11.12.2011

Os cuidados antes de colocar o silicone

Um check list imprescindível para quem está pensando em turbinar os seios 

O silicone caiu no gosto das brasileiras, desbancou a lipoaspiração e hoje, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), é a operação estética mais realizada no País. Em média, são 17 cirurgias do tipo feitas por hora (150 mil por ano).


Foto: Getty Images
É preciso critério na hora de escolher o cirurgião plástico e a prótese
Ainda que os números sugiram “uma linha de montagem”, os especialistas na área advertem: quem quer colocar prótese de silicone precisa passar por um pente fino de cuidados e exames antes de recorrer a este tipo de técnica.
Nesta segunda-feira, por exemplo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vetou em todo território nacional a utilização da prótese Poly – marca fabricada na França. As mulheres que foram submetidas a implantes deste produto estão sendo convocadas a fazer exames e o “recall” trouxe à tona apenas uma das preocupações que as pacientes devem ter antes de fazer este tipo de cirurgia.
“O produto utilizado tem impacto direto na qualidade da plástica”, afirma o presidente da SBCP, Sebastião Guerra. “Os preços variam muito e uma prótese de menor qualidade até pode ser mais barata, mas compromete a saúde da mulher com a possibilidade de inflamação e infecção (chamadas de mastite)”, completa o médico, reforçando que a prótese proibida “não é quase utilizada no País”.
No rol do “quanto mais barato melhor” está o perigo até da utilização de silicones industriais (vendidos em frascos para serem usados em carros) que podem provocar mutações severas nas usuárias. Na mesma zona de perigo, as pacientes podem cair nas mãos de médicos sem especialização, que operam em espaços não habilitados para a prática.
José Tariki, membro da comissão de cirurgia plástica do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) salienta que os riscos do implante de silicone são baixos e o primeiro passo importante é a escolha do médico.
Para fechar o cerco às más práticas na cirurgia plástica, o Conselho Federal de Medicina (CFM) preparou um grupo técnico para fazer uma varredura em todas as clínicas estéticas do País. Por ser muito popular, a implantação da prótese de silicone encabeça os procedimentos a serem fiscalizados. A equipe sai às ruas no próximo semestre.
Para orientar quem deseja se submeter ao procedimento o Delas ouviu cinco especialistas e elaborou uma lista com as informações sobre a cirurgia para colocação da prótese de silicone. Confira.
Lista de cuidados antes de turbinar os seios
1) A escolha do profissional
A orientação é escolher um médico com especialização em cirurgia plástica. Pesquisa do Conselho Regional de Medicina mostrou que 90% das denúncias de erro ou negligência em cirurgia plástica foram realizadas por profissionais sem o título de especialista. Outra dica é consultar pacientes que já foram operadas por esse médico.
2) O tamanho da prótese e o fator flacidez
A prótese sempre deve ser indicada pelo médico, levando em conta o tipo físico da paciente. Ainda assim, o profissional deve informar as opções de materiais para que a pessoa escolha. A prótese, quando bem escolhida, não causa flacidez futura. Mas vale salientar que com o passar do tempo a pessoa envelhece e a sustentação do seio já não é a mesma. A prótese não corrige a flacidez, ela apenas aumenta o volume do seio.
3) Desarmonia estética
A desarmonia é facilmente evitada. Depende da habilidade e do planejamento do cirurgião. Existem diversos tipos e formatos de prótese. É uma escolha do médico, que deve explicar para as pacientes qual a prótese ideal para ser implantada.
4) Dor nas costas
O aumento dos seios com a colocação do silicone, em geral, não causa dor nas costas. Uma prótese de 300ml, por exemplo, pesa 250 gramas. Para ocasionar um distúrbio postural e, consequentemente, dor nas costas, o volume utilizado precisaria ser muito grande e a paciente muito magra ou com musculatura atrofiada. Por isso, é importante sempre ouvir o médico na hora de definir o tamanho da prótese.
5) Diagnóstico de câncer de mama
A ressalva é para mulheres que têm histórico de câncer de mama na família. Elas devem informar isso ao médico e dicustir os riscos e benefício do implante. Em geral, não há problema, mas é necessário um acompanhamento mais próximo da paciente. Não há evidência de que o implante de silicone impeça o diagnóstico de câncer de mama. Até mesmo pelo exame clínico é possível notar alguma diferença na mama. No passado, os aparelhos mais antigos falhavam mais no diagnóstico. Hoje o problema foi sanado. Exames comuns, como a mamografia, são plenamente capazes de ajudar no diagnóstico mesmo em quem usa a prótese. O médico também pode utilizar o ultrassom e a ressonância magnética no diagnóstico.
6) Pós-operatório dolorido
Em geral, a paciente não sente dor após a cirurgia de implante de silicone. No entanto, a resposta do corpo depende de cada indivíduo, do tamanho da prótese e da localização do implante. Se ele for colocado atrás do músculo, é possível que a mulher sinta dor durante dois ou três dias, tolerável com o uso de analgésicos.
7) Hematomas
O aparecimento de hematomas após implante pode acontecer em casos extremos, logo após a cirurgia. Eles ocorrem quando os vasos na região operada são obstruídos e param de sangrar, formando manchas rochas na pele. Para corrigir, é preciso um novo procedimento cirúrgico, mais simples e rápido.
8) Quelóide
Nem mesmo médicos experientes conseguem prever quais mulheres irão desenvolver quelóide após a cirurgia. São aquelas cicatrizes vermelhas, mais espessas e mais frequentes na pele negra. Os médicos alertam que o quelóide é raro. Quem já teve quelóide em algum processo de cicatrização deve avaliar se vale a pena colocar o implante.
9) Estrias
O risco, é o mesmo que existe para as gestantes. Cabe ao cirurgião informar as conseqüências. A pele de algumas mulheres tem uma resistência mais baixa, que não suporta o aumento da mama. O médico precisa identificar se a paciente tem esse problema e orientá-la. Existem diversos tratamentos que ajudam aliviar as estrias, embora o resultado ainda seja inconsistente.
10) Encapsulamento
Esse problema, que acontece quando o silicone é rejeitado pelo organismo e precisa ser retirado, foi bem comum nas próteses mais antigas. Trata-se de uma defesa do organismo contra corpos estranhos. Hoje, com os novos materiais, é um tipo de reação bem mais rara, mas que ainda acontece em 4% das operações.
11) Sensibilidade
Normalmente não ocorre alteração na sensibilidade dos seios, já que a inserção da prótese não interfere na pele e nem no tecido mamário.
12) Amamentação
Não é verdade que mulheres com silicone não podem amamentar. Quando a prótese é colocada pela axila ou por baixo do seio não há nenhum impacto na produção de lactose. Porém, quando o implante é feito pela aureola há uma redução de mais de 15% da produção de leite. Por isso, a mulher que ainda quer ter filhos precisa manifestar esse interesse ao médico.
13) Troca de prótese
Pode ser em 20 ou 30 anos, em alguns casos cinco ou dez. Os médicos dizem que não há como estimar precisamente o prazo para a troca de prótese, mas é uma necessidade que uma hora surge. Por isso, é preciso o acompanhamento médico
14) Visita periódica ao médico
Toda mulher com prótese de silicone deve informar ao seu ginecologista que tem o implante. Isso faz com que nas consultas de rotina o profissional dê uma atenção especial às mamas. Outra orientação é fazer exames de ultrassom pelo menos uma vez ao ano.
Fontes consultadas: Eduardo Luiz Nigri dos Santos (presidente da regional Minas Gerais da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica); Luiz Carlos Garbossa (diretor da Sociedade Paulista de Cirurgia Plástica); Sebastião Guerra (presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica); José Tariki (membro da comissão de plástica do Conselho Regional de Medicina de São Paulo)
Chris Bertelli, Fernanda Aranda, Lívia Machado, iG São Paulo

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