Senadores decidiram por 59 votos a 13 que o político deve ser mantido preso em decorrência da Operação Lava Jato
Brasília
- A prisão do líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), e
do banqueiro André Esteves, do BTG-Pactual, caiu como uma bomba no
Palácio do Planalto, no Congresso e no mercado
financeiro. Enquanto a Bolsa caiu com os desdobramentos da Operação
Lava Jato, a preocupação do governo é com os reflexos em sua imagem
diante das acusações de que Delcídio teria oferecido mesada de R$ 50 mil
e bolado plano de fuga para o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
Detido pela manhã por determinação do Supremo
Tribunal Federal (STF), Delcídio teve sua prisão mantida pelo Senado, à
noite, por 59 votos a 13 . A maior parte dos senadores que votou contra a
permanência de Delcídio na cadeia tem envolvimento com a Lava Jato e
teme, agora, o chamado efeito dominó, que poderá levar a prisão de
outros senadores envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras.
Documento do Ministério Público
Federal revela que Delcídio, em conluio com André Esteves, ofereceu
pagamento de R$ 4 milhões ao advogado Edson Ribeiro, contratado pelo
ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, para que o investigado não
firmasse acordo de delação premiada na Lava Jato.
A
proposta seria Cerveró assinar o acordo, mas não mencionar nem Delcídio
ou o banqueiro nos depoimentos. A dupla também teria pago R$ 50 mil a
Bernardo Cerveró, filho do ex-executivo
da estatal, em troca do silêncio do depoente. O restante da família
receberia a mesma quantia mensal como recompensa. O advogado, que teve
sua prisão decretada, está nos Estados Unidos.
Na delação premiada, Cerveró denunciou que o senador teria obtido vantagem
nas operações da Petrobras de contratação de sondas e de compra da
refinaria de Pasadena. André Esteves foi mencionado quando Cerveró
afirmou que o BTG-Pactual teria dado dinheiro ao senador Fernando Collor
(PTB-AL) em operação de embandeiramento de 120 postos de combustíveis
em São Paulo.
Uma gravação com uma hora e 35 minutos
revela como Delcídio ofereceu dinheiro ao ex-diretor da Petrobras para
que ele não fechasse acordo de delação premiada com o Ministério Público
Federal. No diálogo ocorrido no dia 4 de novembro em um quarto do hotel
Royal Tulip, em Brasília, o petista também propôs a Bernardo Cerveró
que, se o ex-diretor realmente optasse por um acordo com os procuradores
da República, ele não o citasse.
A conversa também
mostra que o senador ofereceu ajuda para o ex-diretor da Petrobras fugir
do Brasil em troca de não revelar nada sobre o esquema de corrupção da
Petrobras.
As prisões de Delcídio e do banqueiro
são o primeiro resultado do acordo de delação que Cerveró fechou com a
Procuradoria Geral da República. Ele já havia tentado fechar o acordo
duas vezes.
Bilionário perde fortuna
O
banqueiro André Esteves, CEO do banco BTG Pactual, preso pela Polícia
Federal por ter obtido documentos sigilosos de delação da Operação Lava
Jato, é um dos homens mais ricos do país e fez fortuna rápido.
Considerado um dos gênios do mercado financeiro, ficou milionário em
2005 aos 36 anos, quando já comandava o banco de investimentos BTG
Pactual, que hoje tem negócios em mais de trinta atividades no Brasil e
no mundo.
Atualmente o banqueiro é dono de uma das
maiores fortunas do país, com patrimônio calculado R$ 9 bilhões,
ocupando o 13º lugar no ranking da agência Bloomberg de bilionários
brasileiros.
A prisão de André Esteves teve enorme
impacto nos mercados financeiros, derrubando as ações na Bolsa de
Valores, que fechou em queda de 3% no seu principal índice, o Ibovespa.
As ações do BTG chegaram a cair 40% e foram recompradas pelo banco,
fechando o dia com perdas de 20%.
Em gravação, suspeita sobre acordo de Paes e Romário
Na
conversa gravada que serviu de base para a prisão do senador Delcídio
do Amaral (PT-MS), ele e outros interlocutores falam de um suposto
acordo entre Eduardo Paes e o senador Romário (PSB-RJ) que envolveria
uma conta bancária do ex-jogador na Suíça.
Por
conta do acerto, Romário passaria a apoiar a candidatura de Pedro Paulo
Carvalho Teixeira à Prefeitura do Rio. “Em função disso, fizeram
acordo”, comenta Delcídio na gravação.
Da conversa
gravada participaram também Diogo Ferreira, chefe de gabinete de
Delcídio e que também foi preso nesta quarta, Bernardo Cerveró e Edson
Ribeiro, respectivamente, filho e advogado de Nestor Cerveró, ex-diretor
da Petrobras.
Na gravação, Delcídio relata aos
três interlocutores uma visita que recebeu de Paes, Pedro Paulo e
Romário. Durante esta visita é que ele teria sido informado do acordo
entre Paes e Romário.
Em julho, a revista ‘Veja’
publicou que Romário tinha conta não declarada na Suíça. O ex-jogador
foi então a Genebra e divulgou declaração do Banco BSI que negava a
existência da tal conta.
Desde julho de 2014 que o
BSI pertence ao Banco BTG Pactual, de André Esteves, também preso nesta
quarta. Guilherme da Costa Paes, irmão do prefeito do Rio, é diretor do
BTG Pactual.
Por telefone, Paes negou ao DIA a
existência de acordo que envolvesse a tal conta suíça. Disse que esteve
no gabinete de Delcídio acompanhado de Pedro Paulo, Romário e o senador
Ricardo Ferraço (PMDB-ES) para tratar da aprovação de um projeto
relacionado à dívida ativa de estados e municípios.
O
prefeito afirmou que, brincando, disse a Delcídio que Romário apoiaria
Pedro Paulo, mas que em nenhum momento citou a tal conta. Segundo Paes,
não seria razoável imaginar que ele pudesse tratar de algo tão grave
diante de três senadores. “Só de brincadeira alguém pensar isso”, disse.
Para
o prefeito, tudo não passou de uma “ilação” feita por Edson Ribeiro,
advogado de Nestor Cerveró. Segundo o prefeito, a frase “E em função
disso fizeram acordo” dita por Delcídio foi uma interrogação, não uma
afirmação.
Em seu perfil no Facebook, Romário negou a
existência do acordo mencionado na conversa gravada. O senador confirma
a versão de Paes e diz que foi ao gabinete de Delcídio para tratar da
aprovação de um projeto no Senado relacionado à dívida ativa de estados e
municípios.
“Não é novidade para ninguém que o
prefeito Eduardo Paes tem interesse que eu apoie o seu candidato à
sucessão. Não sou responsável pelo que terceiros falam, apenas pelos
meus atos. Assim sendo, deixo claro que não tenho nenhum acordo com
ninguém e, infelizmente, o dinheiro não é meu. Digo infelizmente porque,
com certeza, se fosse meu, seria fruto de muito trabalho honesto.” (Fernando Molica e Paulo Cappelli)
A GRAVAÇÃO
A
seguir, trechos da conversa gravada entre o senador Delcídio d-o Amaral
(PT-MS), Bernardo Cerveró e Edson Ribeiro, respectivamente, filho e
advogado de Nestor Cerveró. Na conversa, Delcídio e outros
interlocutores falam de um suposto acordo entre o prefeito Eduardo Paes e
o senador Romário, envolvendo uma conta bancária do ex-jogador na
Suíça.DELCÍDIO – Ai tá, pra acabar de complicar ainda mais o jogo aparece o Eduardo Paes, com Pedro Paulo... é... com Romário. E com Ferraço (senador Ricardo Ferraço, do PMDB-ES).
EDSON – Ué, fizeram acordo, né?
DELCÍDIO - Diz o Eduardo que fez.
EDSON - Foi Suíça...
DELCÍDIO - Foi Suíça, é?
EDSON – Tinha conta realmente do Romário.
BERNARDO – Tinha essa conta?
DELCÍDIO – E em função disso fizeram acordo...
EDSON – Seu amigo, banco (...) Tira porque senão você vai preso.
DELCÍDIO – O que eu achei estranho, ele ter chegado... O que você, Romário, o que você 'tá' fazendo aqui? Não, não vim tô acompanhando o Eduardo.
EDSON - Esquisito
DELCÍDIO – Esquisito pra caramba
EDSON – Essa é informação que me deram.
DELCÍDIO – Aí o Eduardo falou assim: não Delcídio, porque o Eduardo tenho intimidade, o Eduardo foi companheirão meu aqui, principalmente na CPI dos Correios, ele foi meu braço direito aqui … Aí disse, não Delcidio eu chamei aqui o Romário, na frente do Romário. Chamei o Romário, ó, nos acertamos uma aliança, o Romário apoiar o Pedro Paulo é isso que ele tá falando. Mas tem esse motivo.
EDSON – Foi o que eles disseram... quem pode melhor apurar é você.
DELCIDIO – Porque bicho, não é possível, hoje quando eles chegarem, ué o que vocês tão fazendo aqui? Juntos. Aí o Eduardo explicou, diz que fizeram uma composição juntos, pra apoiar Pedro Paulo.
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