Atenção à necessidade de melhor diálogo entre crianças e adultos
"são bem raros os adultos que concedem à infância o interesse que ela merece: bem raros são os pais que possuem uma ideia de conjunto da evolução percorrida por seu filho ou que captam o significado de um momento determinado de seu desenvolvimento."
A criança e a infância: alguns elementos gerais
Diante da criancinha que acaba de nascer, os familiares emocionados reagem geralmente segundo duas tendências divergentes. Alguns se esforçam para encontrar no recém-nascido algum traço que possa lembrar seus ascendentes, enquanto outros procuram alguma característica original dele. Alguns são sensíveis à continuidade da vida, à continuação daquilo que já existiu, outros ficam mais impressionados por aquilo que cada existência humana traz de novo e de perfeitamente único.
Se semelhantes reflexões são ingênuas e banais, no entanto elas contêm uma profunda verdade: por meio desse recém-nascido, alguma coisa que vem de um passado bem longínquo vai uma vez mais se desenvolver e prosseguir, e no entanto essa continuação tomará inevitavelmente uma dimensão particular, fundamentalmente imprevisível e nova. Sabemos de fato que a criança terá semelhanças com os que a precederam, porém sabemos igualmente que ela será "ela mesma", isto é, diferente.
Significado da infância
Estas considerações contribuem para especificar o significado do fenômeno infância. "A criança não é criança porque ela é pequena", escrevia Claparède no início do século, "ela é criança para se tornar adulta." A infância é o período da "humanização" do indivíduo, do aprendizado da natureza humana. Esse aprendizado é longo. Será ainda mais longo quanto mais complexo e evoluído for o nível adulto a ser atingido.
Essa humanização só pode se produzir no cenário de um meio humano adulto que, incessantemente, revela e propões à criança os comportamentos característicos de sua espécie e do grupo do qual ela faz parte. A criança, em sua polivalência e em sua indeterminação, é por excelência um animal educandum, um ser que pede educação, como bem observou Langeveld.
Sem essa educação, ela não se torna um adulto de sua espécie. Isso significa que a infância nunca é tomada suficientemente a sério. Isso significa que longe de ser "este mal necessário", como muitas vezes nos referimos a ela, a infância é na realidade a via aberta para as realizações mais inesperadas e maravilhosas do psiquismo humano, do qual talvez não atinjamos a riqueza e as possibilidades. Mas, se o ser torna-se humano "segundo" a cultura na qual ele cresce e "segundo" o grupo familiar ao qual pertence, isso significa que seu meio o define em grande parte.
Sob a influência desse meio, como lembrou Watson, a criança é levada a elaborar um repertório comportamental inevitavelmente mais restrito do que aquele do qual, em princípio, ela é capaz: a criança poderia também aprender outra coisa diferente do que é admitido, estimulado e valorizado por seu grupo.
Logo, a educação abre caminhos, porém limita inevitavelmente seu número. Ela "humaniza", mas em uma direção determinada. Cabe ao adolescente e ao adulto alargar e completar o leque, mas isso só poderá ser feito partindo daquilo que sua infância fez dele.
*Autor: Paul Osterrieth
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