Foto: Ana Branco / O Globo
Geoffrey Siwo quer construir banco mundial de informações genéticas
Lançado no mês passado e exibido ontem no TEDGlobal, o Projeto United Genomes convoca voluntários para fazer um exame de DNA que é disponibilizado on-line. Todas as amostras são exibidas no site do programa e podem ser consultadas por universidades, laboratórios e pesquisadores interessados em produzir novos medicamentos. Siwo conversou com O GLOBO sobre a iniciativa.
De que forma o seu projeto pode ajudar no desenvolvimento da medicina?
Vamos pedir para que afro-americanos realizem testes genéticos com kits que existem no mercado, e depois disponibilizem o resultado em nosso site. São exames práticos, que podem ser feitos em casa. Com estes exames, conseguiremos uma grande fonte de informação de genes. São eles que mostram a que doenças estamos vulneráveis e como vamos responder a cada medicamento.
Por que você optou por trabalhar com afro-americanos?
A África é a origem de toda a Humanidade e seus povos têm uma maior diversidade genética muito maior do que a dos outros continentes. No entanto, menos de 10% de todos os dados genéticos disponíveis hoje em dia são de africanos. Trata-se de um continente com 34 países e mais de 2 mil grupos étnicos. Conseguir dados sobre todos eles é um desafio. Então, vamos começar pelos descendentes que moram nos EUA.
Quantas pessoas devem aderir ao projeto?
Acredito que, nos primeiros meses, cerca de mil pessoas vão postar o resultado de seus testes, mas logo dezenas de milhares participarão. Quanto mais colaboradores, mais informações genéticas teremos. É uma contribuição valiosa, considerando um continente tão diverso.
Qual é o papel da indústria farmacêutica neste novo sistema?
Conhecemos mais de 10 mil doenças, e há outras que nunca foram descritas. Hoje, a indústria farmacêutica não tem o pessoal e o material necessários para combater em todas estas frentes. Então, elas dedicam-se a certas terapias, aquelas que, em sua opinião, seriam mais lucrativas. Mas ainda assim é uma tarefa difícil. Cerca de 90% dos testes são reprovados antes de chegarem ao mercado. Durante seu desenvolvimento, uma série de efeitos colaterais precisa ser eliminada. No entanto, se eles tiverem acesso a esse grande banco de dados, será mais fácil, rápido e barato criar uma terapia que não seja problemática. E o custo passado ao consumidor também pode ser menor.
Então, se todos estudam a mesma fonte, não haveria o monopólio do conhecimento.
Exatamente. Não nos importamos quem estudará este material on-line. Pode ser uma empresa, uma universidade, um pesquisador. Certamente é melhor do que trancar tudo em um laboratório, porque ninguém tem todas as soluções. Se todos tiverem o mesmo material à disposição, minimizamos o risco de uma nova droga fracassar.
Que doença seria o principal alvo do novo projeto?
Existem diversas doenças que são negligenciadas pelos laboratórios, porque ocorrem nos países em desenvolvimento, e que, por isso, as indústrias acreditam que o mercado é menor. E isso não é verdade. A cada ano, 250 milhões de africanos são contaminados pela malária, e 600 mil são mortos. Mas acredito que o maior alvo é a Aids, porque os coquetéis causam sérios efeitos colaterais, que variam individualmente. Com o nosso banco de dados, podemos ver quais características genéticas são predominantes em cada região geográfica. Isso pode nos ajudar a escolher o remédio mais adequado ao paciente. Este é o conceito da medicina personalizada.
Segundo o projeto, seria possível fazer alguma coisa contra o ebola?
A princípio, não. É uma doença praticamente desconhecida. Nosso projeto é qualificar estudantes africanos, para que consigam analisar todas as informações disponíveis. O ebola é um vírus letal, mas alguns infectados sobrevivem. Talvez o estudo do DNA dessas pessoas possa nos ajudar a criar uma vacina..
Fonte: oglobo.globo.com
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