9.18.2016

Engenheiros contestam o desmonte da Petrobras

247 – Em carta aberta à sociedade brasileira, a Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET) critica o projeto de privatização que vem sendo colocado em marcha por Pedro Parente e pode alienar um terço do patrimônio da estatal. Leia, abaixo, a íntegra:
Carta, à sociedade brasileira sobre a estratégia da Petrobrás
Felipe Coutinho* - setembro de 2016
* Presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET) 
A Direção da Petrobras divulgou que o Conselho de Administração apreciará o novo Plano Estratégico (PE 2017-2021) a partir de 19 de setembro.
A Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET) reitera que existem alternativas ao plano de privatização que está sendo realizado e que pode alienar cerca de um terço do patrimônio da estatal. 
A venda de ativos rentáveis compromete o fluxo de caixa futuro, entrega o mercado nacional aos competidores privados ou intermediários, fragiliza o desenvolvimento tecnológico soberano, transfere a propriedade de riquezas naturais finitas e estratégicas. A venda do petróleo do pré-sal, da infraestrutura de gasodutos, das unidades petroquímicas, dos terminais de GNL com as termelétricas associadas, da Liquigás Distribuidora de GLP e do controle da BR Distribuidora compromete o futuro da companhia. 
Em cartas à direção da Petrobras e seus conselheiros, tornadas públicas aos petroleiros e à sociedade, a nossa Associação também alerta para o risco da Petrobras cometer os mesmos erros estratégicos das multinacionais. 
As maiores multinacionais de capital privado do setor do petróleo não repõem suas reservas na taxa que são esgotadas, têm produção declinante, apresentam resultados financeiros fracos, e perderam boa parte de sua capacidade tecnológica, ao terceirizar suas atividades às empresas prestadoras de serviço. Em uma palavra, definham. Entre as principais causas, a adoção de modelo de negócios baseado em premissas falsas, com objetivo de maximizar o valor para o acionista no curto prazo, com precária visão estratégica ao não compreender o ambiente de negócios, seguindo bovina e consensualmente planos similares baseados em informações de “consultorias independentes”, ao negar restrições socioeconômicas, além de ignorar limites naturais. Caso a Petrobras adote modelo parecido terá o mesmo destino, em breve. 
A Petrobras foi vítima de um cartel de empreiteiros que através de políticos traficantes de interesses, executivos de aluguel, além dos banqueiros que lavam mais branco, formaram um grupo de bandidos que fraudou a companhia. Os recursos precisam ser recuperados e os responsáveis julgados e punidos.
A corrupção precisa ser combatida com o fortalecimento institucional da companhia e não pode ser utilizada como pretexto para a entrega do patrimônio público a outros interesses privados, desta vez o das multinacionais do petróleo, fundos de investimento, bancos credores e suas agências de avaliação de risco. 
O novo plano precisa ainda fortalecer a atuação integrada da Petrobras, desde a exploração do petróleo, à produção dos petroquímicos, dos biocombustíveis e das energias renováveis. Ampliando seu mercado através da infraestrutura logística e de distribuição. Além de fortalecer o seu Centro de Pesquisas (Cenpes), a inovação e o desenvolvimento tecnológico.
É necessário agregar valor ao petróleo cru, especialmente no atual cenário de elevação dos custos médios e mundiais da sua exploração e produção, com grande instabilidade dos preços, somadas à recessão econômica mundial, à instabilidade do sistema financeiro e às disputas monetárias entre potencias internacionais.
É preciso fortalecer a Petrobras Biocombustível reavaliando o seu modelo de negócios para que tenha acesso as matérias primas com custos mais baixos e próximos aos custos de produção. Desenvolver produtores e a cadeia de valor para atuação integrada, sem depender da aquisição das matérias primas de seus competidores ou potenciais competidores. Precisa ampliar sua área de atuação para a produção de energia elétrica de origem renovável, eólica e solar. Atuar também nas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), opções rentáveis para geração distribuída de energia.
A renda petroleira deve ser usada para levantar a infraestrutura para a produção das energias renováveis que são essenciais para o futuro.
A descoberta do pré-sal, a maior dos últimos 40 anos, e o domínio tecnológico desta região geológica de fronteira nos dá a oportunidade de construir um país justo e solidário. É preciso ter estratégia de longo prazo, produzir na medida do nosso desenvolvimento e em suporte a ele.
Nenhum país se desenvolveu exportando petróleo por multinacionais. Nenhum país, continental e populoso como o Brasil, se desenvolveu exportando petróleo cru ou matérias primas sem valor agregado, mesmo que através de companhias nacionais, estatais ou públicas.
Existe correlação entre o desenvolvimento humano e o consumo per capta de energia primária. Precisamos usar nossas riquezas nacionais para atender a tantas necessidades dos 205 milhões de brasileiros. Um povo trabalhador e honesto, mas mantido na ignorância por uma elite medíocre que insiste em nos lançar em novos ciclos do tipo colonial.
Superamos a produção de um milhão de barris por dia no pré-sal, em tempo recorde. O pré-sal é uma realidade e representa quase metade da produção nacional. A História demonstra a capacidade técnica e financeira da Petrobras e do Brasil". Competimos em mercado aberto, a Shell devolveu o campo de Libra à ANP declarando que não havia petróleo comercialmente viável. A Petrobras assumiu o campo, alcançou a camada do pré-sal e descobriu uma nova reserva gigantesca que agora segue em desenvolvimento sob o regime de partilha. Imaginem o que diriam os entreguistas de sempre, se o insucesso fosse da Petrobras.
A AEPET tem compromisso com o futuro do Brasil e por isso defende a Petrobras. É preciso que a nossa companhia seja forte, esteja a serviço da maioria e continue a demonstrar a capacidade de trabalho dos brasileiros.

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