8.22.2010

Zumbido no ouvido afeta 278 milhões de pessoas, mas tem cura















No Brasil, 'tinnitus' atinge 28 milhões; casos mais graves levam a depressão.
Um dos tratamentos usa sons alternativos para desviar atenção do chiado.
Acaba com sua tranquilidade. Quando assisto a um filme na TV, eu preciso deixar o volume bem baixinho para não aumentar o problema"
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a percepção de um som que não está sendo gerado no ambiente afeta 278 milhões de pessoas. No Brasil, são 28 milhões que convivem com o sintoma. Porém há tratamentos que envolvem até mesmo o emprego de ruídos para "competir" com o chiado característico do zumbido.

Conhecido na comunidade científica internacional como tinnitus, o sintoma no ouvido nem sempre tem origem em ruídos estridentes. Segundo o médico e professor Ricardo Bento, chefe do departamento de otorrinolaringologia da USP, muitas doenças podem causar zumbido e várias causas podem se manifestar em um único indivíduo.
Zumbido por ruído pode ocorrer por lesão na cóclea Zumbido por ruído pode ocorrer por lesão na cóclea
Quando causado por barulho excessivo, o zumbido ocorre em função de uma lesão nas células da cóclea, decorrente de uma pressão forte no tímpano. Sendo um sintoma que varia de intensidade entre os pacientes, o zumbido pode ser permanente ou temporário.
“Tanto é possível que o trauma desapareça depois de alguns dias após a exposição ao ruído, como o paciente pode ter uma lesão crônica que vai durar o resto de sua vida”, explica o professor.
Abelha violenta
Dono de uma empresa de revenda de material elétrico, José de Lourdes Toledo, de 70 anos, convive há 16 meses com zumbido. Nos últimos três, o chiado - "parecido com uma abelha violenta" - cresceu e nem mesmo a consulta a médicos especializados serviu para identificar a causa do problema.
"Sempre usei protetor de ouvido no meu trabalho, uso também ao entrar em lugares muito barulhentos", afirma o comerciante. "Acaba com sua tranquilidade. Quando assisto a um filme na TV, eu preciso deixar o volume bem baixinho para não aumentar o problema."

Toledo afirma que a presença do chiado atrapalha, especialmente em situações de silêncio. "Durante a noite, eu acordo e perco o sono, incomoda tremendamente", diz o morador da cidade de Limeira (SP).

Terapia de habituação
Uma possível solução para o caso de José pode estar na terapia acústica, técnica que consiste no emprego de ruídos alternativos, para estimular o paciente a ignorar o zumbido ou, pelo menos, tomar conhecimento que outros sons estão presentes no ambiente.

O método conhecido como Terapia de Habituação do ouvido (TRT, na sigla em inglês) foi desenvolvido pelo neurocientista polonês Pawel Jastreboff e consiste no uso de sons alternativos para competir com o zumbido. O paciente passa a não focar a atenção no tinnitus, passando a relatar que o chiado "diminui ou desapareceu".

Produtos com emprego de tecnologia de terapia acústica já estão disponíveis no mercado em aparelhos auditivos voltados, inicialmente, para pacientes com perda de audição.

Segundo Sandra Braga, mestre em fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e porta-voz da Audibel, pessoas com problemas no ouvido geralmente não desejam notar que estão usando um produto para corrigir o sintoma.

"Muitas vezes o gerador de som em aparelhos auditivos não precisa nem ser ligado, em casos de pacientes com zumbido e perda auditiva", afirma a fonoaudióloga. "O nível de incômodo da pessoa é equivalente à atenção que ela dá ao zumbido."

Desinformação
Há quem evite se informar ou mesmo tratar o problema. “É preciso cuidado, zumbido extremo leva o paciente à depressão, atrapalha a rotina profissional e pessoal e há casos até de suicídio”, afirma Ricardo Bento. “O importante ao paciente é saber que sempre há algo a ser feito.”

O médico também destaca a diferença entre o sintoma e a perda auditiva. “Uma pequena parcela das pessoas que vivem com zumbido escutam dentro dos padrões de normalidade” explica Ricardo. “O zumbido nunca é causa da perda de audição, pode ser apenas uma consequência, uma tentativa do ouvido de compensar um problema.”
É preciso cuidado, zumbido extremo leva o paciente à depressão, atrapalha a rotina profissional e pessoal e há casos até de suicídio"
Ricardo Bento, chefe do departamento de otorrinolaringologia da USP

Outra dúvida recorrente é quanto à hereditariedade do sintoma, quando intenso. “Mais de 95% dos casos de perda de audição está associada a problemas do próprio ouvido do paciente”, diz o presidente da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF).

Cuidados
Usar protetor auditivo individual, diminuir o tempo de exposição a ruído intenso ou mesmo se afastar completamente de barulho são algumas das táticas mais recomendadas para tratar o zumbido.

Alterações emocionais como estresse e o abuso no consumo de café, cigarro e álcool também afetam o aparelho auditivo. “Algumas dessas substâncias causam vasoconstrição nas artérias que irrigam o ouvido”, explica Ricardo Bento.

No caso de situações de zumbido extremo, exames metabólicos e de imagens são necessários para esclarecer o procecimento a ser adotado no tratamento do paciente, afirma o especialista.
G1.com


Musicoterapia pode combater zumbido, diz estudo
Reuters

LONDRES (Reuters) - Uma terapia musical feita sob medida para cada paciente pode ajudar a reduzir o zumbido que incomoda muita gente, disseram cientistas alemães nesta segunda-feira.

Eles desenvolveram tratamentos musicais compatíveis com diversos gostos musicais, retirando em seguida as frequências sonoras iguais à frequência do zumbido do paciente.

Após um ano ouvindo essas terapias musicais "retalhadas", os pacientes notavam uma maior redução no volume do zumbido em comparação aos pacientes que haviam escutado uma música placebo, sem modificação.

A pesquisa foi publicada na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.

O zumbido é um transtorno auditivo comum em países industrializados e pode ser alto a ponto de afetar a qualidade de vida de 1 a 3 por cento da população geral, segundo os pesquisadores.

Uma comissão de saúde da União Europeia alertou em janeiro sobre os possíveis danos causados aos jovens que ouvem tocadores de MP3 em volumes exagerados, o que segundo os cientistas pode causar perda de audição e zumbido.

Por causa dessa recomendação, a Comissão Europeia emitiu novas regras de segurança relativas ao volume dos tocadores de MP3.

Os pesquisadores disseram que a causa exata do zumbido é desconhecida, mas que o córtex auditivo --região do cérebro que processa o som-- costuma ter distorções em pacientes com os sintomas.

Christo Pantev, do Instituto de Biomagnetismo e Bioanálise da Universidade Westfalian Wilhelms, da Alemanha, que dirigiu o estudo, disse que suas conclusões sobre a audição dirigida sugerem que o volume do zumbido pode ser "significativamente diminuído com um tratamento musical retalhado sob medida, agradável e de baixo custo."

(Reportagem de Kate Kelland)

Nenhum comentário: