Não é à toa que o senador Delcídio Amaral, preso ontem por tentar atrapalhar o trabalho da Justiça na Operação Lava Jato, chamou o banqueiro André Esteves (foto) de “gênio” nas gravações usadas para justificar sua prisão. Esteves sempre foi considerado um prodígio dos negócios. Ambicioso, hiper-ativo, conseguiu erguer um império por meio de aquisições e tacadas certeiras em vários setores –estacionamentos, shopping centers, drogarias, construção civil, saúde e, naturalmente, finanças (um exemplo foi a compra do banco Pan-americano).
Muitas das manobras de Esteves no mercado financeiro já foram questionadas e não é raro que venham à tona acusações de uso de informação privilegiada ou comportamento discutível. Também é verdade que nem todos os negócios fechados por Esteves foram bem-sucedidos. No conjunto, contudo, o resultado é impressionante. O BTG Pactual tornou-se um dos maiores bancos de investimento do país, com patrimônio líquido de R$ 22,1 bilhões e ativos de R$ 652,5 bilhões sob sua gestão, segundo dados divulgados para o terceiro trimestre deste ano. Numa área, porém, as investidas de Esteves têm sistematicamente dado errado: seus negócios com a Petrobras.
O negócio que está na origem da prisão de Esteves ontem nem mesmo foi fechado pelo banco, mas por uma empresa de Esteves e alguns acionistas, a BTG Alpha. De acordo com um depoimento do doleiro Alberto Yousseff, prestado em novembro do ano passado como parte de sua delação premiada, a turma de Esteves pagou R$ 6 milhões em propinas ao senador Fernando Collor de Mello para fechar um contrato de R$ 122 milhões com BR Distribuidora. Pelo contrato, a BR se tornaria fornecedora exclusiva e bandeira dos 118 postos de gasolina mantidos pela DVBR, uma sociedade de 2009 da tal BTG Alpha com o empresário Carlos Santiago, que andava mal das pernas e depois teve de ser desfeita com a venda dos postos. Santiago era um nome polêmico, já acusado de adulteração de combustível pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).
A Sete foi aquela empresa criada para produzir no Brasil as sondas de exploração de petróleo da Petrobras. Ao todo, seus acionistas – além do BTG, os bancos Bradesco e Santander e os fundos de pensão Previ, Petros, Funcef e Valia – puseram R$ 8,3 bilhões no negócio. Em sua delação premiada, o ex-executivo da Petrobras Pedro Barusco a Sete venceu a licitação para a construção das sondas de exploração do pré-sal.
Mais do que um banqueiro com ligações com o atual governo, Esteves tem boas relações com políticos e pessoas influentes de diferentes partidos como PSDB e PMDB e forças políticas. Pérsio Árida, um dos criadores do Plano Real e intimamente identificado com o PSDB, é conselheiro do BTG Pactual. Faria hoje, antes da prisão, uma palestra junto com Esteves.
Ainda em 2013, o grupo BTG Pactual entrou como um dos fiadores da Brio, subsidiária do Grupo Andrade Gutierrez, empresa contratada para reformar o Estádio Beira-Rio. Em junho de 2015, o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, foi preso após ser citado em depoimento de delatores como envolvido no esquema de corrupção na Petrobras.
O banqueiro também financiou a lua de mel do amigo Aécio Neves (PSDB) e foi padrinho do seu casamento.
A situação de Esteves não surpreendeu a quem acompanha de perto seu estilo agressivo. Não se sabe se aquilo que o senador Delcídio diz na gravação tem algum fundo de verdade, ou se realmente ambos encontraram-se apenas para discutir a situação da economia e a CMPF, como Esteves deu a entender em seu depoimento de ontem, de acordo com a revista Época que defende o banqueiro, mas atua na mesma linha da revista Veja, com mentiras e calúnias contra Dilma e Lula.
A única surpresa é Esteves ter sido preso sob a acusação de tentar acobertar a propina em um negócio mixuruca de postos de gasolina – quando as relações de seu banco com a Petrobras têm uma dimensão muito maior. Tentei falar ontem com o BTG. Eles se limitaram a me enviar um comunicado que afirma: “O BTG Pactual esclarece que está à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários e vai colaborar com as investigações”.
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