados, o que se refletia nas
intenções de voto: empatava com Lula e estava em queda, enquanto a
trajetória do petista era de ascensão. Apesar do Plano Real ainda jovem,
da maciça propaganda governamental e do apoio da mídia corporativa, FHC
estava mal.
A propaganda eleitoral o salvou. Apresentou
realizações que a população desconhecia (algo fácil para qualquer
governante), repaginou-se como personagem (ficou mais simpático aos
olhos do eleitorado que, com razão, o considerava “elitista”) e se
aproveitou do criativo slogan inventado por seus marqueteiros: “O
homem que derrotou a inflação vai derrotar o desemprego”. Nada havia de
verdade na formulação, como a população logo descobriria, mas foi
suficiente para despertar esperanças. Sem sonhos não se ganham eleições.
Para uma coisa a experiência serviu: ensinou a todos como vencer em
condições parecidas.
As pesquisas feitas desde o segundo
semestre de 2013 mostram um quadro surpreendente. As candidaturas de
oposição permanecem fundamentalmente imóveis, mesmo diante das
oscilações negativas do governo e da presidenta. Uma característica
inédita das eleições deste ano.
De setembro
de 2013 para cá, Aécio Neves, do PSDB, foi de 20% para… 20%, com
pequenas variações no intervalo. Ao longo de nove meses, mexeu-se um
pouco para a frente, um pouco para trás, e acabou no mesmo lugar.
Eduardo Campos, do PSB, fez igual, embora
em patamar inferior. No período, passou de 10% para… 10%. Ele e o
tucano disputam o campeonato da estabilidade, ou, mais exatamente, do
não crescimento.
É interessante comparar o ocorrido em 2002 e o cenário
atual. Especialmente por aquela ter sido uma genuína eleição de mudança,
como alguns pensam que esta será. Nela, inexistiu estagnação igual.
De janeiro a maio daquele ano, o tucano José Serra viu sua
intenção de voto multiplicar-se por quatro. Estava com 7% e foi a 28%,
segundo o Datafolha.(suspeitíssimo) Depois caiu, mais perto da eleição. Anthony
Garotinho, então no PSB, foi de 11% a 22% e assumiu o segundo lugar,
atrás apenas de Lula. Perdeu, porém, o posto. Ciro Gomes, à época no
PPS, começou o ano em quarto, com menos de 10%, e suplantou seus
competidores mais próximos em julho. Chegou em 30%, a encostar em Lula,
para terminar aniquilado por Serra.
Todos, salvo Lula, eram “desconhecidos”,
mas a cada janela de mídia partidária cresceram em saltos expressivos,
reflexo dos movimentos de um eleitorado que ativamente buscava opções.
Que queria conhecer os nomes de quem disputava a Presidência e se
expunha à comunicação política.
No fundamental, as regras não mudaram
desde aquele tempo e os candidatos têm hoje as mesmas oportunidades de
acesso ao eleitor (se não forem maiores). Por que Aécio Neves, Eduardo
Campos e os nanicos mal se mexem?
A imobilidade das candidaturas de
oposição pode derivar da lamentável e tola campanha de descrédito do
sistema político em curso, patrocinada pela mídia conservadora e seus
heróis, alguns encastelados no Judiciário. Pode decorrer da desconfiança
básica do eleitor popular em relação aos nomes oferecidos pela
oposição. Pode derivar de uma parte do País estar em compasso de espera,
aguardando os acontecimentos dos próximos dias, em particular a Copa do
Mundo.
A eleição deste ano é de fato estranha, a
mais parada desde o fim da ditadura. Pela lógica, esse comportamento
deve beneficiar quem representa a continuidade.
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