11.08.2011

Abstinência de álcool e drogas: prevenir recaída é para sempre


Especialistas dizem que o período mais crítico dura aproximadamente 90 dias


RIO - Logo após a morte de Amy Winehouse, a família apontou o fato de a cantora ter parado abruptamente de beber e usar drogas como causa de sua morte. Para eles, sem a redução gradativa do consumo, a decisão era insustentável. Por isso, ela teria sofrido uma recaída, três semanas após ficar "limpa", e não teria resistido à quantidade de álcool que ingeriu. Na semana passada, relatório da polícia de Londres mostrou que Amy morreu por excesso de álcool - e não pela tentativa de se livrar dele. E os médicos alertam que o período de abstinência é duro, mas, com orientação médica e apoio da família, fica mais fácil atravessá-lo.
- Minhas três recomendações para quem quer deixar de ser dependente, seja de álcool, cigarro ou drogas pesadas, são: procure um médico, procure um médico e procure um médico - diz Analice Gigliotti, chefe do setor de Dependência Química da Santa Casa da Misericórdia.
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Segundo a médica, a abstinência tem três fases. A primeira, de desintoxicação, dura em torno de um mês, e o paciente precisa de muita força de vontade e auxílio de medicamentos para suportar o desconforto. A segunda, da recuperação, leva em torno de dois meses, dependendo das características do paciente e da gravidade da dependência. Acompanhamento médico e o suporte da família e de amigos são importantes. Se for muito difícil resistir à droga, a internação é recomendada. A terceira etapa, conclui Analice, é a da prevenção da recaída - e dura para sempre:
- Aí, a pessoa já consegue andar sozinha. Esta fase começa a ser preparada nas anteriores, e exige mudança no estilo de vida. Se ela saía todos os dias depois do trabalho para tomar chope com os amigos e parou de beber, vai ter que se ocupar com outra coisa à noite. O que vai fazer? É preciso planejar.
Casos como o de Amy Winehouse ocorrem se o paciente não passa por todas as fases:
- O organismo fica vulnerável pelo uso da droga. Quando a pessoa para de usá-la, o cérebro, que já se adaptou àquilo, sente falta. Isso é a síndrome da abstinência. A tolerância do organismo diminui, e, se há recaída, pode ocorrer intoxicação.
A fragilidade do organismo em período de abstinência pode explicar o caso do ex-presidente Lula, que fumou por 50 anos e parou em 2010, após sofrer crise hipertensiva. Agora, com câncer de laringe, ele foi aconselhado pelos médicos, além de não fumar, a não beber mais álcool.
- O consumo de álcool e o fumo deixam o organismo vulnerável. Pode ser que o ex-presidente Lula estivesse com baixa imunidade e isto tenha favorecido o surgimento do câncer - diz Analice.

O Globo
Lilian Fernandes

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