Pesquisa britânica afirma que o dramaturgo inglês já associava em sua obra sintomas físicos ao sofrimento mental
Mônica TarantinoA genialidade do dramaturgo e poeta inglês William Shakespeare (1564-1616) desafia os estudiosos há séculos. Personagens como o atormentado príncipe Hamlet, movido pelo desejo de vingar a morte do pai, têm sido investigados e interpretados pelas mais diversas perspectivas. Na semana passada, foi a vez de um professor de medicina britânico revisitar a obra do escritor por um prisma curioso e instigante: a forma como o autor explorou sintomas como desmaios, palidez, falta de ar e vertigens para ilustrar as aflições da mente dos seus personagens. Profundo conhecedor do universo do dramaturgo, o médico Kenneth Heaton, da Bristol University, na Inglaterra, leu e releu 42 peças do autor comparando-as a 46 textos de outros escritores do século XVI em busca de evidências de sintomas psicossomáticos. “De longe, Shakespeare é o escritor do seu tempo que mais menciona desmaios, calafrios, fadiga e outras sensações”, afirma o pesquisador.
Para exemplificar, ele cita as primeiras linhas da peça “O Mercador de Veneza”, em que o personagem Antonio relata aos amigos sua fadiga imensa e diz que não sabe por que se sente tão triste, que isso o cansa e também aos outros. O mesmo cansaço extremo é também uma característica de Hamlet. “A conexão corpo-mente em suas peças e poemas estava esquecida, mas é um aspecto de grande relevância”, disse Heaton à ISTOÉ. Ao todo, o médico contou pelo menos cinco manifestações de vertigens por personagens masculinos do dramaturgo, inseridas em peças como “Cymbeline”, “Troilus e Cressida” ou “Romeu e Julieta”. Há também 11 casos de falta de ar associados à emoção extrema. A perda temporária de sentidos como o olfato ou audição, amortecimento e calafrios são outras sensações empregadas para elevar a temperatura emocional das peças e poemas.
Para exemplificar, ele cita as primeiras linhas da peça “O Mercador de Veneza”, em que o personagem Antonio relata aos amigos sua fadiga imensa e diz que não sabe por que se sente tão triste, que isso o cansa e também aos outros. O mesmo cansaço extremo é também uma característica de Hamlet. “A conexão corpo-mente em suas peças e poemas estava esquecida, mas é um aspecto de grande relevância”, disse Heaton à ISTOÉ. Ao todo, o médico contou pelo menos cinco manifestações de vertigens por personagens masculinos do dramaturgo, inseridas em peças como “Cymbeline”, “Troilus e Cressida” ou “Romeu e Julieta”. Há também 11 casos de falta de ar associados à emoção extrema. A perda temporária de sentidos como o olfato ou audição, amortecimento e calafrios são outras sensações empregadas para elevar a temperatura emocional das peças e poemas.
LEITURA
O professor de literatura Frederico Barbosa diz que obras podem ajudar médicos
Concorda com ele a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da ISMA-Br, entidade internacional voltada para o estudo e gerenciamento do estresse. “Tenho visto casos em que o médico indica remédios contra a ansiedade para pacientes com sintomas para os quais ele não encontra causas físicas, como um cansaço extremo. O certo seria encaminhar a um psicólogo”, diz a especialista.
Ana Rossi alerta ainda para o desconhecimento que existe inclusive entre os profissionais de saúde sobre as manifestações físicas associadas a quadros emocionais. “Muitos médicos não sabem que tonturas e desmaios podem ser sintomas de uma ansiedade muito forte”, diz a psicóloga. “Escritores como Shakespeare e Machado de Assis fazem pensar na necessidade de os médicos reavaliarem a tendência à objetividade e examinar os pacientes de forma mais cuidadosa e sensível”, diz o professor de literatura Frederico Barbosa, diretor da Casa das Rosas, em São Paulo, e autor de vários livros de poemas, entre eles “Louco no Oco sem Beiras – Anatomia da Depressão” (Ateliê Ed., 2001).
A contribuição de Machado de assis
O escritor brasileiro Machado de Assis (1839-1908) está entre os grandes autores da literatura mundial. Menino pobre que vendeu balas nas ruas do Rio de Janeiro, mulato e epilético, ele muniu seus personagens de uma densidade psicológica que até hoje é motivo de estudos. No romance “Dom Casmurro”, publicado em 1900, a maneira de o narrador Bentinho interpretar os fatos guardados em sua memória, as suspeitas de traição e o ciúme doentio que nutre por Capitu revelam a percepção extrema do escritor sobre as perturbações da mente humana, antecipando transtornos que ainda viriam a ser descritos pela medicina. Outro exemplo está no final do livro, quando Bentinho questiona se na menina Capitu que ele conhecera já havia a mulher dissimulada que o teria traído, sugerindo distúrbios de personalidade e genéticos. “Em Bentinho se pode ver mecanismos de projeção que seriam identificados por Freud em seu livro “A Interpretação dos Sonhos”, publicado no mesmo ano, 1900”, diz o poeta e professor de literatura Frederico Barbosa, diretor da Casa das Rosas, em São Paulo. Mas há muitas outras situações em que Machado é precursor, como se pode ver em contos como “O Alienista” ou “O Anjo Gabriel”, no qual descreve um caso em que loucura igual acomete duas pessoas próximas, condição que a psiquiatria só reconheceria anos depois.
Ricardo
EM 03/12/2011
O mais engraçado é que a maioria dos " jovens" médicos brasileiros, não generalizando, não estão lendo, do mesmo modo como estão sem uma leitura básica, pelo menos dos chamados clássicos, a maior parte dos educandos do Ensino médio. Que sirva de incentivo ao prazer da leitura.
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