Como os brasileiros gastam
O crescimento econômico muda o mapa do consumo no Brasil, faz disparar as vendas de produtos e serviços sofisticados e aumenta o apetite de todas as classes sociais para comprar mais
Amauri Segalla e Fabíola PerezCLASSE B
Boa parte do rendimento familiar é destinada à educação
(ensino superior, intercâmbio e cursos de especialização)
Há alguns dias, o Ibope Inteligência
divulgou um prognóstico espantoso a respeito da economia brasileira. As
projeções indicam que o consumo das famílias vai crescer 13,5% em 2012,
alta comparável ao desempenho de um país como a China. De acordo com o
Ibope, até o final do ano os gastos nacionais devem totalizar R$ 1,3
trilhão, valor equivalente à soma dos PIBs de Argentina e Suécia. Será o
nono avanço consecutivo desse indicador, feito notável diante das
crises financeiras que, principalmente depois de 2008, derrubaram a
Europa e os Estados Unidos. Hoje, o Brasil é campeão de vendas em
diversos setores. Em nenhum lugar do planeta o comércio de celulares e
tevês de telas finas, para usar exemplos de produtos que demandam
tecnologia de ponta, cresce tão velozmente. O País já é o quarto maior
mercado global de carros, o terceiro de cosméticos e de cerveja e lidera
com folga negócios tão diversos quanto produção de gravatas (o que é
resultado direto do aumento da oferta de cargos executivos) e
achocolatados (com mais dinheiro, a classe C fez sumir das prateleiras
chocolate em pó e em caixinha). O fenômeno, como se observa nesses
dados, é alimentado pelo enriquecimento da população. Os brasileiros não
estão apenas comprando mais. Acima de tudo, estão gastando com
qualidade. A classe média, responsável por quase 80% do consumo das
famílias, trocou carros com motor 1.0 por veículos mais potentes, o
frango por carne nobre, o óleo de soja por azeite. Claro, o Brasil não é
uma Suíça, mas está cada vez mais parecido com as nações ricas. “No
Brasil, a revolução no consumo está ocorrendo de maneira mais agressiva
do que em outros lugares”, diz Henry Manson, chefe de pesquisa da
consultoria americana Trendwatching, especializada em marcas e com
atuação em mais de 120 países.
O mapa do consumo no País é o retrato
acabado dessa transformação. Embora ainda predominem como forças
econômicas, as regiões Sul e Sudeste vêm perdendo espaço, no volume de
vendas nacionais, para os Estados do Norte e Nordeste. Em 2012, o
consumo deve crescer 6,5% no Sudeste, ou um quarto da disparada prevista
para o Norte e o Nordeste do País. A diversificação das oportunidades é
boa para as empresas, que faturam alto com os novos mercados, e para os
consumidores, que passam a ter acesso a mais bens e serviços. Esse
processo de amadurecimento da economia brasileira só foi possível graças
à combinação de três fatores: o crescimento continuado, a redução da
desigualdade e a expressiva geração de empregos. “As empresas oferecem
oportunidades com carteira assinada, o consumidor se sente mais
confiante para obter acesso ao crédito e a economia toda é favorecida”,
diz Marcelo Neri, economista e coordenador do Centro de Políticas
Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV). É fácil comprovar a mudança em
curso no País. De 2003 a 2011, a renda média do brasileiro cresceu 33%.
Nesse período, nove milhões de pessoas passaram a integrar as classes A
e B. Já a classe C, a que mais evoluiu, ganhou 40 milhões de novos
integrantes – contingente semelhante à população inteira da Espanha.
CLASSE C
O pedreiro Sadir Maximovitz, a mulher, Cleonice, e as filhas
Ana Alice e Gabriela (da esq. para a dir.): com o crédito farto,
ele comprou cinco apartamentos e eletrodomésticos modernos
São pessoas como o pedreiro Sadir
Maximovitz que impulsionam as estatísticas do consumo nacional. Aos 36
anos, ele possui cinco apartamentos em Florianópolis, onde vive
atualmente com a família. Nascido no interior do Paraná, desistiu de
trabalhar como agricultor para começar a vida do zero em Santa Catarina.
Como não tinha o segundo grau completo, voltou a estudar para conseguir
o primeiro emprego na cidade. Ingressou na área de construção e, com a
farta oferta de crédito, comprou o primeiro imóvel. O boom imobiliário
trouxe um rosário de oportunidades – e todo o dinheiro que sobrava era
investido em um novo apartamento. Hoje são cinco. As pesquisas
econômicas comprovam a importância do setor habitacional para o
crescimento do País. Os brasileiros destinam 35% de seu orçamento para a
habitação, quase o dobro do dinheiro gasto com alimentação. Mas não são
apenas os imóveis que estão no foco de interesse da família Maximovitz.
A renda familiar de R$ 3 mil permite confortos até pouco tempo atrás
inacessíveis. Ele, a mulher e as duas filhas, de 12 e 9 anos, têm
celular próprio. A cozinha foi equipada com eletrodomésticos modernos
(torradeira, máquina de café expresso) e a geladeira é nova em folha.
A notícia mais surpreendente é que a
ascensão de Maximovitz, um autêntico representante da classe C,
provavelmente não terminou. “A próxima revolução do consumo deverá
ocorrer dentro de dois ou três anos, quando a classe C ascender para a
B”, afirma Antônio Carlos Ruótulo, diretor do Ibope Inteligência. “O
processo vai levar a uma alteração muito mais intensa do que a primeira
ascensão social, que provocou a formação da nova classe média no País.” A
mobilidade social é resultado direto do aumento da renda. Portanto, diz
Ruótulo, o salto será irreversível. Projeta-se, para o futuro próximo,
uma classe A/B composta por impressionantes 30 milhões de pessoas, que
terão dinheiro suficiente para comprar carros melhores, se vestir
melhor, viajar para o Exterior, investir em produtos de alta tecnologia,
comer bem. De certa forma, isso já vem acontecendo no País, mas há na
fila uma multidão ansiosa para entrar nesse grupo de elite. Quando a
revolução enfim terminar, o Brasil vai rivalizar em condições de
igualdade com as grandes potências globais. Que empresa estrangeira não
vai querer colocar seu produto aqui? Que marcas não vão priorizar o
mercado brasileiro? Quem será maluco de ficar fora desse movimento?
CLASSE E
O condutor de mototaxi Fábio Santos com a mulher, Amara da
Silva (de verde), e os filhos Allysson e Adriene: com a ajuda
do Bolsa Família, a família consegue encher a geladeira
A maior transformação do consumo
brasileiro, porém, é a busca pela qualidade. Basta dar uma espiada nas
estatísticas para captar esse desejo. Segundo a Pesquisa de Orçamentos
Familiares, realizada pelo IBGE, entre 2003 e 2009 o consumo médio
mensal de carne de primeira aumentou 4,2% no País. Enquanto isso, o de
frango caiu 11,8%. Há casos mais emblemáticos. A compra de azeite subiu
13,8% e a de óleo de soja, recuou 45,5%. Detalhe importante: o azeite
custa, em média, o triplo de seu concorrente menos nobre. “As famílias
brasileiras deixaram de comprar apenas o básico e estão ingressando em
categorias de maior valor agregado”, diz Sussumo Honda, presidente da
Associação Brasileira de Supermercados. “Produtos como carne, verduras,
legumes e frutas começaram a fazer parte da cesta de compras das classes
mais baixas.” O executivo também cita os produtos orgânicos como
exemplo dessa mudança. Eles ainda representam pouco do faturamento do
setor, mas sua venda cresce sistematicamente mais do que a de outros
alimentos. “Os consumidores cada vez mais privilegiam itens saudáveis na
hora de comprar”, diz Honda. Isso tem um preço, em geral muito mais
alto do que alimentos que não fazem bem à saúde.
CLASSE A
O empresário e pecuarista Luís Hermano Colferai e a mulher,
Maria Izete Colferai: como a maioria dos que estão no topo
da pirâmide, ele investe em produtos financeiros e imóveis
Na área de tecnologia, o caso brasileiro
já foi chamado de “milagroso” por publicações estrangeiras
especializadas em economia. Em nenhum outro país as vendas de
smartphones são tão vertiginosas. Em 2011, cresceram 179%. Para efeito
de comparação, nos Estados Unidos a alta não chegou a dois dígitos.
Enquanto até em países como o Japão as vendas de tevês com tecnologia 3D
não deslancharam, por aqui elas já respondem por quase um quarto dos
negócios fechados. Dos 12 milhões de aparelhos comercializados por ano
no Brasil, 92% possuem telas finas (LED, LCD), que custam no mínimo o
dobro de modelos menos sofisticados. A indústria automobilística passa
pela mesma sofisticação. Em fevereiro passado, a participação de carros
com motor 1.0 no total de automóveis emplacados foi de 42,6%, o que
corresponde ao menor percentual em 17 anos. Há uma década, os veículos
populares detinham mais de 70% da preferência dos brasileiros. Agora,
eles estão sendo substituídos por modelos 1.6 e 1.8, com airbag, câmbio
automático e banco de couro.
Mimos como esse se tornaram corriqueiros
na vida de profissionais como o engenheiro civil Carlos Henrique Lellis,
50 anos. Sua família de quatro integrantes (além dele, vivem sob o
mesmo teto a mulher e os dois filhos) possui três carros, cinco tevês e
quatro computadores. Todos os anos, o grupo viaja para o Exterior (“em
2011, fizemos um cruzeiro pela Europa”, diz Lellis) e comer fora passou a
ser até mais frequente do que fazer refeições em casa. Os Lellis se
enquadram no que os especialistas chamam de classe B, mas eles também
passaram por uma transformação social graças, em boa medida, à fartura
de oportunidades da economia brasileira. Por mais de 20 anos, o
engenheiro trabalhou em um banco, mas o salário limitava suas ambições
de consumo. Em 2006, resolveu deixar o emprego para abrir um escritório
de engenharia. “Nossas condições de vida melhoraram muito depois disso”,
afirma. No mapa do consumo brasileiro, a classe B está praticamente
empatada com a classe C, respondendo por 38% das compras efetuadas no
Brasil. O interessante é que o grupo em que está o engenheiro Lellis
detém 46,6% da massa salarial do País, ante 26,9% da classe C. Uma das
possíveis conclusões: a classe B tem mais dinheiro, mas a C está mais
disposta a gastar. No alto da pirâmide, a classe A é representada pela
minoria dos domicílios no País (2,6%). Enquanto o salário dessas
famílias corresponde a 23,7% da renda nacional, apenas 16,2% dessa renda
é convertida em bens de consumo. A explicação para a existência de mais
dinheiro do que consumo é que os ricos concentram suas ambições em
investimentos monetários. Foi isso o que fez o empresário e pecuarista
Luís Hermano Colferai, 60 anos, para formar seu patrimônio. “A fórmula
do sucesso é poupar”, diz Colferai. “Gosto de comprar à vista e ao longo
dos anos desenvolvi o hábito de investir na poupança.”
CLASSE D
O salva-vidas Leandro Rodrigues (no centro), sua mãe, Neuza Silva,
o padrasto José Santana e a filha Larissa Silva: o aumento da
renda permitiu que ele comprasse alimentos de melhor qualidade
Um comentário:
Os culpados da mudança de habito são o Ex-presidente Lula e a presidenta Dilma.
Esse povo esta andando de avião, comendo em bons restaurantes, comprando automóvel e adquirindo casa própria. É o fim do mundo.
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