11.11.2011

Gripe em debate

Em evento internacional sobre controle de influenza, pesquisadora da Fiocruz diz que Brasil ainda precisa melhorar sistema de vigilância do vírus 

RIO - Todo mundo já teve uma gripe: tosse, dor no corpo, sonolência, febre de vez em quando, aquela sensação que a gente torce para a semana acabar logo para se sentir melhor. Os antivirais fazem efeito, mas ainda levam um tempo até ficarmos completamente recuperados. A gripe, por mais banal que possa parecer, é um assunto sério e pandemias como a de H1N1 em 2009 nos lembram a importância da vigilância constante. Pesquisadores do mundo todo monitoram os vírus influenza e investem em pesquisas para evitar que novos tipos do microorganismo surjam e, como a transmissão é respiratória e muito simples, se espalhem rapidamente em escala global, configurando novos cenários de crise. Para debater essas questões, cientistas de diversos países estão reunidos desde a última terça-feira em evento no Othon Palace Hotel, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, a convite do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/ Fiocruz).
No dia de abertura, foram apresentadas diversas moléculas que estão em estudo para futuros medicamentos. Estão presentes nas discussões representantes de dez países e da Organização Mundial da Saúde (OMS), como Weng Zang, uma das coordenadoras do plano de contingenciamento de pandemias de gripe do órgão da ONU, e o virologista Charles Penn, também da OMS, principal responsável pela gestão do uso de antivirais na pandemia de influenza em 2009. A pesquisadora Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do IOC é uma das coordenadoras do evento e comandou no Brasil os esforços de diagnóstico laboratorial na pandemia de 2009, além de participar da elaboração do plano de preparação da OMS para o enfrentamento da gripe aviária. Confira a entrevista da pesquisadora da Fiocruz   sobre os desafios do controle dos vírus influenza:
Quais os desafios que se impõem aos virologistas hoje em termos de controle dos vírus influenza?
 Muitos. Os países envolvidos no controle de influenza têm que ter sistemas de vigilância muito bom, monitorando a circulação do vírus num país ou região. Nos hospitais sentinelas, é preciso fazer coleta de amostras clínicas das pessoas com infecção respiratória aguda. No Brasil, temos duas unidades de hospital sentinela por capital. É preciso também ter uma rede de laboratórios capaz de detectar mutações dos vírus. Esses dois passos são bastante importantes. Uma outra questão é a disponibilidade de vacina para vacinar a população de risco, como idosos e crianças, na época do ano mais adequada, com um ou dois meses de antecedência dos momentos que costumam ser mais críticos. A eficiência desse controle varia muito de país para país. No Brasil, a vacinação é bem estruturada. A primeira foi em 1999 e depois ela foi se aperfeiçoando. Sobre os laboratórios para detectar a mutação do vírus, temos alguns importantes, capazes. O que falta mesmo é a questão da vigilância.
Como se forma uma pandemia?
 Pode ser tanto a partir de uma mutação importante de um vírus já conhecido, como também por um novo subtipo com o qual a população não entrou em contato e não tem como se proteger. A transmissão é respiratória, se espalha rapidamente, e os vírus são levados de um lugar para outro, por avião e meios de comunicação sem que as pessoas tenham a proteção. No caso do H1N1, em 2009, a maior parte da população não tinha contato ainda com o vírus, que era um subtipo. Os países que tinham antivirais em estoque responderam com facilidade, mas quem não tinha não respondeu rapidamente.
Como foi a experiência do Brasil em 2009?
Seis meses depois, tivemos a vacina disponível aqui no Brasil. Mas aí ela já não foi tão importante, pois o pico da pandemia já tinha passado. A vacina chegou e foi importante em 2010, quando teve campanha de vacinação e diminuímos o número de contágio e mortalidade. Mas, em 2009, não tínhamos vacina no pico da pandemia e os antivirais só chegaram no meio da pandemia, o que teve um impacto negativo, pois não tivemos como oferecer meios para as pessoas se protegerem.
Como lidar com a mutação do vírus?
A única forma é a vigilância constante.
Qual a importância do evento realizado no Rio?
Temos participantes do mundo todo. A importância é que estamos num momento em que a procura por novos antivirais está na pauta de todas as instituições envolvidas no controle de influenza. Teremos uma troca de informações entre países que já têm uma rede de vigilância boa e quem ainda está em desenvolvimento. Ficaremos a par de novos medicamentos, políticas e estratégias do controle dos vírus influenza.
O Globo
Juliana Câmara (juliana.camara@oglobo.com.br)

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