7.10.2011

NÃO QUERIA FALAR, MAS ACABEI FALANDO

Quando percebe, ja falou ou fez o que não devia

 Impetuosidade não tem origem na genética, mas no convívio, na aprendizagem e no desenvolvimento emocional

Talvez, você nunca tenha ouvido a palavra impetuosidade. Que tal trocá-la por impulsividade? Parece-lhe mais comum?  Certamente, você deve se lembrar de alguma situação em que atitudes repentinas foram guiadas puramente pela emoção momentânea, sem uma pré-reflexão das conseqüências. O resultado, provavelmente, não deve ter sido um dos melhores.
Isso é o que acontece, algumas vezes, com a fonoaudióloga Roseli de Paula Oliveira. No trânsito, por exemplo, ela diz que, quando vê alguma infração, buzina e grita algo. "Quando percebo, já foi. Sofria muito por ser dessa maneira, mas já melhorei bastante", declara. 
Ela conta que o sentimento que ronda o coração do impulsivo é, na maioria das vezes, a vergonha por não ter esperado para falar, por ter julgado e por ter de voltar atrás. Avalia, porém, que essa é uma conseqüência positiva, porque, aos poucos, molda o comportamento e estimula o pensar antes de agir. "Claro que a reflexão só vem com o passar dos anos, porque, se o pavio é curto, não dá tempo para refletir", acrescenta.         
De acordo com a psicóloga Eliane Rose Maio Braga, definir impetuosidade não é uma tarefa fácil, porque se trata de emoções. Além disso, as pessoas são diferentes umas das outras, e encaram os sentimentos cada uma à sua maneira.
Contrário do que parece, entretanto, a impetuosidade pode ser uma característica positiva e, nesse caso, é mais fácil de ser encontrada nas pessoas. Isso porque elas precisam ter ímpeto para desbravar o diferente, como iniciar ou conseguir um novo emprego e fazer as provas do vestibular.
A grande dificuldade, no entanto, aparece quando a pessoa impetuosa começa a ferir a si mesma e aos que estão próximos a ela. Este é o sinal de que as atitudes são inadequadas para os padrões sociais. "A principal característica é a pessoa querer algo que naquele momento não pode ter. Então, não consegue segurar-se, e se lança com o intuito de obter o que deseja", ressalta a psicóloga.
Com isso, foge da tranqüilidade e se projeta, sem pensar, porque é invadida por uma emoção tão forte que impede a dosagem do limite necessário das ações ou das reações.
Relacionamentos
Para Suelen Mara Lautenschlager, estudante universitária, pensar antes de agir é difícil em qualquer situação. "O fato é que falo o que penso; antes, achava isso normal e não tinha idéia de que estava magoando as pessoas. Sofria muito, sentia-me diferente; é péssimo ser impetuosa", declara.
Hoje, quando percebe que vai faltar controle sobre as emoções, ela tenta calar-se, sai de perto da pessoa e chora sozinha. "Apesar de ainda serem poucas as vezes que consigo esse equilíbrio, percebo que as experiências que já tive me ajudaram a mudar", avalia, comemorando o fato de já conseguir ter amigas e se expressar melhor.
A estudante conta que age com ímpeto, desde pequena, e, talvez, a causa disso esteja em ter crescido observando o pai reagir da mesma maneira. "Para mim, tornou-se normal e acabei fazendo o mesmo".
Segundo a psicóloga Eliane, a impetuosidade seria o sintoma de uma causa maior, como problemas emocionais e pais que não ensinam limites e senso de realidade aos filhos. Seguindo esse raciocínio, a psicóloga defende não ser possível afirmar que a causa da característica seja biológica, porque, segundo ela, nem mesmo nossa personalidade é hereditária.
A frase, portanto, que reflete a discussão inatista: "filho de peixe, peixinho é" ou a ambientalista: "pau que nasce torto morre torto". Não são boas respostas para o caso. "O ímpeto não é genético, porque provém da convivência e do desenvolvimento emocional", afirma.
Para ela, é preciso saber até mesmo se a pessoa sofreu ou não rejeição ainda mesmo na gestação, porque não é raro atender pessoas que dizem ouvir frases dos pais, como: "Desde que existe, você estragou a minha vida". Dessa forma, chega um dia em que o emocional explode e a impetuosidade é apenas uma das formas de se expressar.
Aprender a viver
Como é uma questão de convívio e aprendizagem, a Eliane Maia, ressalta, ainda, que cura não é a palavra mais apropriada para o sintoma, porque, na verdade, é preciso aprender a viver com a impulsividade. A boa notícia, no entanto, é que, ao buscar o controle próprio, o(a) impetuoso(a) acaba se condicionando a ter tranqüilidade e não sente mais aquele furacão de emoções tão incômodo.
Roseli comenta que, para se controlar, aprendeu a usar o que chama de "limítrofe", ou seja, momento em que atingiu o limite suportável e, por isso, pára tudo e muda o foco do que estava fazendo. "A experiência mostra que é mais inteligente esperar a hora certa para agir". Para exemplificar o raciocínio, cita os dizeres do sábio Salomão: "A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira".
No caso da fonoaudióloga, a busca pelo controle emocional tem tido sucesso. A psicóloga Eliane, porém, alerta que, quando a pessoa não consegue fazer caminhar a vida pessoal, acadêmica ou profissional, é necessária a ajuda de um psicólogo. Isso porque, a intensidade das características impetuosas pode aumentar, gerar baixa auto-estima e levar a outros quadros: como síndrome do pânico, depressão, compulsividade por compras, drogas e até ao suicídio{.}
por  Graziela Castilho

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