6.04.2012

Brasileiros investem em fundos que rendem menos que a poupança

Mesmo com mudança nas regras, ela ainda é a melhor opção para pequenos investidores

PASCHOARELLI, DA USP: fundos com taxa de administração acima de 1,2% são menos competitivos Foto: ELIÁRIA ANDRADE / ELIÁRIA ANDRADE
PASCHOARELLI, DA USP: fundos com taxa de administração acima de 1,2% são menos competitivos ELIÁRIA ANDRADE / ELIÁRIA ANDRADE
RIO - Com o corte dos juros básicos da economia (Selic) em 0,5 ponto percentual na semana passada, para 8,5% ao ano, cerca de 1 milhão de brasileiros estão com dinheiro aplicado em fundos de investimentos que rendem menos do que a caderneta de poupança, segundo estimativa do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo. Os ganhos são menores para esses cotistas mesmo com as novas regras da poupança, anunciadas pelo governo no início de maio e que tornaram a caderneta menos rentável para evitar uma migração de investidores dos fundos. Com a Selic igual ou inferior a 8,5% ao ano, a poupança rende agora o equivalente a 70% da taxa básica mais a TR (Taxa Referencial). Isso significa, no atual patamar de juros, um retorno um pouco maior do que 0,48% ao mês.
Segundo William Eid Junior, professor da FGV, são 1,1 milhão de cotistas de fundos DI (pós-fixados) e 900 mil cotistas de fundos de renda fixa (prefixado) com ganhos abaixo da poupança, num total de 2 milhões. Como um mesmo investidor pode ser cotista de mais de um fundo, Eid Junior estima que 1 milhão pessoas estão com dinheiro aplicado em fundos menos rentáveis. O número foi levantado com base em dados da Associação Brasileira das Entidades do Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
— Para saber se você é um desses investidores com rendimento menor nos fundos de investimento, o primeiro passo é se informar sobre a taxa de administração cobrada por seu banco. Essa taxa morde parte do ganho da aplicação e faz diferença no rendimento líquido ao fim do mês — explica.
Especialista recomenda CDBs e Tesouro Direto
Segundo Rafael Paschoarelli, professor da USP e responsável pelo site comdinheiro.com.br, a taxa de administração precisa ser inferior a 1,2% ao ano para que um fundo DI seja mais rentável do que a poupança.
— O problema é que nos principais bancos privados é muito difícil achar uma taxa tão competitiva por quem tem pouco dinheiro a investir — explica o professor da USP.
Recentemente, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa e Itaú Unibanco reduziram taxas de administração para tornar seus fundos mais competitivos. Mas a maioria continua menos rentável que a caderneta (veja o quadro acima). Pelas estatísticas da indústria, é preciso, em média, mais de R$ 25 mil para conseguir um fundo com taxas inferiores a 1,2% ao ano.
Segundo Mauro Calil, gerente-geral do Instituto Nacional dos Investidores (INI), as vantagens da poupança são claras: facilidade para resgate e isenção do Imposto de Renda (IR). Ele afirma, no entanto, que existem outras opções mais rentáveis no mercado, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs) de bancos médios e o Tesouro Direto, sistema de compra e venda de títulos públicos para pessoas físicas na internet.
— Ganhar mais na poupança do que nos fundos de investimento não significa que o retorno é o melhor possível. O pequeno investidor precisa se organizar e procurar aplicações melhores — afirma Calil, autor do livro “A receita do bolo” (Editora Clube de Autores).
Mercado prevê corte da Selic em julho e agosto
O mercado prevê atualmente mais dois cortes da Selic nos próximos meses: o primeiro em 0,5 ponto percentual, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 10 e 11 de julho. E outra de 0,25 ponto em agosto, para 7,75% ao ano. Se confirmado o movimento, a poupança passará a ter um rendimento mensal de apenas 0,44%.

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