Exposição ‘Pérolas’ é uma das ações do movimento, que busca conscientizar sobre importância do diagnóstico precoce
Rio - Ana Marta, de 46 anos, descobriu que tinha
câncer de mama durante um exame de rotina. Foi submetida à mastectomia
para retirada do nódulo. Em casa, de frente para o espelho, quase
desabou ao se ver sem os seios. “Eram a parte do meu corpo de que eu
mais gostava”, conta a supervisora, que descobriu uma força de onde nem
sabia existir. “Minha única opção era encarar e vencer”, conta ela, que
já está há quase dois anos sem quimioterapia.
A mutilação dos
seios atinge 10 mil brasileiras todos os anos. Na luta contra o câncer
que mais mata mulheres no mundo, elas entram em depressão, perdem o
prazer, se sentem feias, rejeitadas e, muitas vezes, perdem maridos e
namorados. Para ajudá-las a resgatar sua autoestima, um grupo de voluntários convidou Ana Marta e mais sete mulheres para tirar a roupa e posar nuas em um ensaio fotográfico. Em vez de guardar as imagens em um álbum de recordação, as histórias dessas guerreiras que travam todos os dias uma batalha pela vida, mas com muita leveza e alegria, estarão estampadas, a partir do dia 1º de outubro, no subsolo do Terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, por onde circulam milhares de passageiros dos BRTs.
A exposição ‘Pérolas’, apoiada pelo consórcio que opera os corredores expressos de ônibus na cidade, é umas das ações do Outubro Rosa, um movimento surgido há 16 anos nos Estados Unidos, que busca conscientizar as mulheres sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama.
No Brasil, a incidência da doença aumenta em até 2% ao ano. Em 2003, os tumores nos seios atingiram 41 mil mulheres. Para este ano, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima 57 mil ocorrências. No Estado do Rio, são previstos 8.380 casos.
A idealizadora do projeto, Mel Masoni, acredita que a fotografia resgata a autoestima porque mexe com o emocional das pessoas. “Elas passam a se ver com o olhar do outro”, diz. A ideia é levar o projeto para todo o país. Uma das modelos, Ana Marta gostou do que viu. “Foi uma realização boa num momento tão difícil. Estava me sentindo gorda e inchada. Acho que servirá de alerta para muitas mulheres que ainda não fizeram o exame e para dar força para aquelas que já estão em tratamento”, diz Ana.
A
professora Márcia Pinto, 42, espera que a proposta incentive mulheres a
procurar uma unidade de saúde. “É uma doença que pode acontecer com
qualquer um. Foi muito difícil lidar com tantas emoções, o tratamento, a
luta pela vida, a separação”, diz ela, que hoje se sente mais forte e
mais madura. “Aprendi a conviver comigo mesma, a fazer coisas que não
fazia, a valorizar mais a vida”, conta. No estado, as mamografias são
feitas gratuitamente no Rio Imagem, no Hospital da Mulher Heloneida
Studart (São João de Meriti) e no Hospital Estadual dos Lagos
(Saquarema).
Mulheres não voltam para buscar exame
Uma
em cada três mulheres que marcam mamografia na rede estadual de saúde
não comparece no dia do exame. Outras 10% não retornam à unidade para
buscar o resultado. O alerta é do Centro de Diagnóstico por Imagem (Rio
Imagem). O Ministério da Saúde recomenda que mulheres entre 50 e 69 anos
façam uma mamografia pelo menos a cada dois anos. No Estado do Rio, a
Secretaria de Saúde ampliou a faixa etária, incentivando o exame bienal
entre 40 e 49 anos e anualmente após os 50 anos.O importante é que as mulheres conheçam o próprio corpo e façam o autoexame para perceber qualquer alteração nos seios. “Os tumores de mama detectados precocemente têm 95% de chances de cura”, afirma o chefe do Serviço de Mastologia do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Eduardo Millen.
Segundo o especialista, o álcool, o fumo, a obesidade e o sedentarismo aumentam os casos da doença. A mudança de hábitos, por sua vez, diminui a incidência. “Praticar atividade física durante 30 minutos, cinco dias na semana, reduz em duas vezes e meia o risco de desenvolver câncer de mama”, orienta Millen. Para aquelas que se submeteram à mastectomia, a maior dificuldade é fazer a reconstrução mamária.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, menos de 10% das mulheres conseguem colocar próteses de silicone. “Em regiões mais carentes de recursos, o médico acaba por priorizar a compra de medicamentos”, acredita o mastologista.
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