Cientista político fala da crise mundial, mas descarta a possibilidade de uma Terceira Grande Guerra
Quase cinco anos após sua deflagração, a guerra na Síria ainda parece estar longe do fim. Pelo contrário, parece adquirir contornos cada vez mais drásticos. Os atentados do último dia 13 de novembro, em Paris, que deixaram 130 mortos e centenas de feridos, marcam o início de um novo capítulo nas negociações entre as potências mundiais, justamente sobre os caminhos a serem tomados daqui pra frente. O foco do Ocidente continuará sendo a derrubada do governo de Bashar al-Assad? Ou o combate ao Estado Islâmico (que reivindicou os atentados na França) será realmente a prioridade daqui para frente, como quer a Rússia?A conversa entre o presidente dos EUA, Barack Obama, e o presidente russo, Vladimir Putin, durante a reunião da cúpula do G20 no último domingo (15), na Turquia, sinaliza que ambos buscam encontrar uma solução imediata para a crise síria, em comum entendimento. Os dois líderes julgam necessário que haja uma transição política na Síria, e que ela seja precedida de negociações mediadas pela ONU, entre a oposição e o regime do país.
Já o presidente da França, François Hollande, entrou em acordo com o governo russo para que houvesse uma coordenação militar entre os dois países nos ataques aéreos ao território sob domínio do ISIS. Na última terça (17), as forças aéreas de ambas as potências já estavam bombardeando Raqqa, a chamada “capital” do grupo terrorista. É a primeira coalizão entre as duas potências desde a Segunda Guerra Mundial. O próximo passo é obter também o apoio militar norte-americano, para formar “uma grande e única coalizão”, nas palavras de Hollande. O presidente viaja a Washington no próximo dia 24 de novembro, e para Moscou no dia 26 do mesmo mês.
O JB falou com Mario Sznajder, cientista político da Universidade Hebraica de Jerusalém. Para ele, a coalizão entre Rússia e França não vai muito longe. “A aliança franco-russa é um fato. Mas não se trata de uma aliança formal, e sim de uma coordenação de atividades contra o Estado Islâmico, o inimigo comum. Não é simples, pois a França é parte da Otan e tem compromissos, como parte da União Europeia, em relação à Ucrânia, que está em conflito com a Rússia e não simpatiza em nada com Bashar al-Assad, aliado central da Rússia no Oriente Médio.”
“A intervenção militar massiva da Rússia na Síria e os atentados na França reforçaram a ideia de que o inimigo comum mais perigoso é o Estado Islâmico, e ambas as potências (França e Rússia) o estão atacando com força”, afirma o cientista político.
Para Sznajder, apesar dos recentes atentados na capital francesa terem feito do combate ao ISIS a prioridade absoluta no Oriente Médio, o presidente sírio Bashar al-Assad não está fortalecido, pois seu país se encontra em estado caótico: “Assad não se fortaleceu. Sua situação segue sendo crítica, pois a Síria está esgotada pela guerra que se prolonga há anos. O desgaste material, a quantidade de refugiados, e a divisão interna fizeram o país perder sua condição de Estado funcional. Ele (Assad) tem agora duas forças que atacam de forma feroz um de seus principais inimigos, que é o ISIS, mas não há nenhuma garantia de que ele permaneça no poder por muito tempo.“
Sznajder discorreu também a respeito do caráter da guerra ao ISIS: “Na minha opinião, mais do que uma guerra contra o Estado Islâmico, na Síria, no Iraque, no Egito, e onde mais ele está presente, o que pediria intervenções militares terrestres massivas, o que está havendo, na Europa e em todo o mundo, é uma maior coordenação de serviços de inteligência, dos estabelecimentos policiais, e estabelecimentos militares anti-terroristas. Ou seja, a ênfase, apesar dos bombardeios russos, franceses, e norte-americanos na Síria e no Iraque, segue sendo de matriz defensiva-preventiva, apesar de uma fase de repressão interna.”
Por fim, o cientista político argentino afirmou que os conflitos no Oriente Médio não desembocarão em uma terceira guerra mundial, pois são de naturezas diferentes: “A guerra contra o terrorismo não é uma guerra mundial e nem uma guerra em larga escala. Houve paz com o terrorismo, em diversas medidas, ao longo de muitas décadas. Terrorismo de várias organizações contra diversos estados e sociedades. Em uma era global, o terrorismo torna-se também global. Há quem fale em choque entre civilizações, mas isto parece uma generalização vaga e imprecisa que não ajuda a compreender melhor a situação.”
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