3.01.2013

Pesquisa testa derivado de cana-de-açúcar como substituto de silicone

Médico de Pernambuco avalia viabilidade do uso em próteses de seios.
Material produzido por bactérias foi aplicado em porcas para testar reação.

Priscila Miranda Do G1
Tetas de porca em testes com biopolímero (Foto: Ivo Salgado / Acervo Pessoal)Tetas de porca são marcadas para testes com biopolímero (Foto: Ivo Salgado / Acervo pessoal)
Pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) pretende usar um material feito a partir da cana-de-açúcar como substituto do silicone em próteses para cirurgias plásticas. Trata-se de um tipo de biopolímero produzido com uso de bactérias. Sua aplicação vem sendo estudada em várias áreas médicas. Na primeira fase de testes, a equipe usou o material em porcas, aplicando cerca de 5 ml em gel nas tetas dos animais.
De acordo com o cirurgião plástico Ivo Salgado, que está fazendo a pesquisa como parte de sua dissertação de mestrado, o biopolímero tem a vantagem de ser melhor aceito pelo organismo do que o silicone, material mais usado em próteses atualmente.
Equipe realizando a implantação do biopolímero nas tetas de uma porca (Foto: Ivo Salgado / Acervo Pessoal)Equipe realizando a implantação do biopolímero nas tetas
de uma porca (Foto: Ivo Salgado / Acervo pessoal)
“Quando implantamos silicone, não há problema nenhum, só que o organismo cria uma ‘defesa’, uma espécie de cápsula para se defender do material dentro da mama, e com o tempo ele precisa ser trocado. Já o comportamento do biopolímero de cana é diferente do silicone. Ele vai sendo substituído por tecidos do animal: o tecido mamário e os que estão em volta, que invadem o biopolímero. Assim, a prótese não precisa ser trocada, e pode ficar dentro do corpo até a morte”, assegura Ivo Salgado.
Nos testes feitos com três porcas, o médico injetou o biopolímero em metade das tetas de cada uma das fêmeas para observar o comportamento e a reação à aplicação, totalizando 18 aplicações. “Elas reagiram bem, os estudos mostram que é biocompatível, sem causar danos”, contou Salgado. A segunda fase da pesquisa envolve outros testes nos suínos, que serão realizados a partir do implante de próteses feitas com o material.
O cirurgião explicou ainda que o passo seguinte é dar continuidade às pesquisas na área, para que possam ser feitos testes em humanos. “A gente vai refinar o estudo para que isso possa ser usado em humanos. Faltam ainda análises da Anvisa e de outros órgãos competentes, e isso leva um certo tempo”, pontuou.
Ivo Salgado trabalha com cirurgia plástica há 30 anos em Pernambuco, e contou que a procura pelos implantes de seios cresceu muito no estado nos últimos anos, assim como aumentou o tamanho das próteses. “Antigamente todo mundo queria mamas pequenas, fazia-se muita plástica para diminuir a mama. Hoje é o contrário: todas querem mama grande. As próteses, de 100 ml, 200 ml, foram sendo substituídas pelas de 300 ml, 350 ml”, contou o médico, que calcula realizar cerca de sete implantes de silicone por mês, o que representa de 20% a 30% de todos procedimentos cirúrgicos feitos por ele mensalmente.

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