por Sandro Ari Andrade de Miranda
O filósofo alemão Eric From, em sua monumental obra “O Medo à Liberdade”, buscou encontrar as razões que levaram a humanidade para a tragédia “nazista”.
Tomando por base o pensamento de Freud e da psicanálise, chegou à
conclusão que nós, membros da sociedade moderna, menosprezamos o papel
das autoridades anônimas, como a opinião pública e o senso comum.
Tais mecanismos são tão poderosos que
estruturam a nossa profunda presteza em conformar-nos com as
expectativas que todos têm a nosso respeito, e nosso temor igualmente
estranho de sermos diferentes. É por isso que as autoridades anônimas
exercem não apenas um papel de formação de consciências, mas coativa,
repressivo, limitador da nossa capacidade de oposição ao modelo social
dominante.
O nazismo de Hitler e de Goebbels se
sustentou inicialmente por uma eficiente máquina de propaganda, através
da imprensa escrita e falada, na qual incutiram na mente dos alemães que
todos aqueles que não apresentam o fenótipo ou a cultura tipificada
para um descendente dos “arianos” eram inimigos. Os arianos
constituíam-se numa construção mistificada de uma comunidade pura e mais
desenvolvida, representativa dos ideais racistas e de poder dos líderes
nazistas.
Para sustentar a sua estratégia, o nazismo
hitlerista buscava fomentar o ódio contra as diferenças, alimentar os
grupos mais frustrados com a sua própria frustração, e eleger inimigos
dentre aqueles que pudessem apresentar alguma forma de contradição, como
minorias, excluídos, e nos opositores políticos.
A “eleição de inimigos para o povo alemão”
foi um ponto central para o crescimento dos nazistas, uma desculpa para
justificar fracassos pessoais ou do comando político. Ajudou na
formação de uma autoestima frustrada, vingativa, excludente. Forjou um
subterfúgio para cobrir o fracasso da megalomania de Frederico Guilherme
na I Guerra Mundial.
Foi essa pregação de preconceitos que deu
sustentação política ao holocausto, com a condução aos campos de
concentração e às câmaras de gás de milhões de judeus, ciganos,
homossexuais, deficientes físicos, comunistas, e outras minorias.
Tais grupos eram responsabilizados pela
corrupção moral, econômica e política da Alemanha, razão pela qual
deveriam ser afastados, e assim Hitler cunhou o discurso que é utilizado
até hoje pela direita em menor ou maior grau em todos os processos
Golpistas, como nas Ditaduras instaladas no Brasil em 1964, em 1966 na
Argentina, em 1973 no Chile, e em diversos outros países da América
Latina.
Uma das justificativas para essas condutas
reside no fato de alguns discursos, como o do combate à corrupção, serem
facilmente assimiláveis no senso comum, especialmente entre os grupos
mais conservadores, reacionários e entre os frustrados. Nestes grupos já
existe um ranço contra a obrigação institucional de contribuir para o
financiamento da atividade Estatal. Em alguns casos existe também a
crença na naturalidade de determinados tipos de hierarquias sociais,
como na tradicional pregação contra os “vagabundos”.
O “vagabundo”, na visão do
conservador médio é o pobre não incorporado pelo sistema, como o sem
terra, o sem trabalho, o sem instrução, o sem habitação, em síntese, “o excluído”.
Tais pessoas não estão inseridas nas
hierarquias sociais simplesmente pela incapacidade formal do próprio
sistema para incorporá-las sem uma política de transição. Como
respostas, os grupos excluídos estabelecem estratégias de luta ou de
sobrevivência. É comum nos centros urbanos, por exemplo, a crítica
sistemática contra os cuidadores de carros ou “flanelinhas”, ou aos
catadores de materiais recicláveis.
Não raras vezes podemos verificar nos meios
de comunicação a pregação do uso da força policial para coibir a
atividade dos cuidadores de carros. Não há uma discussão concreta sobre
as causas do problema, sobre alternativas de incorporação social. É mais
fácil segregar, impor a força, usar a polícia, do que criar
alternativas concretas para resolver o problema social.
Algumas vezes surgem soluções mágicas para
resolver os problemas também baseadas em estratégias de segregação, como
a criação de albergues, fazendas ou outros mecanismos de
aprisionamento, razão pela qual tem razão Michel Foucault quando este
identifica semelhanças entre os locais utilizados para cuidar de pobres e
as penitenciárias.
A única solução que os conservadores propõem
para os pobres, portanto, é a segregação. Não por acaso algumas cidades
do interior paulista ou de Santa Catarina pagam aos migrantes o preço
das passagens forçando o seu retorno à origem. Forma-se aquilo que
Boaventura de Sousa Santos chama de “fascismo societal”, uma forma de
dominação explicita sobre o outro através da segregação.
Todas essas práticas e discursos chegam
diariamente às nossas casas de forma livre, por meio da televisão,
rádio, jornais, revistas e, de forma cada vez mais intensa, pela
internet. É a mídia, a forma mais poderosa de “autoridade anônima”,
e principal pregadora de todas as formas de discriminação, através da
criação de estereótipos, do marketing da violência, da pregação do medo
de uma revolta social.
As autoridades anônimas são
apresentadas de forma acrítica, como neutras, sem identificação de
classe, religião ou partido político. Há um padrão estético, de
entonação de voz, de uso das cores, como se a notícia não representasse
nenhuma ideologia específica, e mais, como se estivesse prestando um
serviço de utilidade pública.
Na prática, o modelo de
propaganda adotado pelos nazistas é reproduzido diariamente pelos meios
de comunicação de massa, que defendem uma ideologia específica como se
fosse algo independente ou de interesse coletivo.
Vejamos o caso da Copa de 2014 no Brasil,
quando certos setores da mídia, especialmente as Organizações Globo,
Rede Brasil Sul, Revista Veja, Grupo Folha, Estado de Minas, Correio
Brasileense, Diário de Pernambuco, Jornal do Comércio (os quatro últimos
vinculados ao mesmo grupo e próximos, inclusive do ponto de vista
familiar, de Aécio Neves), dentre outros, exerceram um verdadeiro
terrorismo contra a população pregando o insucesso do evento.
Todos os dias eram apresentados problemas
sobre a Copa do Mundo, como crise aérea, crise nos transportes, falta de
hotéis, estádios incompletos, desabastecimento, dentre outros.
Inclusive foi dada voz a notórios demagogos como Jérôme Valcke e
Ronaldo, ambos ligados ao comitê da FIFA.
Todavia o que se observou foi o contrário,
sendo a Copa brasileira foi um sucesso de organização e planejamento,
com um forte impacto positivo na economia e foi avaliada pela imprensa
internacional como o maior evento do tipo de todos os tempos. Também
deixou um legado ético, ao quebrar um esquema ilegal de venda de
ingressos operado por empresas ligadas à própria FIFA.
Outro exemplo patético da manipulação
midiática e de aberrações foi o escândalo do tomate de 2013, gerado a
partir de uma reportagem do programa Globo Rural. A tentativa de elevar o
preço do produto se aproveitando do ciclo climático foi tão absurda,
que acabou recebendo um segundo apelido: “conto do tomate”.
Muitas pessoas acreditaram no conto e correram aos supermercados para
comprar tomate. Foi um ensaio de manipulação de informações praticado
por setores econômicos para inflar o preço dos produtos.
Quem estuda o mínimo de economia sabe que
existem ciclos de variação dos produtos agrícolas dependentes do
clima. Há períodos em que o tomate é mais barato, outros em que é mais
caro. Isso é normal, é a aplicação da lei da oferta e da procura aos
períodos de produção agrícola, coisa que acontece com a cebola, a batata
e outros hortifrutigranjeiros. É tão somente em razão dos ciclos
climáticos e de produção que algumas cidades do interior possuem a festa
do morango, do arroz, da pimenta, do tomate, da cebola, dentre outros.
Não haveria razão para a realização de
eventos milenares de celebração da produção, se não tivéssemos culturas
de primavera, verão, outono e inverno.
O problema da manipulação midiática é tão
grande que pode repercutir de forma absolutamente negativa na vida das
pessoas e na economia. Muitas vezes vem combinado com a atividade do
mercado de capitais nas bolsas de valores, na medida em que não podemos
esquecer que os grupos de imprensa também aplicam no mercado financeiro e
defendem os interesses dos seus patrocinadores.
Como no relato sobre a vida de Assis
Chateaubriand, criador do conglomerado de mídia Diários Associados, onde
encontramos o famoso escândalo dos palitos de fósforos. Para aumentar o
patrocínio comercial deste segmento nos seus jornais, Chatô, como
também era conhecido o empresário, começou a publicar matérias
constantes pregando a insegurança do produto. Resultando: as empresas de
fósforos voltaram a patrociná-lo.
Portanto, mesmo que as autoridades anônimas
se apresentem como neutras, notadamente a mídia, possuem inegáveis
vinculações ideológicas e interesses próprios. São atuantes na disputa
pela hegemonia política, e não apenas pelo poder formal do Estado.
E aqui começa um ponto de corte, por que o
Partido dos Trabalhadores incomoda tanto os setores conservadores da
mídia? Qual o motivo da pregação constante de ódio contra o PT?
Muitos dos fatores podem ser
explicados nos indicadores sociais e econômicos, pois o Brasil teve nos
últimos 12 anos o maior movimento de mobilidade social da sua história,
com a migração de 49,38 milhões de pessoas para a classe média, e com a
retirada de mais de 58 milhões de pessoas do mapa da fome.
Só aqui temos a comprovação de
uma inversão de valores, que foi reforçado por ações inclusivas, como o
Programa Brasil Sem Miséria, o Bolsa Família, o PRONATEC, o PROUNI, e a
introdução de cotas nas universidades públicas.
Aliás, as cotas geraram revoltas em muitos
setores mais abastados, que não conseguiam compreender a perda de espaço
nas universidades para negros e índios de comunidade mais pobres.
Afinal, como um branco de classe média alta, que estudou nas melhores
escolas privadas, frequentou os melhores cursinhos poderia ser preterido
por um indígena? Não há argumento racional que derrube o simples e
egoístico ódio de classe.
Mas é preciso lembrar que a demonização de atores políticos não é uma novidade no Brasil. Quem leu ou ouviu falar do Lacerdismo,
movimento comandado pelo jornalista e político Carlos Lacerda, da UDN,
contra Vargas, Leonel Brizola e João Goulart, sabe do que estou falando.
Depois do fim da segunda guerra mundial o
grupo político comandado por Vargas, Brizola e João Goulart se
posicionou ao lado dos trabalhadores e de uma política de fortalecimento
da atividade industrial nacional, diminuindo a nossa dependência das
manufaturas europeias e norte-americanas.
Tal situação contrariava os interesses das
bases udenistas, formada essencialmente por grupos de interesse das
monoculturas do latifúndio. O conflito ficou mais acirrado quando Jango
assumiu a pauta das reformas de base, o que redundou na reação por meio
de golpe de estado, com a instauração da ditadura militar, tema este que
já aprofundamos em outros artigos.
Todavia, é inegável que este acirramento da
campanha de oposição conduzida pela máquina de propaganda da direita,
especialmente dos membros da Associação Brasileira de Imprensa, e da
Associação Nacional dos Jornais.
E de novo observamos a cantilena
seletiva da corrupção, como se o PSDB, o PSB e o DEM nunca tivessem seus
dirigentes citados em investigações da polícia federal, como a Caixa de
Pandora, a Operação Lava-jato, a Satiagraha, o Cartel do Metrô de São
Paulo, o esquema de venda das teles, a irrisória venda do controle
acionário da Vale do Rio Doce, e uma lista interminável de problemas.
Como já afirmei anteriormente, não foi o PT
que criou a corrupção, especialmente num país de bases tradicionalistas
como o nosso. Mas existe uma diferença em quem combate e quem joga os
problemas para debaixo do tapete. Quem defende o controle social dos
serviços públicos, através da Política Nacional de Participação Social, e
quem crítica todas as ações de controle social. E nesse ponto, as
inúmeras ações de combate à corrupção realizadas no Governo Dilma e
Lula, com a prisão de mais de 15.000 pessoas, incluído o famoso
banqueiro Daniel Dantas, é uma vantagem significativa em relação aos
governos passados.
Talvez aí já encontremos os motivos da
resistência dos meios de comunicação ao governo petista, pois
antigamente a polícia somente era utilizada para bater em pobres e em
movimentos sociais. Recentemente temos vistos inúmeros responsáveis por
crimes de colarinho branco indo para a cadeia, doa a quem doer.
Nos governos do PT foram
construídos vários instrumentos de transparência na administração
pública, com especial à Lei de Aceso à Informação assinada por Dilma
Rousseff em 18 de novembro de 2011, um pesado golpe contra o
patrimonialismo e sobre os interesses de setores da burocracia. Caso
esta transparência seja transferida para outros segmentos, como os meios
de comunicação, poderíamos ter uma revolução ética que não interessa
aos atuais detentores do poder da mídia, como demonstraremos adiante.
É importante ressaltar que pelo menos três assuntos que assustam os grupos dirigentes da mídia hegemônica:
- Uma possível Lei dos Meios, antiga reivindicação da sociedade civil que pode impor um regime de prestação de contas financeiro, especialmente das concessões de rádio e televisão, para a população;
- A Reforma Política, especialmente a implementação do financiamento público de campanha, que resultará na redução da influência das corporações econômicas nas eleições;
- A Reforma Tributária, que pode mudar o perfil de concentração de poder financeiro em determinadas regiões e, especialmente, a redução do nosso modelo tributário regressivo, baseado em tributos indiretos.
A Lei dos Meios tem uma justificativa lógica e racional que confronta os interesses da “caixa preta”
das empresas de rádio e televisão. Todas as redes são concessões
públicas, e como tal devem ser submetidas a mecanismos de controle
social, especialmente no aspecto financeiro.
Se observarmos os preços praticados em
segmentos onde existe concessão de serviços públicos, como transporte
coletivo, sempre há um conflito entre os interesses do concessionário,
que pretende tratar o serviço público como uma atividade privada, e a
sociedade, que exige transparência. O mesmo ocorre com as redes de rádio
e televisão.
A Rede Globo, por exemplo, aplicou mais de R$
1 bilhão anual apenas para a compra dos direitos do campeonato
brasileiro de futebol. Só que o volume de patrocínios é muito maior, e
sem nenhuma prestação de contas direta para população.
Mais do que isto, os serviços de
publicidade e propaganda, assim como a comercialização de obras de arte,
tem sido objeto constante de investigações por corrupção e lavagem de
dinheiro. Nada mais justo do que a população tenha acesso irrestrito à
circulação financeira das concessões de rádio e televisão. Seria um
golpe pesado sobre o patrimonialismo implantado no país durante a
ditadura militar.
Esse é um tema que não é tabu nos países do
capitalismo avançado, na medida em que a população tem acesso às
informações de empresas como a britânica BBC, a francesa Canal Plus, e a
Italiana RAI. Qual o motivo da resistência midiática no Brasil?
Há uma ampla mobilização popular comandada
pelos movimentos sociais para romper com os monopólios de mídia e com a
“caixa preta” dos financiamentos da mídia. É preciso dar voz a grupos
que não conseguem espaço e à produção cultural independente, o que
forçaria uma maior transparência nos meios de comunicação de massa.
A Reforma Política é o assunto do momento em
termos de garantia plena do direito constitucional à participação
política. O ponto que gera o maior número de conflitos é o financiamento
púbico de campanha.
Alguns afirmam que não é justificável a
aplicação de recursos públicos em campanhas eleitorais, o que é,
sinceramente, uma falácia. Todos os partidos recebem recursos do Fundo
Partidário, ou seja, recursos públicos. Além disso, as receitas privadas
que ingressam nas campanhas não se incorporam ao patrimônio de partidos
e candidatos, sendo obrigatória a prestação de contas. São receitas de
campanha, portanto, públicas.
Com o financiamento público o que acaba é o
contato direto e a influência de empresas e grupos econômicos sobre os
partidos, também garantindo maior lisura e transparência aos processos.
Afinal de contas, um empresário que tenha reais interesses no
desenvolvimento do país, e não na influência de decisões dos governos
pode perfeitamente aplicar os recursos no Fundo Partidário, sem realizar
contato direito com partidos e candidatos. Por que tamanha resistência?
O financiamento público é uma das bandeiras
do PT e do PSOL para a Reforma Política, enquanto Marina Silva e o PSDB
de Aécio demonstram um medo absurdo da sua implementação. Afinal de
contas, não podemos esquecer estreita relação de Marina e de
Aécio com o capital financeiro, onde encontramos os seus principais
financiadores.
O terceiro ponto que provoca pânico dos meios
conservadores é a Reforma Tributária. Há um mito de que o Brasil possui
uma carga tributária elevada. Isto é uma mentira deslavada. A nossa
carga tributária é média, e muito inferior à de países como Suécia,
Noruega, Finlândia, Dinamarca, França, Alemanha, Austrália e Inglaterra,
os melhores índices de desenvolvimento humano do planeta, e onde a
carga tributária gira entre 40% e 50% do PIB.
O que há, na verdade, é uma regressividade da
nossa carga tributária. Enquanto nos países citados no parágrafo
anterior há uma maior concentração na tributação do capital e do
patrimônio, no Brasil a conta é jogada sobre o consumo e o trabalho.
Apenas a França tem uma carga tributária sobre o trabalho semelhante à
brasileira, em razão do seu modelo previdenciário, mas o país europeu
prioriza a tributação do capital e do patrimônio em detrimento do
consumo.
Acreditem: até nos Estados Unidos, grande
ícone do capitalismo internacional, o maior peso da carga tributária
também está sobre o capital e o patrimônio. Al Capone foi para a cadeia
por sonegação do imposto de renda e, naquele país, existem cerca de 40
faixas de tributação do imposto de renda. No Brasil, tínhamos 3 até
2003, número de faixas que foi aumentado nos governos de Lula e Dilma.
Além disso, devemos ter muito cuidado com
cálculos realizados por entidades como o Instituto de Planejamento
Tributário, criador do impostômetro, e utilizada pelos meios
empresariais e pela grande mídia, pois a metodologia adotada pela
entidade é falha, pois realiza a dupla contagem da dívida ativa
tributária ou, numa linguagem mais simples, da parcela sonegada de
impostos que o governo arrecada através das ações de controle realizadas
pela Receita Federal, pela Polícia Federal, e pela Procuradoria da
Fazenda Nacional.
A principal bandeira do PT em
termos de Reforma Tributária é inverter a lógica dominante, a diminuir o
peso dos impostos sobre o consumo e sobre o trabalho, favorecendo assim
a classe média e os trabalhadores. Um modelo regressivo
pesa mais sobre uma pessoa com a renda menor, razão pela qual não se
justifica a manutenção do nosso modelo centrado no ICMS (imposto
estadual).
Além disso, quem paga o imposto indireto não
são os donos do capital, e sim os consumidores. É por isso que o Partido
dos Trabalhadores propõe uma Reforma Tributária que desonere o consumo e
o trabalho e que redunde na cobrança do capital e do patrimônio,
leia-se, dos grandes patrimônios.
Não há nada de comunismo, nem de
socialismo nesta proposta, pois é o modelo do capitalismo avançado, e
uma das bases do pensamento liberal na sua versão revolucionária
iluminista, adotado, inclusive, nos Estados Unidos.
Cito um exemplo. Uma pessoa que ganha salário
mínimo e compra um saco de farinha com o preço de R$ 10,00 (dez reais),
com 10% de ICMS, paga R$ 1,00 (um real de imposto). O mesmo valor é
cobrado de uma pessoa que ganha R$ 100 mil por mês, mas o peso maior é
para o mais pobre.
Em sentido contrário, com a adoção de um
sistema progressivo de tributação, podemos seguir o modelo americano,
onde há isenção para as faixas mais baixas de renda, e uma elevação das
alíquotas para as faixas de maior renda, garantiria um maior equilíbrio e
justiça fiscal. Na Alemanha, e na Inglaterra, por exemplo, o imposto de
renda chega a 50% nos extratos de maior renda.
Ainda existe uma variável importante na
discussão sobre Reforma Tributária que é a importância do ICMS para a
composição do orçamento dos Estados e, neste ponto, São Paulo tem
assumido a posição mais conservadora em relação ao resto do país.
Geraldo Alckmin (PSDB) tem se posicionado de forma contrária a qualquer
ajuste no ICMS, até porque realiza uma guerra fiscal pesada,
especialmente no mercado das empresa de atacado.
Portanto, não é estranho que os meios de
comunicação conservadores se posicionem contra o Partido dos
Trabalhadores, pois há um conflito de interesses claramente apresentado.
Para aumentar a sua base de
apoio, a mídia utiliza a mesma tática da propaganda nazista,
disseminando informações distorcidas, fomentando preconceitos, e
realizando a cobertura seletiva de fatos e eventos.
O principal alvo sem são as políticas
sociais, as comunidades mais pobres ou excluídas socialmente. Também
fomentam o preconceito contra os grupos com mobilidade territorial, como
os nordestinos.
Historicamente há uma grande migração de
nordestinos para o sudeste e o centro-oeste, especialmente em São Paulo e
na Capital Federal. Como Dilma levou uma ampla vantagem nos Estados do
Nordeste, a imprensa da direita creditou os resultados aos efeitos do
Programa Bolsa Família e de outras políticas sociais, o que é outra
absurda falácia.
Os Estados do Nordeste e o Rio Grande do Sul
são os locais com o maior crescimento da economia atualmente, graças aos
investimentos em novos modelos industriais e energéticos, como a
indústria naval e eólica. E uma situação contrária à de São Paulo que
vem passando por um grave período de estagnação econômica, especialmente
pelo uso de mecanismos ultrapassados de gestão por Geraldo Alckmin,
como a guerra fiscal.
Desde a ascensão de Mário Covas (PSDB), os
sucessivos governos tucanos de São Paulo não investiram um centavo no
sistema da Cantareira. Também foram omissos em relação às queimadas no
Estado, o que contribui para a poluição e a inversão térmica. Esse
somatório de omissões tucanas são os principais responsáveis pela crise
da água, e não as árvores da Amazônia.
Se quisermos ampliar o debate geográfica
sobre a crise hídrica de São Paulo, como já adverti anteriormente, vamos
acabar nas principais bacias de captação em Goiás, Minas Gerais, Mato
Grosso do Sul e Paraná, todos Estados administrados pelo PSDB de Alckmin
e Aécio Neves. Logo, se o Governo de Alckmin pretende dividir a
responsabilidade pela crise de abastecimento, deverá fazer isto com o
mesmo do seu próprio partido, e não buscar agentes externos.
No Rio Grande do Sul e na Bahia
há um pesado investimento do Estado no desempenho de determinados
segmentos, como a indústria da construção civil, agroindústria e na
indústria naval, a política de investimentos de São Paulo resume-se ao
interminável Rodoanel, obra que é investigada por indícios fortes de
corrupção.
Ainda com relação a São Paulo, não podemos
esquecer que o Estado é o segundo no país com maior número de
beneficiários do Programa Bolsa Família em números absolutos, o que
derruba a tese conservadora de que o voto em Dilma foi derivado
exclusivamente dos programas sociais de renda mínima.
O Programa Bolsa Família, tão
criticado pelos conservadores e oposicionistas é um sucesso de inclusão
social, exatamente porque combina a renda mínima com políticas
educacionais, como o PRONATEC, com inclusão produtiva (microcrédito,
agroindústria, PRONAF, economia solidária, dentre outros).
Desde que foi criado, até 2011,
mais de 40% dos beneficiários do Programa saíram deste para atividade
econômica formal, demonstrando a importância dos resultados desta ação
governamental não apenas para acabar com a miséria, mas para ampliar a
nossa base de consumo e fortalecer a economia formal.
Tais informações demonstram que o fomento ao ódio contra o PT não está num possível aumento da corrupção. Ao contrário, nos
12 anos de governo do Partido de Trabalhadores foram realizadas 26
vezes mais ações de combate ao crime organização e à corrupção do que em
todo o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Foram apenas 48 operações da
polícia federal na era FHC, contra 1.273 nos Governos Dilma e Lula, com
cerca de 15 mil presos. Entre os presos, encontramos a figura de Daniel
Dantas, constante nos escândalos de corrupção do PSDB, como a
privatização das teles e do caso Opportunity. Também não podemos
esquecer do esquema de Cartel no Metrô de São Paulo, estranhamento
ausente do noticiário da grande mídia, investigado pela polícia federal e
pelo CADE.
Logo, a principal fonte do ódio pregado pelos
meios de comunicação contra o Partido dos Trabalhadores é o risco da
perda de poder e de status e das efetivas transformações sociais em
curso. Assim como Hitler utilizava os judeus, ciganos e outros grupos
como alvo, a direita fez a sua velha escolha: os pobres, os nordestinos e
os beneficiários do Programa Bolsa Família. É lamentável que tais
posturas da direita ainda passem impune aos órgãos de controle,
especialmente o Ministério Público!
A prova cabal da manipulação de mídia pode
ser encontrado no sítio eletrônico do Manchetômetro, produzido pelo
Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde está claramente descortinada a
cobertura eleitoral realizada por todos os principais veículos de
comunicação da imprensa oligopolista.
.oOo.
Sandro Ari Andrade de Miranda é advogado em Brasília/DF, Mestre em Ciências Sociais.
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