Para especialistas, prevenção de enchentes deveria ser como a de vulcões e terremotos
Geólogos dizem que evitar novas tragédias passa por mudanças na ocupação urbana e por sistemas de alerta.
Diante da falta de planejamento urbano e da ocupação de encostas perigosas, a tragédia em curso na serra fluminense tende a se repetir em outras áreas, advertem especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
Sem tudo isso, outras áreas de risco em todo o país - como encostas de solo raso sobre grandes blocos rochosos, sem rede de esgoto e galerias pluviais - podem sofrer, em verões futuros, o sofrido nos últimos anos nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
"A prevenção aqui tem que ser semelhante à de terremotos no Chile e a de vulcões no Japão", opina o geólogo Marcelo Motta, professor da PUC-RJ. "É preciso que haja continuidade aos planos de mapeamento de risco, remoção das pessoas que vivem em áreas perigosas, planejamento da ocupação urbana e execução desse planejamento."
Motta, que está participando das vistorias das regiões afetadas pelas chuvas recentes na serra fluminense, diz que há populações vivendo em áreas perigosas nas áreas sul, centro e norte da região serrana do Rio.
"(Áreas montanhosas) são como uma manteiga derretida. São perigosas, mesmo com florestas. Em áreas assim, não adianta dizer 'moro aqui há 40 anos e nunca aconteceu nada'", porque o perigo existe, diz.
"A impressão é que repetimos a mesma fita (de tragédias) todos os anos", diz o geólogo Antonio Guerra, da UFRJ, que também fez estudos na serra fluminense. "Mas falta vontade política para colocar em prática os conhecimentos da academia."
Ele opina que não é necessário remover a população de todas as encostas do país. Mas, a partir do mapeamento feito nos municípios, é preciso tirar as pessoas das áreas consideradas de alto risco.
Em geral, diz Guerra, essas áreas têm "solo de pouca profundidade, em cima de blocos rochosos (que podem deslizar). E muitas dessas encostas não têm galerias pluviais e rede de esgoto". Ou seja, a água de uso humano é depositada no próprio solo, que depois fica saturado com as chuvas. Nesse cenário, o deslizamento é quase certo.
Sistemas de alerta
Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Coppe-RJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ), defende a criação de sistemas de alerta para avisar populações em áreas de enxurradas.
Ele sugere alertas sonoros, conectados por fiação própria, que avisariam os habitantes para a iminência de temporais e deslizamentos. "Isso não é feito da noite para o dia, mas tem que começar. E é preciso aliar isso à detecção de temporais, com mais radares meteorológicos", diz o diretor do Coppe, instituição que, a pedido do governo Lula, sugeriu formas de prevenção de desastres em Santa Catarina após as enchentes de 2008.
Mas o sistema de alerta, por si só, não resolveria o problema em zonas de alto risco, opina ele. "Para construções em encostas, não há alerta que resolva. Essas construções são derivadas da cultura brasileira de que 'comigo nunca vai acontecer nada'."
Antonio Guerra, que fez um projeto piloto de alerta para um bairro de Petrópolis, sob encomenda estatal, estima que alertas adaptados às necessidades de cada município custariam ao redor de R$ 1 milhão, por meio de convênios com universidades, e poderiam ser preparados em até dois anos. "É um custo muito menor do que o das verbas liberadas para o atendimento de emergência."
Mapas de risco
Apesar de alguns dos municípios serranos fluminenses terem planos de identificação de risco desde 2007, as imagens da tragédia mostravam "a ocupação humana em áreas de escoamento", diz Elson Antonio do Nascimento, professor de engenharia civil da Universidade Federal Fluminense (UFF) que trabalha com planos de áreas de risco e encostas.
"Mas não vemos mobilização estratégica, de longo prazo. Os municípios têm planos municipais, mas não os implementam. As iniciativas se diluem", opina.
Para Pinguelli Rosa, "muitas vezes os moradores não são avisados de que um plano identificou que eles estão em área de risco. É preciso fazer as informações chegarem à população".
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Eles sugerem a implementação de sistemas de alerta para a população, a desocupação de áreas arriscadas e o planejamento urbano de longo prazo. E, ainda, que as chuvas recebam do Estado brasileiro atenção semelhante à que países com atividades sísmicas e vulcânicas dispensam aos desastres naturais.Sem tudo isso, outras áreas de risco em todo o país - como encostas de solo raso sobre grandes blocos rochosos, sem rede de esgoto e galerias pluviais - podem sofrer, em verões futuros, o sofrido nos últimos anos nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
"A prevenção aqui tem que ser semelhante à de terremotos no Chile e a de vulcões no Japão", opina o geólogo Marcelo Motta, professor da PUC-RJ. "É preciso que haja continuidade aos planos de mapeamento de risco, remoção das pessoas que vivem em áreas perigosas, planejamento da ocupação urbana e execução desse planejamento."
Motta, que está participando das vistorias das regiões afetadas pelas chuvas recentes na serra fluminense, diz que há populações vivendo em áreas perigosas nas áreas sul, centro e norte da região serrana do Rio.
"(Áreas montanhosas) são como uma manteiga derretida. São perigosas, mesmo com florestas. Em áreas assim, não adianta dizer 'moro aqui há 40 anos e nunca aconteceu nada'", porque o perigo existe, diz.
"A impressão é que repetimos a mesma fita (de tragédias) todos os anos", diz o geólogo Antonio Guerra, da UFRJ, que também fez estudos na serra fluminense. "Mas falta vontade política para colocar em prática os conhecimentos da academia."
Ele opina que não é necessário remover a população de todas as encostas do país. Mas, a partir do mapeamento feito nos municípios, é preciso tirar as pessoas das áreas consideradas de alto risco.
Em geral, diz Guerra, essas áreas têm "solo de pouca profundidade, em cima de blocos rochosos (que podem deslizar). E muitas dessas encostas não têm galerias pluviais e rede de esgoto". Ou seja, a água de uso humano é depositada no próprio solo, que depois fica saturado com as chuvas. Nesse cenário, o deslizamento é quase certo.
Sistemas de alerta
Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Coppe-RJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ), defende a criação de sistemas de alerta para avisar populações em áreas de enxurradas.
Ele sugere alertas sonoros, conectados por fiação própria, que avisariam os habitantes para a iminência de temporais e deslizamentos. "Isso não é feito da noite para o dia, mas tem que começar. E é preciso aliar isso à detecção de temporais, com mais radares meteorológicos", diz o diretor do Coppe, instituição que, a pedido do governo Lula, sugeriu formas de prevenção de desastres em Santa Catarina após as enchentes de 2008.
Mas o sistema de alerta, por si só, não resolveria o problema em zonas de alto risco, opina ele. "Para construções em encostas, não há alerta que resolva. Essas construções são derivadas da cultura brasileira de que 'comigo nunca vai acontecer nada'."
Antonio Guerra, que fez um projeto piloto de alerta para um bairro de Petrópolis, sob encomenda estatal, estima que alertas adaptados às necessidades de cada município custariam ao redor de R$ 1 milhão, por meio de convênios com universidades, e poderiam ser preparados em até dois anos. "É um custo muito menor do que o das verbas liberadas para o atendimento de emergência."
Mapas de risco
Apesar de alguns dos municípios serranos fluminenses terem planos de identificação de risco desde 2007, as imagens da tragédia mostravam "a ocupação humana em áreas de escoamento", diz Elson Antonio do Nascimento, professor de engenharia civil da Universidade Federal Fluminense (UFF) que trabalha com planos de áreas de risco e encostas.
"Mas não vemos mobilização estratégica, de longo prazo. Os municípios têm planos municipais, mas não os implementam. As iniciativas se diluem", opina.
Para Pinguelli Rosa, "muitas vezes os moradores não são avisados de que um plano identificou que eles estão em área de risco. É preciso fazer as informações chegarem à população".
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