9.02.2010

Como se proteger do vírus HPV



O HPV, que já ocupa o primeiro lugar no ranking das doenças sexualmente transmissíveis no Brasil, fez 10 milhões de vítimas em 2008. É hora de cercar o inimigo e combatê-lo sem dó nem piedade.

Rita, historiadora de 32 anos, está solteira há quatro. Na busca por um homem para chamar de seu, saiu com Carlos, depois conheceu Flávio, pensou que ia engatar namoro com Beto... O fato é que, sim, transou algumas vezes sem proteção e, pior, passou todo esse tempo sem visitar o ginecologista. Quando finalmente marcou a consulta, teve uma surpresa assustadora: apresentava lesões causadas pelo vírus HPV do tipo agressivo - aquele que pode causar câncer de colo de útero. Resultado, está em tratamento há 18 meses. "Já me submeti a quatro cauterizações químicas e a médica recomendou ainda a raspagem da área afetada."

Katia, publicitária de 27 anos, namorava havia sete quando recebeu do ginecologista o diagnóstico de HPV. "Quase caí da cadeira. Como era possível? Fazia anos só transava com o Caio e mais ninguém!" Além de desconfiar que tinha sido traída, precisou passar por dolorosas cauterizações para dar fim às lesões que poderiam evoluir para câncer de colo de útero.

Histórias como a de Rita e Katia são cada dia mais comuns. O perigoso HPV (papiloma vírus humano) não faz distinção entre estado civil, idade e classe social - basta ter vida sexual ativa para entrar no grupo de risco. Atualmente, 80% da população mundial está exposta ao vírus a partir do momento em que começa a transar, 30% dos homens e mulheres adultos já estão contaminados e 1% terão câncer. E o panorama não fica por aí: estimativas mundiais indicam 500 mil novos casos por ano! Como o HPV consegue se disseminar tão rápido?

Imagine que Livia conhece João, abdômen de tanquinho, fôlego de gato, rosto de top model, e resolve dispensar a camisinha. Basta esse vacilo para correr o risco de fazer parte das estatísticas do vírus. E não pense que João estava escondendo a informação - ele pode ser portador sem saber. É isso mesmo: se quem vê cara não vê coração, vê muito menos atestado de saúde. O HPV, sorrateiro, pode ficar latente no organismo por até 20 anos. Não é à toa que estudos recentes da Santa Casa de São Paulo indicam que, no Brasil, 10 milhões de mulheres e 2,8 milhões de homens tenham algum tipo de HPV, que ocupa o primeiro lugar entre as DSTs. Sergio Mancini Nicolau, chefe da disciplina de oncologia ginecológica na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), vai além e alerta que estamos falando do mal viral com maior incidência em todo o mundo: 10% da população do planeta terá HPV durante sua vida sexual. Socorro!

Efeito devastador
O problema é que o vírus não causa apenas desconforto. Ismael Cotrim Guerreiro, chefe do laboratório de biologia molecular e professor de ginecologia da Unifesp, explica que existem pelo menos 100 tipos de HPV. Alguns geram verrugas (os condilomas acuminados) nos genitais, nas mãos e nos pés. Apesar da aparência nada agradável, essa é a forma menos ameaçadora e de diagnóstico mais fácil. Outros, que atendem pelos números 16, 18, 45, 31 e 33, têm forte potencial oncogênico. Além de câncer de colo de útero (são registrados, no país, aproximadamente 19 mil novos casos provocados pelo vírus por ano e 8 mil mortes, perdendo apenas para o de pele e o de mama), esses tipos também estão associados a 80% dos casos de câncer do ânus (que acabou de matar a atriz americana Farrah Fawcett, em junho) e a 65% do câncer de vagina. Em qualquer uma das situações, a contaminação está sempre associada ao contato sexual (existem evidências de contaminação até nas preliminares, pelo simples contato de pele ou com peças íntimas e objetos de alguém contaminado). O dr. Sergio Mancini Nicolau observa que o HPV em geral se manifesta na mulher por volta do quinto ano de atividade sexual, mas as lesões decorrentes passam a ser preocupantes após os 30 anos, "porque evidenciam a persistência do vírus no organismo infectado".

Como se proteger?
Diagnóstico precoce, camisinha seeempre e vacina são as armas para controlar o HPV. A receita foi indicada pelos pesquisadores e cientistas que participaram de um congresso internacional realizado recentemente em São Paulo, entre eles o alemão Harald Zur Hausen, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina em 2008. Confira as outras armas para combater esse inimigo!

Arma 1: Um novo exame, muito mais preciso
Os médicos são unânimes ao garantir que fazer exames periódicos - papanicolau - é indispensável. Além de o vírus poder ficar quietinho por anos, quem contrai o HPV não fica imune ao contágio, que pode se repetir toda vez que houver contato sexual com um parceiro contaminado. E, como o câncer de colo de útero tem evolução lenta, quanto mais cedo for tratado, maiores as chances de recuperação.

A boa notícia é que, desde 2008, 65% das pacientes com lesões provocadas pelo HPV na região cervical não precisam mais enfrentar tratamentos agressivos para prevenção contra o câncer de colo de útero. Já existe um jeito de identificar os tipos específicos causadores da doença. Entre agosto de 2008 e abril de 2009, o dr. Cotrim Guerreiro coordenou o estudo com um grupo de 340 mulheres em idade reprodutiva utilizando um novo exame de biologia molecular, o teste de E6/E7, designação das duas proteínas produzidas pelo vírus que podem alterar as estruturas das células do colo do útero. "Detectando a presença dessas proteínas, é possível conhecer o grau de agressividade do HPV e verificar com precisão o tratamento mais adequado", diz o professor. De acordo com ele, a nova técnica, disponível aqui desde o ano passado, é utilizada há pelo menos quatro anos em vários países europeus. Na Noruega, já se discute a possibilidade de adotar o teste como rastreador do câncer de colo de útero em substituição ao exame de papanicolau. "Os levantamentos indicaram que muitas mulheres não precisam mais se submeter a cauterizações químicas, térmicas e a laser, nem a tratamentos cirúrgicos, para extrair a área afetada. São terapias agressivas que por vezes levam a graves sequelas e desconforto sexual", fala o professor. Entre as consequências extremas desses tratamentos, o dr. Ismael Cotrim Guerreiro destaca a fibrose, a impossibilidade de engravidar e por vezes da manutenção da gestação por quem teve grande parte do colo do útero afetada ou removida.

Arma 2: Camisinha e vida saudável
O dr. Cotrim Guerreiro explica que, uma vez comprovado que a paciente não está infectada pelos tipos mais nocivos do vírus, o tratamento exige apenas o uso de cremes vaginais e a adoção de uma vida mais saudável e menos estressante até a remoção completa do vírus pelo organismo. Opa, quer dizer que cuidar com carinho da alimentação, dormir bem, praticar atividade física e ficar bem longe do cigarro pode mantê-la a salvo do HPV? A resposta é sim. Isso porque ele costuma vir à tona quando seu sistema imunológico está fraco. E essas atitudes servem para manter suas células de defesa sempre a pleno vapor. Além disso, lógico, fica terminantemente proibido transar sem camisinha (e isso inclui sexo oral).

Arma 3: Picada que protege
Em 2006, foi aprovada no Brasil a vacina contra o HPV. Ela é recomendada para garotas e mulheres de 9 a 26 anos que não estejam infectadas. A picada garante proteção contra os tipos de vírus responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo de útero e 90% dos casos de verrugas (condilomas) genitais. O dr. Nicolau confirma que a vacina tem melhor desempenho quando ministrada antes do início da atividade sexual, em meninas entre 11 e 13 anos de idade, mas não descarta seu uso por mulheres que já entraram em contato com o vírus. "Não existe contraindicação para quem teve ou tem infecção. Ela pode inclusive proteger contra tipos agressivos que não haviam sido contraídos", avalia. A aplicação é feita em três doses, no intervalo de dois meses e meio. Ainda não é oferecida pela rede pública de saúde e tem custo relativamente alto (em torno de 400 reais), mas quem precisou passar por tratamentos para eliminar lesões garante que vale o investimento. Assim, munida desse arsenal, você vai manter o HPV sempre bem longe da sua vida!

Fonte: Boa Forma
Revista Nova

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