14 de julho de 2014 | 12:19 Autor: Fernando Brito
Li, hoje, na crônica de Antonio Prata, na Folha, a mais sintética conclusão sobre o pós-Copa:
“(…)o que percebi em meio à muvuca e me salvou da depressão foi que, hoje, o Brasil é melhor do que a sua seleção”.
Fiquei pensando sobre isso.
Até o mês passado, tínhamos um país caótico, no qual só se salvava a seleção de Felipão, unanimemente reconhecida como “o melhor que tínhamos” e dirigida pelo melhor organizador de grupos de nosso futebol.
O país do caos não aconteceu, ao contrário.
A melhor seleção, também, não, apesar de nosso desejo e torcida.
Os compromissos do Governo para a realização do torneio foram cobrados, questionados, atacados, duvidou-se de seu sucesso até o último instante e o último detalhe.
A mídia brasileira vibrou com o “chute no traseiro” que Jerôme Valcke, da Fifa, recomendava fosse dado no governo brasileiro, a mesma Fifa que, pelos seus “padrões” elegia Luís Felipe Scolari como o terceiro melhor técnico de seleções e anunciado até como um possível treinador do Barcelona no pós-Copa.
A Veja garantia: “Felipão, que costuma ser classificado como um conservador do futebol, promoveu sua revolução na seleção no mês de junho, injetando juventude e ousadia na equipe e fazendo apostas certeiras. Ninguém mais teme um vexame histórico em casa em 2014″.
Agora, comemoram sadicamente o “vexame histórico”.
Os “sabidos” sabiam tudo e, quando ocorre o inverso do que previam, nem sequer a dignidade de sofrer junto com o povo brasileiro conseguem ter.
Tudo, agora, é tentar tirar pelo fracasso futebolístico o que tentaram (e em parte conseguiram) pelo suposto e imaginário fracasso organizativo da Copa.
A capa de ontem de O Globo, substituindo o “não vai ter Copa” pelo “não vai ter Olimpíada”, daqui a dois anos, é a mais perfeita tradução do pensamento mesquinho dessa elite.
Louvam a Alemanha por um projeto de dez, 15 anos para reerguer seu futebol, com vários insucessos pelo caminho, mas gritam histericamente com um resultado mensal de inflação ou contra um lucro mais modesto da Petrobras no trimestre, mesmo sabendo que isso é para alcançar a fartura do pré-sal.
O Brasil não é apenas melhor do que sua seleção foi na Copa.
O Brasil fez a mais encantadora – para o mundo, embora tão sofrida para nós – Copa do Mundo da história e a fez contra sua mídia e contra a sua elite.
Recebeu gente do mundo inteiro com alegria, carinho e civilidade.
Aliás, recebeu também a derrota esportiva avassaladora com profunda tristeza, mas não com ódio.
Tirando os mal-humorados crônicos, estamos todos orgulhosos.
As minorias coxinhas, babacas, que tinham “bala” para estar no Maracanã – agora um estádio “padrão Fifa”, onde pobre não entra – soltaram seu recalque nos xingamentos grosseiros, outra vez.
Porque o campo de guerra, no futebol, é o campo, não o estádio, nem as ruas, nem a cidade, nem os países.
A Copa do Mundo é uma festa, muito mais do que uma guerra; um congraçamento, muito mais do que a disputa que se dá nos 90 minutos, ou na prorrogação, ou nos pênaltis.
Não temos a taça, não ficamos com a moça mais bonita na festa que realizamos.
E a festa, na vida humana, já disse Leonardo Boff, é o tempo mais forte da vida.
Festejamos como ninguém, com direito a um domingo em que o céu amanheceu azul e branco e que deixou a noite chegar em tons amarelos, vermelhos e negros.
E, com todas as cores do mundo, mais profundamente brasileiros
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