Resveratrol auxilia no combate ao câncer associado à quimioterapia
Pesquisadora da UFRJ explica que a utilização dessa substância diminui a quantidade do medicamento a ser administrado na quimioterapia e minimiza os efeitos colaterais.
Malbec, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, Tempranillo, Syrah são variedades de uvas de nomes exóticos e diferentes para a maioria das pessoas. Elas guardam compostos poderosos para a nossa saúde, uma fonte inesgotável de futuros medicamentos. Mas como é a uva por dentro? E por que faz tão bem?
Na casca, está quase todo o resveratrol encontrado na fruta, além dos pigmentos responsáveis pela cor. Tanto na casca quanto na polpa, há compostos antioxidantes que combatem o envelhecimento das células. Sendo que a polpa tem também minerais importantes e água. As sementes são depósitos de tanino, outro poderoso antioxidante.
“O que a tecnologia hoje faz é tirar o benefício dessas substancias maravilhosas da casca e da semente incorporando no vinho. Assim, nós temos acesso a esse benefício”, destaca o pesquisador Mauro Zanus, da Embrapa.
O vinho é o que os nutricionistas chamam de alimento funcional. A bebida tem substâncias que podem ajudar a reduzir o risco de doenças como o diabetes, pressão alta, câncer e problemas no coração. “É importante frisar que a ingestão tem que ser diária, porque nós não conseguimos armazenar, guardar esse tipo de molécula no nosso organismo. Então, ela é eliminada muito facilmente pelas fezes e pela urina”, explica a pesquisadora Eliane Fialho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Eliane estuda a associação do resveratrol à quimioterapia. No laboratório, ela separou células do câncer de mama, uma doença de alta incidência no Brasil. Só este ano, a estimativa é de 50 mil novos casos. “Só o resveratrol sozinho é capaz de matar a célula cancerosa, só que, quando a gente associa o resveratrol com o quimioterápico, o resveratrol é capaz de potencializar o efeito do quimioterápico. Então, você vai diminuir a quantidade do medicamento a ser administrado na quimioterapia. Então, isso vai minimizar os efeitos colaterais. Você potencializa, você melhora a ação daquele medicamento”, aponta.
Mas Eliane adianta: beber vinho não vai curar o câncer. “A quantidade do que a gente coloca na célula é uma quantidade que a gente não vai conseguir, infelizmente, obter via alimentação”, declara.
A pesquisa está avançada, mas a fabricação de um remédio ainda pode levar anos. Quando nós vemos tanto estudo, tanta tecnologia, fica difícil imaginar o quanto o vinho está ligado à evolução da humanidade.
O Antigo Testamento atribui a Noé a tarefa de ter cultivado parreiras e de ter feito o primeiro vinho. Mas os egípcios foram os primeiros a registrar em pinturas e documentos o processo de vinificação, três mil anos antes de Cristo. Mais tarde, Hipócrates, o pai da medicina, indicava o vinho como anti-inflamatório e parte de uma dieta saudável.
Os primeiros barris de vinho chegaram ao Brasil nas caravelas dos colonizadores portugueses, mas foram os imigrantes italianos que trouxeram a força de trabalho e o conhecimento para a produção da bebida. Hoje, quase 140 anos depois, os netos e bisnetos desses imigrantes mantêm viva a tradição na Serra Gaúcha. Eles são responsáveis pela fabricação de grande parte do vinho nacional.
O Rio Grande do Sul produz 90% do vinho nacional. Alguns já foram premiados lá fora. Na região, ainda é tempo de uva verde no pé. Colheita, só a partir de janeiro. Mas ninguém fica parado. Em uma vinícola familiar, encontramos o enólogo Idalêncio Angheben. Ele limpa com todo o cuidado as garrafas de espumante que vão estar na ceia de Natal de muita gente. “Cada vez mais, dá vontade de trabalhar e de botar a mão e de sentir aquela sensação de produzir uma coisa que você criou, você viveu a vida inteira”, comenta.
A paixão está no sangue de origem italiana. Idalêncio deu aulas e formou enólogos durante 30 anos, mas está no ramo há meio século, pesquisando, produzindo e engarrafando preciosidades. Ele nem pensa em parar. “Se depender da vontade, eu acho que vai longe ainda, vai longe, até que Deus permita”, comenta.
Essa mesma disposição está no rosto, nas mãos e no suor da família Carrer. Só o chapéu protege a produtora de vinhos Maria Carrer e André do sol forte da serra. São 54 anos de casamento e, pelo menos, 70 nos vinhedos que, até hoje, é o trabalho de todos os dias.
A terra é ofício de todos. São três gerações juntas, produzindo uvas.
O dia passa, e Felipe chama os avós, porque o almoço está quase pronto. A massa já está no fogo. A mesa é farta. Toda a família reunida, na refeição e nos vinhedos, como herança, de pai para filho. “Tenho orgulho do que eu faço. Acima de tudo o melhor é ter orgulho do que a pessoa faz”, diz o agricultor Felipe Carrer. “Nós dependemos disso aqui, a gente depende da uva, do serviço, do vinho”, declara o agricultor Valdecir Carrer.
Essa é uma família verdadeiramente italiana. É claro não poderia ser diferente: emoção, muita conversa, disposição para comer, tudo junto. E para acompanhar esse almoço delicioso vinhos branco e tinto, feitos por Maria e André.
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