6.03.2012

Emagrecer, a prova mais difícil dos estudantes

Obesidade avança entre crianças e adolescentes brasileiros e ensinar a comer bem desafia pais, escolas e médicos Juliana Câmara
Natan Perrout, de 17 anos, e Michele dos Santos, de 16 anos: refeições mais saudáveis devido a preocupação com a saúde e a estética Foto: Marcelo Piu Natan Perrout, de 17 anos, e Michele dos Santos, de 16 anos: refeições mais saudáveis devido a preocupação com a saúde e a estética Marcelo Piu RIO - A obesidade avança como epidemia entre crianças e jovens brasileiros. Traz para a infância e a adolescência problemas antes mais frequentes na maturidade, como hipertensão e diabetes. Em 2009, ano dos dados consolidados mais recentes sobre a condição no país, 21,7% dos meninos e 19,4% das meninas dos 10 aos 19 anos tinham excesso de peso, segundo o IBGE. Percentuais elevados e que colocam o Brasil no mesmo caminho que os EUA, onde a briga contra a balança é uma realidade para a maior parte da população. Para especialistas, a solução está na educação. Crianças e jovens precisam aprender a comer os alimentos certos, na quantidade adequada. Um desafio e tanto num país em que alimentos industrializados pouco nutritivos custam menos e são mais acessíveis do que vegetais e carnes frescos. Uma das experiências em curso para ensinar crianças e jovens a comerem corretamente é o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), desenvolvido pelo Ministério da Saúde em escolas do país. Os alunos, entre 12 e 17 anos, respondem a perguntas sobre alimentação, prática de atividades físicas, consumo de álcool, tabagismo e passam por exames de sangue e verificação de pressão e circunferência da barriga. — Os dados ainda são preliminares, mas já notamos uma quantidade considerável de exames com níveis de colesterol e gordura elevados no sangue. Percebemos também o hábito de não tomar café da manhã, uma das refeições mais importantes do dia, e substituir o almoço e o jantar por lanches rápidos — conta Denise Gianinni, coordenadora do estudo no Rio. Metabolismo acelerado dita ritmo da alimentação Uma pesquisa realizada recentemente no Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ mostrou prevalência de hipertensão em meninos do Nordeste, o que pode estar associado ao maior consumo de sal na região. Além de ter mais chances de se tornarem adultos obesos, adolescentes obesos enfrentam problemas como diabetes tipo 2 (até há alguns anos uma doença exclusiva dos adultos), hipertensão, dificuldades cognitivas, articulares, asma e antecipação da puberdade. É a preocupação com a saúde, mas também com a estética, que faz os estudantes Natan Perrout, de 17 anos, e Michele dos Santos, de 16 anos, do Colégio Estadual Antônio Prado Júnior, na Tijuca, e Paula Matos, de 13 anos, e Lucas Lacerda, de 14 anos, do Colégio Notre Dame, no Recreio, a se esforçarem para ter uma alimentação saudável, associada à prática de atividades físicas: — Já tive aumento de gordura no sangue por causa do chocolate. Hoje como pouco doce e não gosto de fast-food, tenho medo de engordar — conta Paula. Enquanto as conclusões do Erica não ficam prontas, o que deve acontecer em 2013, autoridades e médicos já se movimentam. Em 2005, por exemplo, uma lei proibiu alimentos que contribuam para a obesidade nas escolas do Rio. Mas a mera proibição não resolve. — Dietas para crianças e adolescentes não podem ser muito restritivas. Eles precisam equilibrar as fontes de nutrientes — ensina Maria Cristina Kuschnir, do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente, da Uerj. Especialistas salientam que as estratégias para emagrecimento de crianças precisam ser diferentes daquelas elaboradas para adultos. Na infância e na adolescência, o corpo humano tem um metabolismo completamente distinto do da maturidade. Crianças não são pequenos adultos. E isso é uma vantagem. Se engordam com facilidade, podem perder peso também mais depressa. Isso acontece porque o metabolismo nessas primeiras fases da vida é mais acelerado. Crianças e adolescentes gastam mais energia que um adulto para desempenhar qualquer atividade porque estão em crescimento. Quando entram na puberdade — entre 9 e 12 anos para as meninas e entre 11 e 15 para os meninos —, os adolescentes ganham 25% do seu peso da vida adulta. Isso explica a comilança, pois há exigência maior de energia. Ocorre aumento dos hormônios sexuais, o que faz crescer a resistência à insulina, piorando as condições metabólicas. Por isso, é importante um especialista acompanhar o desenvolvimento.

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