3.23.2018

Batalha adiada. Até o dia 4 de abril


 
O jornalista Ricardo Cappelli sugere que os ministros do STF serão assediados pela Globo — e até pela CIA — nesses próximos 12 dias que antecedem à batalha final. “Todos sabem o papel decisivo que Lula terá solto, percorrendo o país. Vocês acham que tem alguém de bobeira?”, questiona. Para o articulista, haverá muita baixaria na mídia contra os ministros nas vésperas da votação do habeas corpus do ex-presidente. “Não será fácil manter o acordo tácito para salvar a política”, avalia.

Por Ricardo Cappelli*
O resultado no STF não deixa de ser um alento para Lula. Para quem iria ser preso na próxima terça-feira, ganhar alguns dias não é qualquer coisa.
O desfecho girou em torno da posição de Rosa Weber. Com dois blocos cristalizados, a posição da gaúcha parecia ser a definidora. É difícil decifrar as posições da ministra. Indicada por Dilma, teve como assessor ninguém menos que Sérgio Moro. Vem acompanhando todas as posições dos “neopositivistas globais”. Na sessão decisiva, votou com Lula duas vezes.
É improvável que a dupla Fachin-Cármen Lúcia tenha pautado a questão sem verificar antes a posição de Rosa no mérito. Quem tem o poder de decidir o dia da batalha, só marca a data se tiver certeza da vitória.
Com o adiamento, é precipitada qualquer previsão para o julgamento final. Pelo clima no país, a definição ganhou ares de “eleição para presidência de Câmara de Vereadores do interior”.
Vocês têm ideia de como funciona a eleição para presidência de câmara de vereadores no interior? Em geral se formam dois blocos nucleados por pólos mais convictos. E tem sempre uma meiuca que fica com um pé em cada canoa.
Nos dias que antecedem a eleição, o mais comum é que os líderes proponham o isolamento coletivo num sítio ou num hotel.
É a forma de impedir que qualquer um dos vereadores, se contatado pela oposição, seduzido por uma oferta melhor ou por uma pressão incontrolável, mude de posição. Pode parecer surreal, mas é assim que acontece. Passam dias num retiro, sem telefone, isolados, num endereço não revelado e saem do refúgio num ônibus direto para votação.
O Brasil não é brinquedo. Um país cheio de riquezas naturais, com mais de duzentos milhões de habitantes, milhares de quilômetros de costa, uma biodiversidade impressionante e com grande poder de influenciar um continente. Todos sabem o papel decisivo que Lula terá solto, percorrendo o país. Vocês acham que tem alguém de bobeira?
A esta altura, enquanto ainda comemoro a passagem sofrida do meu Fluminense para final da Taça Rio, a CIA e milhões de outros interesses estão operando a todo vapor no submundo.
Os onze ministros terão suas vidas devidamente devassadas até o dia quatro. Qualquer ponto fraco encontrado será usado com requintes de crueldade. Dó? Pena? Ética? Estamos em guerra amigos. Nossos adversários não brincam em serviço.
O adiamento, pelas posições preliminares de Rosa Weber, pareceu ter sido uma vitória da Aliança do Coliseu (consórcio liderado pela Globo com setores antinacionais da burocracia estatal), mas pode ter sido uma vitória de Lula. Pra quem acha que corre o risco de perder a batalha, adiá-la para reorganizar o exército é a primeira opção.
Foi sensacional ver Gilmar Mendes defendendo Lula e provocando o PT com ironia. Um “acorda” para setores da esquerda que, completamente perdidos, ainda não entenderam que Gilmar é a ponte que resta entre o judiciário e a política. Um dos poucos com coragem para peitar a trupe de Curitiba e a Globo na mesma viagem.
Muita coisa acontecerá no subterrâneo até o dia 4 de abril, mas o resultado deixou algumas lições. A ofensiva contra Lula foi liderada pelos indicados pelo próprio e por Dilma para o STF.
Um tapa na cara de setores da esquerda que se filiam ao republicanismo asséptico, descolado da luta de classes. Discípulos do “Neo-iluminismo Barrosiano”, alguns destes estão entre nós tentando se apresentar como a renovação supostamente “moderna”.
É fácil identificá-los. São os mesmos que viraram a cara para Zé Dirceu quando o mesmo foi jogado aos Leões pela excrescência do “domínio do fato” de Joaquim Barbosa.
Ganham destaque nos jornalões atacando a Venezuela e chamando líderes chineses de déspotas, para alegria do Tio Sam. Acreditam que o Brasil começa na Vila Madalena e acaba em Estocolmo. Não podem jamais nos representar.
Teremos dias difíceis, de muita instabilidade e pressões inconfessáveis até a primeira semana de abril. Não será fácil manter o acordo tácito para salvar a política. Numa situação normal diria que o ex-presidente seria preso e não sairia da cadeia antes das eleições. É a lógica natural do Golpe.
Mas é normal um menino sair de pau de arara do interior de Pernambuco para se tornar o Presidente da República mais popular do planeta? Aguardemos os fatos, em se tratando de Lula, tudo pode acontecer.
*Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília. Foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na gestão 1997-1999.

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