7.12.2011

Spa teen

Hotéis voltados para o emagrecimento adaptam suas fórmulas em busca do público adolescente. Mas atraem também o questionamento dos médicos

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VAIDADE
Aos 13 anos, Bianca já foi duas vezes ao spa e perdeu seis quilos
Destino de milhares de pessoas obcecadas em eliminar os quilinhos a mais da silhueta, os spas de todo o Brasil têm recebido um público diferente: os adolescentes e pré-adolescentes. “Nos últimos cinco anos, tivemos um crescimento de 30% dos clientes entre 12 e 18 anos”, contabiliza o cardiologista Manoel Carlos Castanho, diretor clínico do Spa Sorocaba, em São Paulo. Esse aumento, também registrado em outros redutos de emagrecimento, torna-se mais curioso quando se leva em conta que o rigor exigido nas dietas e a disciplina cobrada nos exercícios físicos não parecem combinar em nada com a inquietude característica dessa faixa etária. Mas o desejo de ser magro é maior do que tudo. E os templos de estética ajudam, pois as programações são adaptadas a esse novo público, acrescentando tipos diferentes de alimentos e recreação praticamente em tempo integral. O resultado parece ter agradado à garotada. Antes encaminhados pelos pais, agora os próprios adolescentes pedem para passar alguns dias nesses templos de bem-estar.

Foi esse o roteiro escolhido pelo carioca Artur Dale, 13 anos, para as férias de meio de ano – os períodos de maior procura são os meses de janeiro e julho. “Falei com a minha mãe que quero ir para o spa. Vou seguir direitinho toda a programação”, promete ele, que já teve essa experiência uma vez. Desde os sete anos, Artur acompanhava a mãe quando ela se internava no spa Maria Bonita, mas ele não fazia dieta. Como não tinha companheiros na sua faixa de idade, ficava brincando com os filhos de um dos funcionários. Com tendência a engordar, voltou ao local no ano passado, para emagrecer. Nessa ocasião, dividiu a programação com outros 12 adolescentes. “Costumo comer sanduíches e bebo refrigerantes como todo mundo da minha idade. Agora, quero perder peso”, diz Artur, que não se vê fazendo um sacrifício. “Tem a dieta, mas também tem a parte divertida. Subo em árvores, nado, ando de bicicleta.” A mãe, Carla, confirma que a opção foi do filho. “Ele pediu para ir, está decidido a perder as gordurinhas da barriga e quer voltar para as aulas em forma”, justifica.
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DIVERSÃO
Artur não encara como um sacrifício: “Também subo em árvores e nado”
Proprietária do spa Maria Bonita, a atriz Tânia Alves foi uma das primeiras a receber adolescentes em suas instalações. “Tivemos que adaptar nossa programação e incluímos atividades mais energéticas, como capoeira e escalada”, diz ela. Tânia explica que a função principal é dar aos adolescentes informações de qualidade para ser aplicadas ao cotidiano. “Há vários cursos, os jovens recebem orientações, mas não há um local onde sejam passadas noções sobre boa alimentação e estilo de vida saudável”, diz ela. Para alguns especialistas, no entanto, a estadia num spa não é insuficiente para uma mudança real. “O prazo é muito pequeno para uma reeducação verdadeira. Se não houver tratamento médico, geralmente a situação volta ao que era antes”, critica a médica paranaense Rosana Radominsk, responsável pelo departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. “Talvez a única utilidade seja incentivar aquele pontapé inicial no processo de emagrecimento.”

A psicóloga paulista Leila Salomão Tardivo, da Universidade de São Paulo (USP), não vê problemas no fato de o adolescente procurar um spa, desde que seja um estabelecimento reconhecidamente sério. Mas alerta que a temporada num desses lugares não pode ser encarada como algo milagroso. “O adolescente tende a buscar soluções mágicas e isso pode causar frustração. O processo de emagrecimento é algo constante, depende de mudança no estilo de vida.”

Talvez por conta dessas dificuldades, os teens tenham deixado de ver os spas como inimigos e os encarem agora como um dos melhores recursos para entrar em forma. Nos primeiros anos em que começou a trabalhar com a garotada, Castanho teve que reforçar a segurança para evitar que eles “contrabandeassem” alimentos proibidos. Mas isso já mudou radicalmente. “Além de aumentar a quantidade de internações de adolescentes, cresceu também a qualidade, pois eles têm seguido as orientações à risca”, diz.

Apesar das diferenças entre a programação para adultos e teens, há um ponto em comum entre as faixas etárias. Mais que a saúde, o principal fator que leva meninos e meninas a procurar o spa é a vaidade. Foi assim com a paulista Bianca Zoike, 13 anos, que por duas vezes esteve no Spa Sorocaba no ano passado e conseguiu perder seis quilos. “Todo adolescente gosta de seguir a moda, de estar bonito para ser visto pelos amigos”, admite ela. “Minha ansiedade me faz engordar. Por isso procurei o spa e deu certo: na volta às aulas, todos notaram que eu emagreci.” Algumas colegas de escola manifestaram o desejo de usar esse mesmo recurso. A mãe de Bianca, Rosana, confirma o efeito benéfico.“Ela melhorou a autoestima, ficou mais bem humorada.” Antigos mantras como consumir alimentos a cada três horas, nunca fazer refeições fartas à noite e manter atividades físicas regulares (pelo menos cinco vezes por semana) continuam valendo ouro para evitar as gordurinhas a mais. Caso o adolescente não consiga seguir essas regras, porém, o spa pode representar uma boa ajuda inicial.
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