A tristeza com o desempenho da Seleção não deve esconder a vitória fora de campo, que mostra amadurecimento do paí
A tristeza com a Seleção não pode esconder uma vitória importante. Se a equipe ficou em quarto lugar, o país fez uma ótima Copa
Os alemães fizeram a festa no
Maracanã mas nunca é demais repetir que os brasileiros também têm o
direito de festejar a Copa de 2014.
Essa foi a originalidade desta Copa.
Na maioria dos mundiais, os
brasileiros festejavam seu futebol mas tinham pouco a celebrar sobre seu
próprio país. Consolavam-se dizendo que viviam no país do futebol.
Em 2014, vivemos a situação contrária.
O país afirmou-se com uma nação
suficientemente equipada para sediar o maior evento privado do mundo
contemporâneo, que acumula uma audiência total próxima de 30 bilhões de
espectadores somados da primeira a ultima partida.
A Copa não apenas ocorreu sem
incidentes relevantes. Marcou um mês de festa e confraternização, onde
era possível torcer e divertir-se num ambiente de conforto e segurança.
A improvisação, o
despreparo, a imprudência, a falta de educação e tantos outros traços
negativos que é costume atribuir ao caráter do brasileiro revelaram-se
simples caricatura.
A Copa foi um evento organizado
e preparado com eficiência. Mostrou que o Estado brasileiro é capaz –
quando há decisão política – de realizar um evento cuja grandeza
intimidava diversos observadores supostamente preparados e qualificados.
Também mostrou milhões de cidadãos culturalmente preparados para um acontecimento dessa natureza.
Como escreveu
Antônio Prata, na Folha: “Por muito tempo, fomos um arremedo de país com
uma seleção deslumbrante. Eu não cairia no exagero de dizer que a
equação se inverteu: estamos longe de ser um país deslumbrante
–socialmente, economicamente, eticamente–, mas o que percebi (...) foi
que, hoje, o Brasil é melhor do que a sua seleção.”
As nossas mazelas, típicas de
uma nação que está longe de ter atingido seu desenvolvimento pleno no
campo econômico e social, ficaram claras nas mortes dos trabalhadores
que deram energia e suor para levantar os estádios. A industria da
construção civil brasileira segue, cotidianamente, uma das campeãs de
acidentes de trabalho. Essa situação não se modificou – lamentavelmente.
Outro drama envolveu a remoção
de famílias que foram forçadas a deixar suas residências, para dar
passagem a obras ligadas a Copa e também a investimentos de
infraestrutura. O número de atingidos foi um pouco superior a 10% das
estimativas gigantescas divulgadas com grande alarde como parte da
propaganda anti-Copa. Sob certo aspecto, o número não importa. Mesmo
lembrando que em sua maioria eram investimentos necessários, que irão
beneficiar o conjunto da sociedade, essa situação não diminui o drama
das famílias e de cada pessoa atingida, que deve ser tratado com a
atenção merecida.
O Brasil foi o
único país do mundo que assistiu não só a um tremendo esforço interno
para boicotar a Copa, mas também a profecia de que, caso ela se
realizasse, seria um fracasso inevitável. Imagine que, entre outras
coisas, se dizia que o fiasco de público seria tão grande que, a exemplo
do que ocorreu na África do Sul, era possível que os portões dos
estádios fossem abertos para evitar o vexame das arquibancadas vazias.
Nos últimos dias, houve quem tentasse assustar os brasileiros com o fantasma de uma noite de violências após a partida final.
A Copa não mostrou
um país sem problemas, portanto. Mas mostrou uma nação que não desiste
de progredir. Essa é a vitória que 200 milhões de brasileiros têm
direito a comemorar.
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