10.10.2010

Maitê: uma pessoa de muitas faces

Acha que brasileiro fala mais de sexo do que faz

POR GABRIELA GERMANO
Rio - Ela é dona do jogo. Na disputa pelo amor de Agnello (Daniel de Oliveira) em ‘Passione’, Stela levou a melhor exterminando qualquer chance de Lorena (Tammy di Calafiori). Por mais que muita gente tenha condenado a postura da mãe de investir com tudo sobre o namorado da filha, a intérprete Maitê Proença lembra que esse tipo de situação é mais comum do que se imagina: “Outro dia, gravando uma externa, uma moça da figuração me contou sobre a irmã que era sua melhor amiga. Mas justamente ela tinha lhe roubado o namorado da forma mais desnaturada possível. As duas hoje não se veem, nem se falam. A garota me disse isso repudiando a atitude de minha personagem, mas mostrando que não é coisa de novela. Acontece na vida real”, relata.
Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
Pegadora de garotões na trama, Stela só mostra que, aos 52 anos, Maitê está mais sensual do que nunca. Seu poder de mexer com a imaginação dos homens vem pelo menos desde 1986, quando deu vida à cortesã ‘Dona Beija’, na extinta TV Manchete.

A atriz foi a primeira a protagonizar cenas de nudez na TV brasileira. Mas não dá muita importância para essa história de ser vista como símbolo sexual. “Podem me olhar como quiserem, sou uma pessoa de muitas faces. Se não fosse assim, sentiria um imenso tédio ao acordar”, afirma.

Com uma filha jovem em casa, Maria, de 19 anos, Maitê não hesita em dizer o que faria caso enfrentasse na realidade a mesma situação da ficção. “Acho pouco provável que uma de nós duas deixasse isso acontecer. Se houvesse qualquer perigo, ele seria ceifado pela raiz”, minimiza, tentando explicar o comportamento da personagem. “Espera-se que uma mãe seja generosa e abra mão de seus prazeres por uma filha. Mas, para conseguir fazer o que a história pede, eu preciso compreender a Stela. Entendo que o caso dela é uma obsessão, quase uma doença autodestrutiva que a compele para aquele comportamento”.
As cenas de sexo de ‘Passione’ mostraram o lado furacão da atriz. Mas, mulher com opinião forte, Maitê é bem direta ao falar de sua vida sexual. “Gosto mais de sexo hoje do que outrora, mas sempre considerei que não era fundamental. É apenas delicioso. Acho que brasileiro mais fala sobre sexo do que faz. Dá para passar sem e bem. Muita gente passa, mas não diz”, polemiza.

Namorada do empresário Alexandre Colombo, 14 anos mais novo do que ela, a diferença de idade está longe de ser um problema. Pelo contrário, traz vantagens. “Gente mais jovem em geral tem mais entusiasmo para fazer as coisas, conhecer lugares e tudo o que é diferente ou aventureiro”, diz.

Se os homens babam por sua sensualidade, as mulheres invejam sua beleza. Mas com um botox assumido aqui e outro ali, Maitê condena determinados exageros vistos por aí: “Quem tem dinheiro está envelhecendo melhor, pelo menos por fora. Mas há muitas aberrações assustadoras. É bom que seja assim porque servem de freio para quem está se coçando para mudar demais”, critica. “Não me acho mais bonita hoje do que antes. Envelheci razoavelmente bem e tenho alegria dentro de mim, o que disfarça as marcas da idade”, valoriza.

Ela tem lá seus cuidados em nome da vaidade. Mas sem neuroses. “Há mais de 30 anos me alimento de forma pensada e voltada para o que é saudável. Mas o truque é escorregar sempre um pouquinho, porque a disciplina absoluta é para os absolutamente chatos. E chatice envelhece”, dá o recado.

A atriz foca em um exemplo bem contemporâneo, mas pouco óbvio na hora de falar sobre envelhecer bem. “Devíamos todas nos mirar no exemplo da Marina Silva. Quanta dignidade! A altivez, o porte, as palavras que vêm do fundo de uma verdade irrefutável. Acho aquele coque, o batom de beterraba, a roupa fora de moda (mas única, só dela) absolutamente chiques”, elogia.

Nos últimos tempos, ela vive um drama na novela capaz de enrugar qualquer mãe por aí. O filho Danilo (Cauã Reymond) se tornou dependente de craque e, em meio àquele núcleo familiar, ela tem protagonizado momentos de forte carga dramática. “Tento jogar tudo na cena. Mas lidar com emoções pesadas o dia inteiro, gritar, agredir e chorar durante dez horas e ainda decorar outras cenas em casa com o mesmo tipo de energia mexe com a gente. Não saio ilesa, fico perturbada”, desabafa.

Nas ruas, Maitê experimenta a repercussão por tratar de um problema tão sério no horário nobre da Globo. “Todos os dias alguém me para e fala que vive essa experiência. Também enviam mensagens para o meu site contando histórias pessoais. Em uma ocasião, uma senhora deu um jeito de se aproximar. Vi que ela tentava me entregar alguma coisa e estiquei o braço. Ela, com olhar muito doído, me passou um bilhete contando o drama com o próprio filho e agradecendo por falarmos disso na novela. É muito triste”.

Maitê, que em seu livro ‘Uma Vida Inventada — Memórias Trocadas e Outras Histórias’ assume ter usado drogas, diz que em sua casa o tema está longe de ser um tabu. “Conversamos sobre absolutamente qualquer assunto que surgir, drogas inclusive. Maria nunca deu trabalho, definitivamente não é dessa conduta. Sorte nossa. Sou favorável à descriminalização das drogas, mas esse é um assunto cheio de implicações. Teria que ser muito bem elaborada e feita sob medida para nosso País de dimensões continentais, com diversas restrições para a compra no caso de menores e pessoas com doenças psíquicas”, opina.

Essa é Maitê. Sem medo de falar o que pensa. Sua personalidade forte é grande responsável pelo seu sucesso. Mas ela confessa estar revendo essa postura. “Já tive muitos problemas por expor minhas opiniões. Não recomendo. Perdi alguns amigos ou fiz alguns inimigos. Mas farei as pazes com todos. Essa é uma determinação que cumprirei assim que conseguir engolir o último sapinho que ainda está entalado na garganta”

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