"O politicamente correto é chato"
A protagonista de "Avenida Brasil" diz que as pessoas estão se patrulhando demais, condena a busca da justiça pelas próprias mãos e afirma que acredita no Poder Judiciário
por Mariana Brugger
A protagonista de "Avenida Brasil" diz que as pessoas estão se patrulhando demais, condena a busca da justiça pelas próprias mãos e afirma que acredita no Poder Judiciário
por Mariana Brugger
FOBIA DE INTERNET
“Meu Twitter durou uma semana.
Não coloquei nada lá”
"Até durante o julgamento do mensalão falaram
da novela. O entretenimento é uma fuga,
mas os cidadãos estão interessados"
“Apesar de ser inimiga de Adriana Esteves em
"Avenida Brasil", temos de agir como uma
dupla. É como fazer um par romântico”
Fotos: Stefano Martini; Gervásio Baptista/SCO/STF; Roberto Filho/AgNews
Istoé -
Dá para comparar a atriz Débora Falabella e a personagem Nina da novela “Avenida Brasil”?
DÉBORA FALABELLA -
A Nina é uma heroína
soturna, fechada. Eu também sou quieta, reservada e muito observadora.
Isso ajuda na interpretação. Às vezes, a Nina me deixa com uma energia
pesada e tenho de conseguir afastar isso de mim. Eu trabalho diariamente
durante 12 horas e, claro, a personagem acaba fazendo parte da minha
vida.
Istoé -
Tem muita gente torcendo pela vilã Carminha, sua inimiga na trama. O que acha disso?
DÉBORA FALABELLA -
Acho sensacional. A
Carminha é uma vilã muito carismática. Às vezes as pessoas têm dó e
torcem por ela, mas ela não tem moral, maltrata a filha e engana o
marido. O que a Adriana Esteves está fazendo é antológico, uma
personagem que vai ser lembrada para sempre. Mas é engraçado: alguém faz
um papel bom e dificílimo durante uma novela inteira, e não repercute
tanto quanto se fizer, por exemplo, por apenas uma semana o papel de
vilã. As pessoas falam: nossa, como você é boa atriz! Descobri que a
vilã tem grande liberdade em cena. Fica um gostinho de quero mais.
Istoé -
A sra. está conseguindo sair nas ruas?
DÉBORA FALABELLA -
Sim, mas levo susto, às
vezes, com paparazzi. Agora já me acostumei. Em São Paulo, isso não
existe, é raro alguém te fotografar na rua. Fora as pessoas, que têm
muita vontade de chegar perto de você e falar quando é uma novela de
muita identificação popular, como “Avenida Brasil”. Mas eu tento ir aos
lugares que sempre fui. Sei que isso é passageiro, dura o tempo em que a
personagem está no ar. Depois vem a próxima novela e o foco será em
outros artistas.
Istoé -
O que é preciso para ser protagonista em horário nobre?
DÉBORA FALABELLA -
Ter muita tranquilidade. A
repercussão é grande, tem muita gente pensando em você, existe uma
responsabilidade enorme. Mas, até por ser uma atriz que mora em São
Paulo, tenho um distanciamento que talvez me deixe um pouco mais pé no
chão.
Istoé -
A vingança provoca uma catarse popular. Isso atrapalha?
DÉBORA FALABELLA -
A maior loucura de tudo é
que, talvez, a maior vingança seja a Nina seduzir os três homens da vida
da Carminha (filho, marido e amante), algo que ela fez sem pensar. Mas
eu não sou favorável a se fazer justiça com as próprias mãos. Ainda
tento acreditar na Justiça do País, apesar de me decepcionar algumas
vezes. Até fazer a novela, essa situação de vingança era distante para
mim.
Istoé -
Sua filha assiste à novela?
DÉBORA FALABELLA -
Não deixo porque ela é
muito pequena, tem apenas 3 anos, e pode até confundir as coisas ao me
ver na televisão. Mas fico surpresa porque muitas crianças me abordam,
assistem à novela, que tem cenas muito fortes. Acho que deve ser aquilo
de deixar a tevê ligada na sala, com a família reunida, e a criança
acaba assistindo. Tento resguardar a Nina ao máximo. Criança é maior do
que tudo. A gente se descobre com a maternidade, fico com minha filha o
maior tempo que posso. Preciso disso. Como também preciso ver o meu
namorado (o ator Daniel Alvim). Um grande sucesso como esse não acontece
sempre, exige dedicação. Mas ao mesmo tempo, quando chego em casa,
adquiro nova energia.
Istoé -
Qual Nina tira mais o seu sono, a que está em casa ou a da novela?
DÉBORA FALABELLA -
A minha Nina, até um tempo
atrás, tirava meu sono porque ela é muito animada. Mas a da novela
mobiliza de uma maneira diferente, é como se todo dia a gente tivesse
que fazer uma prova. Tem muita coisa para decorar, além de ter de estar
ali totalmente entregue à personagem.
Istoé -
Essa novela tem muita repercussão na internet. A sra. acompanha essa repercussão?
DÉBORA FALABELLA -
Nessa novela o público
conseguiu juntar internet e televisão. O mundo está mudando e as pessoas
estão mudando a forma de interagir. Os meios de comunicação estão
completamente diferentes. Na novela das sete (“Cheias de Charme”), por
exemplo, eles lançam clipes que vão direto para a internet. A internet
mudou a forma de você se relacionar com os meios de comunicação. Vejo
quando saem coisas engraçadas sobre a novela, algo que vale a pena. Tem
muita informação e são muitas opiniões na rede. Temos que saber filtrar.
Istoé -
Como assim?
DÉBORA FALABELLA -
A internet é uma rede de
reclamações. Você faz uma cena na novela e tem sempre alguém reclamando.
Acho que essa coisa do politicamente correto está ficando muito chata. É
estranho porque cada vez mais as pessoas têm liberdade, mas o tal do
politicamente correto faz com que elas se contenham. O politicamente
correto é chato.
Istoé -
A sra. não faria como a Luana Piovani, sua companheira no seriado “A Mulher Invisível”, que expõe suas opiniões no Twitter?
DÉBORA FALABELLA -
Ela gosta de se manifestar e
acho louvável. Ela encontrou um veículo para falar o que pensa e,
quando isso é verdadeiro, eu entendo. Mas na internet muita gente fala e
não coloca nem o rosto nem o nome. É muito fácil se esconder e
criticar. Meu Twitter durou uma semana. Não consegui colocar nada da
minha vida lá. Tem gente que usa de uma forma muito legal, mas o que eu
tenho para falar, falo no meu trabalho. Tanto que até dar entrevista me é
difícil. As minhas opiniões eu guardo para mim.
Istoé -
A sra. faz ou faria campanha para algum político?
DÉBORA FALABELLA -
Acho que temos de tomar
cuidado porque tudo muda muito e, querendo ou não, a gente acaba virando
bode expiatório das coisas. Vou tentar me resguardar cada vez mais.
Quando é uma causa legal, que eu acredito e conheço, eu ajudo. Já
procuro ajudar causas sociais quando produzo minhas peças.
Istoé -
A sra. acha que a novela acaba inflando o clima de acerto de contas proposto pelo julgamento do chamado mensalão?
DÉBORA FALABELLA -
Até durante o julgamento
falaram da novela! Claro que o entretenimento é sempre uma fuga, mas os
cidadãos também estão se interessando pelo julgamento real. Na
Argentina, onde eu já morei, as pessoas são muito politizadas. Sinto
falta disso aqui. Lá, você pega um táxi e o motorista conta a história
inteira do País. Mas essa é uma questão de educação que vem com o
tempo.
Istoé -
Acha possível pai e filho amarem a mesma mulher, como está acontecendo na novela?
DÉBORA FALABELLA -
É possível sim. O caso dela
é pior porque ela ama o Tufão como um pai, vê nesse homem a
possibilidade da sua salvação. Quando ela vê que a felicidade desse
homem está atrelada ao amor dela, que ainda gosta do filho, a história
se torna mais trágica ainda. Talvez a maior dor da novela seja o momento
em que a Nina descobre isso. Acho que as pessoas vão ficar com pena do
Tufão porque o Murilo Benício tem feito as cenas de uma forma muito
cativante. Não tenho a menor ideia de como eu reagiria no lugar dela.
Acho que ficaria impactada.
Istoé -
Como é sua relação com a Adriana Esteves, a Carminha?
DÉBORA FALABELLA -
Apesar de sermos inimigas
na trama, temos de agir como uma dupla. É como fazer par romântico. Tem
de haver uma química, uma energia, e desde o início tivemos isso. Nós
nos tornamos muito amigas. Você gosta tanto da pessoa que tem uma
grande liberdade com ela. Pode, somente na novela, é claro, te odiar,
cuspir, bater, que não tem problema, estamos entregues uma para a outra.
Nina e Carminha precisam ter uma ligação até porque, na história, elas
são muito parecidas.
Istoé -
A sra. teme o processo de envelhecimento?
DÉBORA FALABELLA -
Quero envelhecer bem e não
tenho medo. Tenho sorte porque, na minha família, todo mundo tem muita
jovialidade, parece mais novo. Quando a gente começa a envelhecer, pensa
em algumas questões, tem vaidade, mas não quero que isso seja uma
questão a mais na minha vida. Depois de ter filho a gente amadurece
muito. Como me separei muito cedo (do músico Eduardo Hipolitho, pai de
Nina), isso acabou fazendo com que eu amadurecesse mais e tivesse de dar
ainda mais conta da minha vida.
Istoé -
O que a faz perder a paciência?
DÉBORA FALABELLA -
Fico impaciente com falta
de compromisso, falta de cuidado, falta de atenção. Eu levo o trabalho
muito a sério, levo tudo a sério e a falta de compromisso e de interesse
das pessoas me tira a paciência. Pequenas injustiças também me
revoltam. Às vezes o nosso País me tira a paciência.
Istoé -
Qual final deseja para a Nina?
DÉBORA FALABELLA -
Espero que ela termine
feliz, que de uma forma ou de outra ela sinta que fez justiça. Talvez
esse amor pelo Jorginho (Cauã Reymond) consiga salvá-la de tanto ódio.
Espero que ela se realize e tenha paz, coisa que ela não consegue ter.
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