7.12.2011

Bons hábitos reduzem o perigo de infarto

RIO - Na semana em que corações de pessoas conhecidas, o do ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza e o do cineasta Gustavo Dahl, pararam de repente, sem dar chance de socorro, cardiologistas chamam a atenção para os riscos do infarto inesperado e ensinam como se proteger desse tipo de ataque. Paulo Renato sentiu tontura depois de uma dança em São Roque, no interior de São Paulo e desmaiou. Dahl enfartou enquanto assistia a um filme em sua casa, em Trancoso, na Bahia. O infarto fulminante pode acontecer mesmo em indivíduos sem casos na família e aparentemente saudáveis, mas bons hábitos reduzem o perigo.
Isso significa evitar a hipertensão, diabetes, colesterol alto, tabagismo, estresse, obesidade e sedentarismo, ensina Marcelo Assad, coordenador do serviço de prevenção cardiovascular do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), no Rio; explicando que infarto fulminante não é o mesmo que morte súbita. Esta pode ter outras causas, como arritmias (alterações no ritmo cardíaco) ou aneurismas.
- De cada dez que sofrem infarto, dois não têm tempo de serem atendidos - comenta o cardiologista. - O que geralmente determina isto é a arritmia maligna e não a extensão do infarto. Daí a importância de acesso ao desfibrilador, o aparelho que, por meio de choque, reverte a fibrilação, ou seja, a contração involuntária do músculo do coração. O equipamento deveria estar disponível em todos os lugares de grande fluxo.
Faz sentido. Quase a metade das pessoas que sofreram infarto nunca havia apresentado queixas de doenças do coração, diz Ricardo Pavanello, supervisor de cardiologia do Hospital do Coração (HCor). Os mais jovens correm maior risco de eventos graves por não terem o que os médicos chamam de "circulação de artéria coronária colateral", a rede de pequenas artérias saudáveis que se ligam a uma artéria obstruída, suprindo total ou parcialmente o fluxo de sangue oxigenado. E este ganho só aparece com os passar do anos; um dos benefícios de envelhecer.
- O infarto fatal também ocorre em pessoas sem história familiar; e pode ser causado por espasmo da artéria coronária - diz Pavanello, do Instituto Dante Pazzanese.
O problema é que o ataque fulminante nem sempre é percebido a tempo, como aconteceu com Paulo Renato e Dahl. A pressão pode cair súbita e rapidamente, e a pessoa tem falta de ar e desmaia antes mesmo de sentir alguma dor no peito.
- Se alguém desmaia subitamente e não se sabe o motivo, deve-se buscar o socorro imediato. Se houver desfibrilador disponível e pessoa treinada para usá-lo é preciso agir logo - orienta Assad.
Fumo é o pior inimigo das artériasEsta é a mesma recomendação de Fernando Eugênio dos Santos Cruz Filho, professor do curso de pós-graduação da UFRJ e chefe do serviço de arritmia do INC. Segundo ele, de 40% a 50% podem ter arritmia fatal na primeira hora do infarto, por falta de circulação numa área do coração, decorrente de fibrilação ventricular, quando o coração acelera, chegando a mais de 300 batimentos por minuto. Se a arritmia não for revertida em 5 a dez minutos, o indivíduo morre.
- A cada minuto de parada cardíaca, se perdem 10% de chances de sobrevivência - diz o médico. - Quem tem história familiar de morte súbita de adulto jovem, ou fuma, é hipertenso, diabético, obeso, tem colesterol alto e vive estressado corre ainda maior risco de infarto fulminante.
E se, apesar dos cuidados, a pessoa sentir que está sofrendo um infarto, o que ela pode fazer? De imediato, procurar socorro médico. Enquanto não consegue, deve folgar a roupa e cessar qualquer atividade, por menor que seja, recomenda Assad. O correto é só tomar remédio com receita, mas pode-se mastigar (a absorção é mais rápida) uma aspirina (salvo se a pessoa for alérgica ao ácido acetilsalicílico) para tentar dissolver a obstrução da artéria. Usar comprimido isordil só com orientação médica. Ele dilata os vasos, e, se a pressão estiver baixa, ela cai ainda mais, piorando a situação.
Uma outra dica é inspirar e tossir forte e de forma prolongada algumas vezes na hora do ataque. Isto não vai cessar o infarto, mas pode ajudar a reduzir danos ao coração em certos casos de infarto de coronária direita, na qual há queda de pulsação. A inspiração profunda melhora a oxigenação e a tosse contrai o coração, forçando a circulação do sangue.
Já na emergência os médicos tentam recanalizar a artéria coronária por meio de injeção de droga trombolítica (dissolve o coágulo) ou cateterismo.
- Quanto mais rápido o socorro, melhor a chance - alerta Assad. - Um exame importante é a análise das enzimas cardíacas, que mostra se o músculo necrosou. Nas primeiras 48h dá para saber o que será necessário para recuperar o coração; apenas receitar medicamento, implantar um stent (espécie de mola que mantém o vaso aberto) ou cirurgia.
O melhor mesmo é ter vida saudável. A pesquisa AFIRMAR (Avaliação dos Fatores de Risco Associados com Infarto Agudo do Miocárdio ), com 3.550 brasileiros, em 104 hospitais de 51 cidades, apontou fatores para o infarto. O fumo é o principal: acima de 5 cigarros/dia eleva em 4,9 vezes a chance de ataque; diabetes, em 2,8 vezes; relação cintura-quadril maior que 0,94, em 2,5 vezes; história familiar de doença coronariana, em 2,3 vezes; LDL-colesterol (ruim) acima de 100 mg/dl, em 2,1 vezes; pressão alta, em 2,09 vezes. Então é melhor se cuidar.

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