2.15.2011

Medicamento contra hipotireodismo não é considerado doping

Em seu anúncio de despedida do futebol, Ronaldo disse que perdeu para o próprio corpo. O jogador declarou que as fortes dores causadas por lesões no joelho e o fato de ter hipotireoidismo adiantaram sua saída de campo. A segunda declaração não é nova, mas chamou atenção pelo fato do “Fenômeno” dizer que não se submeteu ao tratamento para não ser pego no antidoping.
O hipotireoidismo é um distúrbio provocado pela falta de um hormônio produzido pela tireoide. Nessa pequena glândula, que mede cerca de 5 cm, localizada no pescoço, são secretados hormônios que controlam a velocidade do metabolismo. Eles são responsáveis por estimular os tecidos do organismo na produção de proteínas e aumentam a quantidade de oxigênio produzido pelas células. Eles ainda influenciam na respiração, frequência cardíaca, consumo de calorias e no crescimento.
A deficiência na produção desses hormônios reduz o metabolismo e causa sintomas como cansaço, sonolência e inchaço, o que pode ter dado o aspecto mais redondo ao jogador. A longo prazo, causa sintomas mais graves, como uma forte anemia, queda dos reflexos e dos cabelos, voz rouca e raciocínio lento.
 tireoide
Remédio não é considerado doping
Apesar dos muitos sintomas, a doença é de facílimo tratamento. Segundo Ricardo Meirelles, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, basta tomar um comprimido de hormônio por dia para suprir todos os problemas causados pela disfunção.
De acordo com Meirelles, o hormônio levotiroxina age da mesma forma que o hormônio tireoidiano no organismo. Desta forma, não havia meios de caracterizá-lo como doping.
- Como esse hormônio é idêntico ao produzido pelo organismo não há como ser considerado doping. A não ser que esteja tomando uma dose excessiva. E aí, causaria hipertireoidismo.

O próprio uso do hormônio não é proibido pela Federação Internacional de Futebol, segundo o médico do Comitê Olímpico Brasileiro, Eduardo de Rose, especialista em antidoping e membro-fundador da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês). Por isso, Ronaldo poderia tomá-lo diariamente e continuar treinando, se quisesse. - O hormônio tireoidiano não está na lista dos medicamentos proibidos. Por isso pode ser usado sem autorização.
Ainda segundo De Rose, todo medicamento que um jogador precise tomar, mesmo que seja proibido, poderá ser usado por um atleta desde que haja permissão médica e seja autorizado pela federação internacional à qual o atleta pertença.
- Mesmo que seja proibido, qualquer remédio pode ser usado pelo atleta quando ele precisa se houver justificativa médica.
Hipotireoidismo e esporte
O não uso do hormônio, segundo Meirelles, pode ser perigoso à carreira do atleta, já que ele estará sujeito aos sintomas.
- É perigoso não tomar, porque o atleta pode ter diminuição dos reflexos e prejudicar a carreira. Não há nenhuma contraindicação se tomar a dose adequada indicada pelo médico.
Questionado se a vida de atleta pode ter causado a disfunção em Ronaldo, Meirelles diz que a rotina puxada de exercícios físicos ou mesmo hábitos já conhecidos do craque, como o fumo e o uso de bebidas alcoólicas, mesmo que socialmente, não têm influência necessariamente negativa, desde que o atleta opte pelo tratamento.
Segundo ele, uma substância muito usada para aumento da massa muscular, o dinitrofenol, no entanto, pode causar a doença. Mas que não é usada de forma comum por jogadores de futebol.
- É mais usada por quem pratica fisiculturismo, e é um veneno.
Mas ele acredita que seu uso não tem nada a ver com esse caso.
Camila Neumam, do R7

HIPOTIREOIDISMO: DOENÇA É MAIS COMUM EM MULHERES

Hipotireoidismo: doença é mais comum em mulheres
Entenda mais sobre o problema e saiba como é fácil o tratamento.

Um dos maiores ídolos do futebol brasileiro anunciou a sua aposentadoria e explicou a razão de um dos seus maiores problemas nos últimos anos de carreira: o aumento de peso. De acordo com Ronaldo, um hipotireoidismo descoberto há pouco mais de dois anos estaria atrapalhando o seu desempenho nos campos. Para quem não sabe, esta é uma doença bastante comum na população, com maior ocorrência em mulheres - estima-se que cerca de 10% das mulheres adultas sejam portadoras da doença -, e pode atingir qualquer faixa etária.
“A principal causa de hipotireoidismo é a doença de Hashimoto, onde o organismo produz autoanticorpos, que agridem e destroem sua própria tireoide” explica o dr. Luciano Giacaglia, endocrinologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. A doença ainda tem outras causas menos comuns, que correspondem a menos de 5% dos casos e incluem exposição a irradiação, cirurgias de retirada da tireóide (câncer, bócio), evolução tardia do hipertireoidismo, agenesia de tireoide (ausência de tireóide ao nascimento), e o uso de certos medicamentos, como amiodarona (anti-arritmico) e lítio (utilizado em transtornos do humor).
Os principais sintomas, que decorrem da redução da taxa de metabolismo do corpo, incluem cansaço progressivo, sonolência excessiva, pele seca, intolerância a baixas temperaturas, diminuição da memória, reflexos lentos, intestino preso, acúmulo de líquido e ganho de peso.
“A confirmação diagnóstica é realizada por meio da detecção da presença de baixos níveis do hormônio T4 em nossa circulação (T4livre) e elevação do hormônio estimulador da tireóide (TSH)”, explica o especialista. A presença de autoanticorpos (Anti-TPO/Anti-Tireoglobulina) só indica a doença de Hashimoto na presença de baixos níveis hormonais, do contrário, com hormônios dentro dos limites da normalidade, apenas indicam uma maior propensão ao desenvolvimento de hipotireoidismo no futuro e, assim sendo, não merecem tratamento.
O tratamento do hipotireoidismo é simples e requer a reposição através da ingestão oral de hormônio sintético, denominado levotiroxina sódica. “É importante manter também o acompanhamento constante com um médico endocrinologista, que pesquisará a presença de outras desordens glandulares que porventura estejam presentes e poderá, a critério, solicitar exames específicos, como a ultrasonografia”.
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