3.21.2018

Faltam Déboras Seabras para muita gente no Brasil

Mara Gabrilli*
21 Março 2018 | 05h30


O Dia Internacional da Síndrome de Down (21/3) foi criado em 2011 pelas Nações Unidas para dar voz e visibilidade às pessoas que nasceram com a trissomia do cromossomo 21, e para defender o seu direito à inclusão em todas as esferas da sociedade.
A síndrome de Down é a desordem genética mais comum do mundo, que atinge 1 criança para cada 700 nascimentos, independentemente de raça, país, religião ou condição econômica da família.
Tralhamos muito no Brasil e em todo o mundo para combater todas as formas de preconceito e discriminação, e para reforçar a todo o momento que a pessoa com síndrome de Down é antes de tudo uma pessoa, um cidadão, uma criança, um jovem ou um adulto com direitos iguais, assim como cada um de nós.
E, infelizmente, neste ano nos deparamos com uma atitude extremamente preconceituosa e ultrajante vindo de uma desembargadora do Rio de Janeiro. Senti-me indignada com a desembargadora, que publicou em rede social de magistrados ofensa à potiguar Débora Seabra, que leciona há mais de 10 anos e viaja o Brasil realizando palestras sobre o combate ao preconceito, simplesmente porque ela tem, entre suas inúmeras características, a síndrome de Down.
Débora é a primeira professora com síndrome de Down do país. E esse fato, diferentemente da fala que a desembargadora praticou quase que de forma institucional, é motivo de orgulho para mim e tenho certeza que para milhões de brasileiros.
Todos sabemos que a grande força motriz para cada ser humano é ouvir “você pode”. E milhões de famílias cada vez mais acreditam no imenso potencial que seus filhos com deficiência têm e podem desenvolver. E também acreditam no imenso valor que os ambientes inclusivos têm para as crianças com e sem deficiência. Conviver com a diversidade humana amplia a nossa visão de mundo e todo mundo ganha.
A desembargadora cometeu em sua fala ao menos um crime: o de ter praticado “discriminação de pessoa em razão de sua deficiência” (artigo 88, parágrafo 2º, da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, relatada por mim na Câmara e há dois anos em vigor em todo o país.
Um dos temas sugeridos para o Dia Internacional da Síndrome de Down em 2018 é justamente a consciência de que as pessoas com a trissomia do 21 contribuem para a comunidade. E a Débora vem mostrando com sua postura que é muito maior do que o crime cometido pela magistrada.
Débora respondeu com muita dignidade às ofensas da desembargadora afirmando que é professora auxiliar e que ensina muitas coisas às crianças. A principal é que elas sejam educadas e tenham respeito com as outras pessoas. Que aceitem as diferenças de cada um e ajudem a quem precisa mais.
Depois dessa lição maravilhosa da educadora Débora Seabra, deixo registrada aqui apenas uma pergunta à desembargadora: Vossa excelência, como membro do Poder Judiciário do nosso país, cumprirá o que seu cargo lhe exige e é de sua responsabilidade? Em outras palavras: é cumpridora das Leis de nosso país e saberá fazer com que sejam cumpridas?
Por fim, concluo que com tanta oportunidade que a vida lhe concedeu para chegar a tal patamar, ainda assim lhe faltou aprender o básico: respeito às diferenças e à dignidade humana.
Faltou-lhe em sua vida uma professora como Débora Seabra.
Aliás, talvez falte uma Débora para muita gente em nosso país.
*Deputada federal, publicitária, psicóloga, foi secretária da Pessoa com Deficiência da capital paulista e vereadora por São Paulo. Em 1997, após sofrer um acidente de carro que a deixou tetraplégica, fundou uma ONG para apoiar o paradesporto, fomentar pesquisas cientificas e promover a inclusão social em comunidades carente. Único erro da Débora foi está filiada ao partido errado.

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