9.23.2016

Jandira Feghali: Não há como proibir o Uber, mas não pode haver competição desleal com o táxi




A candidata do PCdoB à Prefeitura do Rio de Janeiro, a deputada Jandira Feghali, começa a série de entrevistas com pleiteantes ao cargo de prefeito ou prefeita da capital fluminense pelos próximos quatro anos. Saúde, educação, mobilidade urbana, segurança pública e legado dos Jogos Olímpicos de 2016 são os temas comentados por todos os candidatos.
Jandira Feghali é médica, tem 59 anos, filiou-se ao PCdoB no início dos anos 80. Elegeu-se deputada estadual pelo Rio de Janeiro em 1986 e está em seu sexto mandato como deputada federal. A candidata integra a coligação "Rio em Comum", composta pelo PCdoB e pelo PT, e cujo vice é o ex-vereador Edson Santos (PT), que já exerceu dois mandatos na Câmara dos Deputados e foi ex-ministro-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do governo Lula.
Confira a entrevista com a candidata Jandira Feghali:
Jornal do Brasil - Há legado dos Jogos Olímpicos para a cidade? Se sim, que tipo de benefício eles podem trazer à população? Se não, quais foram as falhas na execução da Olimpíada e na forma como esses legados foram construídos?
Jandira Feghali - O legado real não existiu. A mobilidade ainda continua péssima em pontos da Zona Oeste e Norte, a Prefeitura se virou apenas para os interesses dos empresários e esqueceu por completo o resto da cidade. A Linha 4 do metrô, por exemplo, gastou bilhões para levar de Ipanema à Barra, enquanto podia-se com a mesma verba termina a linha 2 até Santa Cruz. Os equipamentos olímpicos, que são estruturas obrigatórias, devem ser incorporadas ao uso da população, com acesso das escolas, formação de atletas e capacitação de profissionais. São da cidade e, é claro, de nosso povo.


Jandira: "A gestão do município foi sequestrada pelas empresas há muito tempo"
Jandira: "A gestão do município foi sequestrada pelas empresas há muito tempo"
Jornal do Brasil - Muito embora se argumente que hospitais estaduais foram municipalizados e que houve investimentos, a população se queixa muito da saúde na cidade. De onde vem essa percepção da população, que é a real usuária do serviço?
Jandira Feghali - Primeiro porque o Sisreg, na prática, não funciona. O Município não regula de forma eficaz as consultas e leitos, nem tem sua rede integrada em todas as unidades. Para se ter uma ideia, a Clínica da Família atende os moradores de uma rua e, dependendo de for, os moradores da rua ao lado não são atendidos. Ou seja, a percepção é clara que não funciona nada e não há gestão competente. Além de integrar o Sisreg na cidade, vamos ampliar as clínicas da família e criar o horário noturno, para fazer a Atenção Básica alcançar mais pessoas, principalmente os trabalhadores. Também vamos completar as equipes de profissionais de saúde com médicos, enfermagem, psicólogo, fisioterapeuta e pediatra, além de revisar o modelo das OS's.  
Jornal do Brasil - Diante de históricas reivindicações de professores por melhores condições de trabalho e valorização da carreira, como a senhora pretende melhorar a educação pública na capital fluminense?
Jandira Feghali - O plano de cargos e salários da Prefeitura só favorece 7% da categoria, que são 40 horas. É preciso reconhecer outras formas de contrato e rever o PCCS com a participação dos trabalhadores em educação. O plano também não valoriza a formação específica do professor, o que é errado. A gente foi beber na fonte de sabedoria de Brizola e Darcy Ribeiro, por isso queremos escola em tempo integral, com comida de qualidade, turno estendido com cultura e esporte. Dar a tranquilidade à mãe de que o filho está sendo capacitado para o futuro com um ensino moderno.
Jornal do Brasil - As propostas de mobilidade urbana sofreram muitas críticas, desde a descaracterização até a extinção de linhas que ligavam a zona norte à zona sul da cidade, no caso dos ônibus. Como se resolve essa questão?
Jandira Feghali - Quando se fala em transporte no Rio eu ressalto logo que é preciso auditar profundamente as contas da Prefeitura no que tange também as empresas de ônibus. Abrir as planilhas, expor a realidade. A gestão do município foi sequestrada pelas empresas há muito tempo, o que fez com que os interesses da população fossem escanteados. O VLT, por exemplo, já nasce saturado na Zona Oeste e obrigou o morador a pegar mais conduções para chegar até ele. Em alguns casos, anda-se muito e perde-se tempo até ir às estações do VLT. Temos que investir em trilhos e não rodas, além de integrar os modais. Uma de nossas propostas nesta área é o Passe Livre Social, que dará gratuidade aos três níveis de estudantes da rede pública, cotistas universitários, beneficiários do FIES, Prouni, cadastrados no bolsa-família, desempregados e trabalhadores informais.  
Jornal do Brasil - Há uma polêmica muito grande em torno da regularização do Uber. Alguns candidatos dizem que vão extinguir o serviço, enquanto outros sinalizam para a taxação. Há, ainda, os conflitos de taxistas com motoristas do Uber. Como resolver essa questão sem demagogias?
Jandira Feghali - No táxi, é preciso garantir a autonomia diretamente para o taxista, vedando a entrega às empresas. Sobre o Uber, regulação, cadastramento e fiscalização. Não há como proibir serviços inseridos na "economia do compartilhamento", mas não pode haver competição desleal entre as duas modalidades.
Jornal do Brasil - No primeiro debate na televisão houve divergências quanto à maneira da Prefeitura lidar com a questão da segurança pública. Ela é sobretudo de responsabilidade do Governo do Estado? Desmilitarizar, armar a Guarda Municipal ou há um meio termo para evoluir nesse tema?
Jandira Feghali - Entendo que o trabalho de garantia da ordem urbana deva ser com orientação de evitar delitos e proteção ao cidadão e cidadã. Queremos ampliar o efetivo da guarda ao invés de contratar empresas privadas de segurança. A Guarda Municipal deve funcionar como mediadora de conflitos. Queremos implementar a política de prevenção de delitos e crime contra as pessoas, principalmente próximos às escolas. Não terá armas e nem fará repressão aos camelôs, que deverão ser cadastrados, licenciados e alocados de forma organizada no espaço urbano. Deverá ser comandada por um profissional da carreira e não pela PM.

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