Coração
Pesquisa europeia mostra que consumo da substância não diminuiu número de mortes por problemas cardiovasculares
O ômega 3 é um tipo de gordura encontrada em alimentos como peixes, azeite e linhaça
(Thinkstock)
CONHEÇA A PESQUISAEnquanto alguns testes clínicos anteriores haviam mostrado que existiam relações entre o consumo de ômega 3 e a prevenção de problemas cardiovasculares, outras pesquisas refutavam esse dado. Uma das possibilidades levantadas por cientistas é que os benefícios da substância se deviam a uma capacidade de reduzir os níveis de triglicérides, prevenir arritmias sérias e diminuir a agregação plaquetária e a pressão sanguínea.
Título original: Association Between Omega-3 Fatty Acid Supplementation and Risk of Major Cardiovascular Disease Events
Onde foi divulgada: revista JAMA
Quem fez: Evangelos C. Rizos; Evangelia E. Ntzani; Eftychia Bika; Michael S. Kostapanos
Instituição: Hospital Universitário de Ioannina, na Grécia
Dados de amostragem: 68.680 pacientes analisados em 20 estudos anteriores
Resultado: Os cientistas descobriram 7.044 óbitos, 3.993 óbitos de causas cardíacas, 1.150 mortes repentinas, 1.837 ataques cardíacos e 1.490 derrames. No entanto, não encontraram nenhuma relação entre essas ocorrências e o consumo de ômega 3.
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Buscando dados mais precisos, os cientistas do Hospital Universitário de Ioannina, na Grécia, examinaram 20 estudos que haviam analisado um total de 68.680 pacientes aleatórios que consumiam a substância. Nesse universo de pacientes foram contabilizadas 7.044 mortes por todas as causas, 3.993 óbitos por causas cardíacas, 1.150 mortes repentinas, 1.837 ataques cardíacos e 1.490 derrames.
Uma análise destes números não indicou qualquer associação estatisticamente significativa entre o consumo de ômega 3 e a redução de óbitos ou doenças do coração. "Nossas descobertas não justificam o uso de ômega 3 como uma intervenção estruturada na prática clínica cotidiana e nem indicam uma dieta rica em ômega 3", diz o estudo. É bom lembrar, no entanto, que a substância já demonstrou proteger contra o envelhecimento cerebral.
Opinião do especialista
Carlos Costa MagalhãesCardiologista, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo
“O estudo é baseado na central de registro Cochrane, que reúne pesquisas da área de saúde. É um estudo de muita robustez científica, com uma base muito grande de dados. Os pesquisadores se propuseram a avaliar se o ômega 3 tinha benefícios na redução do número de mortes por conta de problemas do coração. E o resultado foi que seu uso não resultou em queda na mortalidade cardiovascular.
“O resultado não é tão surpreendente. O ômega 3 ainda não tinha seus efeitos comprovados, e não era parte importante de nosso arsenal terapêutico. Ele não fazia parte da prescrição comum. Para pacientes que sofreram enfarto do miocárdio, por exemplo, nós costumamos receitar estatinas, substâncias com resultado muito mais consistente na redução de mortalidade. A pesquisa veio confirmar a interpretação que boa parte dos cardiologista tinham.
“Isso não quer dizer que o ômega 3 não tenha nenhum efeito benéfico. Quando associado a outros tratamentos, como as estatinas, ele pode ajudar a baixar os triglicérides. Precisaremos de mais estudos para analisar isso. Mas a pesquisa não impede que a substância, associada a outras terapias, possa ajudar a atingir metas no tratamento.
“O ômega 3 faz parte da cultura popular. Eu tenho pacientes que vinham ao consultório e diziam que tomavam a substância para prevenir problemas no coração. No mercado, nós encontramos ovo, margarina, bolachas com ômega 3. E a pesquisa mostrou justamente que esse tipo de consumo não previne os problemas do coração."
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