10.08.2014

DILMA GARANTE: INFLAÇÃO SERÁ CONTROLADA

Inflação em 12 meses deve perder força até fim do ano, dizem analistas

Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 6,75%, acima do teto da meta do BC.
Se governo não mexer no preço da gasolina, altas deverão perder força.

Anay Cury Do G1, em São Paulo
Inflação em 12 meses
Variação do IPCA, em %
5,845,775,915,595,686,156,286,376,526,56,516,75Out/13Nov/13Dez/13Jan/14Fev/14Mar/14Abr/14Mai/14Jun/14Jul/14Ago/14Set/1402,557,5
Fonte: IBGE
De agosto para setembro, a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor - Amplo (IPCA) dobrou e, em 12 meses, ultrapassou o teto da meta do Banco Central, de 6,5%.
Apesar do resultado, que de acordo com o Insituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi o maior desde outubro de 2011, considerando o acumulado em 12 meses, a tendência é que haja um avanço menor de preços até o fim do ano, na avaliação de analistas.
"Em 12 meses, ultrapassou [teto da meta], mas a expectativa é que volte para 6,5% até o fim do ano. A previsão para outubro é que fique mais baixo do que em setembro, mas ainda acima da meta, já que prevemos uma taxa mensal ainda alta em outubro. São conjecturas, mas é possível que o IPCA volte para dentro do teto da meta até o fim do ano. O que mais pode impactar sobre isso é o preço da gasolina, se o governo decidir aumentar, como tem falado. Mas como é um preço administrável, não temos como saber como ficará. Mas certamente o governo não vai querer encerrar o ano com uma inflação acima de 6,5%", disse a planejadora financeira Myrian Lund.
Para o professor do departamento de economia da PUC-SP, o resultado de 6,75% neste mês "não é desesperador", ainda que esteja acima do teto da meta. Isso porque esse aumento foi influenciado pela alta expressiva da taxa mensal, reflexo do preço dos alimentos. Nos próximos meses, não deverá haver uma pressão tão grande da carne, por exemplo, considerada a vilã do IPCA de setembro.
 "O que chama atenção é esse aumento dos alimentos, foi muito elevado. Mas esse aumento tem uma característica. Você tem um aumento da carne em um mês e no mês seguinte, não. Provavalmente é entressafra. Os alimentos têm muita ligação com o clima. Estamos passando por um mês de seca. Nesse momento, essa entressafa está impactando."
A expectativa do professor é que, até o fim do ano, o índice volte para 6,5%. "Qualquer  aumento maior da gasolina vai ter reflexo só no ano que vem. A eleição não deve ter reflexo. Se tiver, a tendência é cair. Haveria algum aumento significativo se o governo mexesse em algo estrutural. Mas isso não está previsto", afirmou Galvani.
Já para o professor de economia e finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA) Alan Ghani, a inflação de setembro é preocupante, dado que só restam três meses para o final do ano e o IPCA acumulado em 12 meses já está em 6,75%.
"As medidas de núcleos, que “limpam” o IPCA tirando os choques extraordinários, mostram que a inflação gira em torno da casa de casa de 6,7%. Tais resultados evidenciam que o Brasil vive uma inflação de demanda, puxada por excesso de estímulos de crédito para fomentar o consumo diante de uma capacidade produtiva esgotada."
A expectativa dos economistas do mercado financeiro é que o IPCA fique em 6,32% em 2014, de acordo com o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central.
Carnes e passagens áreas mais caras
Depois de uma temporada de quedas, o preço dos alimentos voltou a subir e pressionou a inflação oficial do país. De agosto para setembro, o indicador acelerou de 0,25% para 0,57%.
Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 6,75%, acima do teto da meta de inflação do Banco Central, de 6,5%. Segundo o IBGE, é o maior índice acumulado nesse período desde outubro de 2011, quando atingiu 6,97%. No ano, de janeiro a setembro, o IPCA está em 4,61%.
Considerando todos os grupos de despesas cujos preços são analisados pelo IBGE, o dos alimentos tiveram a maior variação. Após caírem por três meses seguidos, eles voltaram a subir, registrando alta de 0,78%, influenciados principalmente pelas carnes. O quilo do alimento subiu 3,17% em setembro.
De acordo com a coordenadora do índice de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, os preços dos alimentos, que pararam de cair no mês passado, deixaram de contribuir para a queda do indicador.
"Em setembro os alimentos pararam de cair e não contribuíram com a taxa, já que os alimentos são considerados  a maior despesa do consumidor. Nesses últimos quatro meses o resultado ficou ao redor ou acima dos 6,5%, repetindo o que aconteceu em 2013 nos meses de fevereiro, março abril e maio", disse Eulina.
Ainda de acordo com ela, além dos alimentos, a Copa do Mundo também vinha influenciando o indicador nos meses anteriores. "Em julho os resultados foram negativos. O preço dos alimentos caiu. Esse mês [julho] concentrou também uma queda das passagens aéreas por conta da demanda baixa nos serviços de passagem de aviação em função da Copa do Mundo. Com isso, a taxa foi para quase 0. Já em agosto, apesar dos alimentos terem se mantido em queda, houve pressão da energia elétrica e dos hotéis que continuaram subindo. Esses dois meses tiveram reflexo da Copa do Mundo", disse.
Eulina explicou que a refeição fora de casa exerceu grande pressão no aumento dos alimentos: “Rio e São Paulo têm sido muito pressionados pela refeição fora de casa. Principalmente o período de Copa do Mundo propiciou o aumento nesse setor. Além disso, o desemprego está baixo, as pessoas estão comendo fora”.
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MAIORES NFLUÊNCIAS SOBRE O IPCA DE AGOSTO
Produto Alta (%)
Carne 3,17
Passagem aérea 17,85
Refeição fora de casa 1,02
Energia elétrica 1,37
Empregado doméstico 0,78
 Segundo a coordenadora, a alta de 3,17% nas carnes sofreu efeitos da seca e do comércio exterior: “os pecuaristas argumentam que os pastos ainda estão secos em função da seca do início do ano. Isso encarece a engorda do gado. Outro fator que também vem sendo atribuído é a questão da importação. O Brasil é o principal exportador de carne. A arroba do boi vem subindo desde o começo do ano”.
Apesar dessas altas, não é possível chamar a alta dos alimentos de generalizada, diz Eulina.  “Podemos dizer que grande parte dos alimentos cresceu, mas não podemos dizer que a alta foi generalizada porque houve queda no tomate, a batata inglesa que é muito importante caiu, o feijão carioca que é muito consumido caiu, o óleo, o açúcar e outros itens importantes”.
Outros grupos
Depois dos alimentos, aparece como segunda maior pressão a alta nos preços dos transportes,  de 0,63%, depois de subir quase a metade em agosto. O resultado foi impactado pelo preços das passagens áreas que, depois de uma folga pós-Copa, voltaram a subir (17,85%).
Seguiram a mesma tendência de aumento os grupos de gastos relativos a vestuário (de -0,15% para 0,57%), comunicação (de 0,10% para 0,13%) e despesas pessoais (de 0,09% para 0,39%).
Na contramão da maioria dos grupos estão os de habitação (de 0,94% para 0,77%), artigos de residência (de 0,47% para 0,34%), saúde e cuidados pessoais (de 0,41% para 0,33%) e educação (de 0,43% para 0,18%), cujos preços foram reduzidos de agosto para setembro.
Combustível mais caro em Salvador
Na análise regional, as maiores variações do IPCA partiram de Salvador (0,99%), influenciada pelo aumento de 10,22% da gasolina e de 12,12% do etanol, e de Brasília (0,98%), pressionada pelas passagens aéreas (14,38%).
Em Goiânia, foi registrado oe menor índice, de 0,16%. Ao contrário do que ocorreu em Salvador, o preço dos combustíveis caiu 7,03%.

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