Novas pesquisas demonstram como o momento do dia pode melhorar ou agravar sintomas e ajudam a criar estratégias de tratamento mais eficazes
Mônica Tarantino
As investigações sobre as relações entre
os ritmos biológicos humanos e o agravamento ou melhora dos sintomas de
doenças estão ganhando terreno na pesquisa médica. A razão é que as
conclusões que vêm sendo obtidas – descobertas como as horas mais
propícias para haver morte súbita ou para a intensificação da dor –
começam a contribuir para o acompanhamento mais apropriado dos
pacientes, ajudando na prevenção de possíveis complicações e também no
alívio do sofrimento causado pelas enfermidades. A área da ciência
responsável pelas pesquisas é a cronobiologia, ramo que estuda o ritmo
biológico do organismo.
O agente por trás da associação entre as horas do dia e as doenças é o relógio biológico. Ele está localizado em uma estrutura do cérebro chamada hipotálamo, situada na base do crânio. Sua função é regular os processos biológicos e mudanças hormonais que ocorrem em intervalos de cerca de 24 horas. Funciona como um cronômetro. “Alterações nesse sistema podem facilitar o adoecimento”, diz o médico John Araújo, diretor do Laboratório de Neurociência e Ritmicidade Biológica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Uma das áreas nas quais há mais avanços na compreensão do vínculo relógio biológico-sintomas é a cardiologia. Recentemente, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Case Western Reserve (EUA) constataram a maior incidência de morte súbita entre duas e seis da manhã, com um outro pico ocorrendo no início da noite. Os horários coincidem com variações na presença da proteína Klf15, envolvida nos mecanismos de controle do relógio biológico e também na regulação da atividade elétrica do coração (problemas nesse circuito podem levar a batimentos cardíacos anormais). “Nosso trabalho é o primeiro a identificar um mecanismo desconhecido da instabilidade elétrica no coração e a fornecer informações sobre as variações diurnas e noturnas associadas à arritmia”, explicou à ISTOÉ o cientista Mukesh Jain, um dos autores do estudo. “Agora estamos testando compostos naturais que equilibram os níveis dessa proteína ao longo do dia”, contou o pesquisador.
O agente por trás da associação entre as horas do dia e as doenças é o relógio biológico. Ele está localizado em uma estrutura do cérebro chamada hipotálamo, situada na base do crânio. Sua função é regular os processos biológicos e mudanças hormonais que ocorrem em intervalos de cerca de 24 horas. Funciona como um cronômetro. “Alterações nesse sistema podem facilitar o adoecimento”, diz o médico John Araújo, diretor do Laboratório de Neurociência e Ritmicidade Biológica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Uma das áreas nas quais há mais avanços na compreensão do vínculo relógio biológico-sintomas é a cardiologia. Recentemente, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Case Western Reserve (EUA) constataram a maior incidência de morte súbita entre duas e seis da manhã, com um outro pico ocorrendo no início da noite. Os horários coincidem com variações na presença da proteína Klf15, envolvida nos mecanismos de controle do relógio biológico e também na regulação da atividade elétrica do coração (problemas nesse circuito podem levar a batimentos cardíacos anormais). “Nosso trabalho é o primeiro a identificar um mecanismo desconhecido da instabilidade elétrica no coração e a fornecer informações sobre as variações diurnas e noturnas associadas à arritmia”, explicou à ISTOÉ o cientista Mukesh Jain, um dos autores do estudo. “Agora estamos testando compostos naturais que equilibram os níveis dessa proteína ao longo do dia”, contou o pesquisador.
Em outro departamento do instituto, o foco é levantar informações que ajudem na prevenção e no tratamento da hipertensão. “Estamos avaliando a pressão alta e sua associação com as mudanças no organismo que ocorrem quando o corpo está se preparando para acordar”, conta o cardiologista Luiz Bortolotto, diretor da Unidade Clínica de Hipertensão e pós-doutorado em cronobiologia na França. “Uma delas é a elevação da atividade do sistema nervoso central. Uma das consequências é o aumento da contração dos vasos sanguíneos”, diz. Nas pessoas em risco, isso aumenta as chances de um ataque cardíaco. Não é à toa, portanto, que os estudos indicam que a partir das 6 até por volta das 11 horas há cerca de 40% mais chances de ocorrência de um ataque cardíaco e 49% mais de risco de acontecer um acidente vascular cerebral do que nos outros momentos do dia.
Mais uma porta aberta pela medicina é a constatação de que a hora do dia influencia na gravidade dos sintomas de infecções e no desempenho do sistema imunológico. Pesquisadores da Universidade de Yale (EUA) conseguiram mapear, em cobaias, o sobe e desce de uma substância chamada TLR9, que atua no processo de detecção de vírus e bactérias. Depois, correlacionaram essas mudanças aos momentos em que os sintomas de infecção se mostraram mais intensos. “Descobrimos que, quanto mais alta a TLR9 estiver, o que ocorre por volta das 2 horas, piores são as manifestações da infecção”, Adam Silver, autor do trabalho e cientista do Departamento de Medicina Interna, seção de doenças infecciosas. “Encontramos um link molecular direto entre os ritmos circadianos e o sistema imunológico que poderá ter implicações importantes para a prevenção e o tratamento de doenças infecciosas”, complementou o outro pesquisador, Erol Fikrig.
Um dos motivos para esse fenômeno é o fato de que, após esse horário, o corpo apresenta temperatura levemente mais quente do que pela manhã, segundo atestou um trabalho feito na Universidade de Washington (EUA). Isso ajuda a relaxar os músculos, diminuindo a tensão, e vasos sanguíneos, permitindo que substâncias fabricadas para atenuar a dor circulem com mais facilidade pelo organismo. Seria, portanto, a hora ideal para se submeter aos tratamentos contra a dor, como fisioterapia e massagem.
Nessa área, há também achados que podem ajudar na prevenção de crises. Pesquisadores da Cleveland Clinic (EUA), por exemplo, verificaram que ataques de enxaqueca são mais frequentes entre 8 e 10 horas e à noite. A informação possibilita que os pacientes se previnam melhor – nesses momentos do dia podem evitar a exposição a gatilhos tradicionais, como a ingestão de determinados alimentos ou ficar em ambientes com cheiros que despertem a dor.
Além das contribuições para mudanças como essa, de natureza comportamental, espera-se que as descobertas da cronobiologia resultem na fabricação de novos remédios, desenhados especialmente para respeitar as oscilações do relógio biológico e suas relações com a manifestação de doenças e sintomas. “A tendência é de que sejam desenvolvidos medicamentos a serem dados em diferentes momentos do dia porque isso os tornará mais eficazes”, disse à ISTOÉ Akhilesh Reddy, especialista em cronobiologia da Universidade de Cambridge.
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