7.14.2011

CONSUMIDORES COMPULSIVOS

Consumidores compulsivos: como identificar

Especialista alerta sobre as consequências deste problema.

Roupas, sapatos, bolsas, maquiagem. Como todos sabem, mulher adora fazer umas comprinhas. Na sociedade atual, comprar é um ato tão comum, que poucos percebem quando a atitude está fora de controle. Sim, as ingênuas visitinhas a shopping centers podem virar um distúrbio muito sério chamado “Oniomania”.
A Oniomania, doença que atinge milhares de brasileiros, é o ato de comprar por compulsão, pelo simples prazer de comprar, não importando o que está sendo comprado. Os sintomas, geralmente, são ansiedade e depressão. A pessoa simplesmente tem que gastar e não consegue se controlar até que faça a compra.
A doença tem se tornado mais comum por conta do aquecimento da economia brasileira, que trouxe a facilidade do crédito ao consumidor. Esta facilidade traz muitas vantagens, como as compras parceladas e a realização de projetos sonhados durante muito tempo. No entanto, para quem sofre deste mal, o benefício se torna perigoso.
Hoje em dia, todas as grandes lojas oferecem cartões próprios, que podem ser adquiridos facilmente. O acesso a tanto crédito cria uma ilusão em relação ao poder de compra e ao dinheiro que realmente se tem. Na maioria das vezes, o limite oferecido é muito mais alto do que aquele que você pode pagar e, a disponibilidade de tantos cartões torna o controle da compulsão ainda mais difícil.
Para muitos, comprar é um ato de prazer e merecimento. Dessa forma, fica difícil perceber quando uma simples comprinha pode ser um distúrbio mais sério. Segundo a psicóloga Eliane Dominguez, é difícil mensurar em números quando os gastos estão no limite de serem considerados anormais, ou seja, quando indicam a doença: “Cada um tem um bolso ou uma necessidade de compra diferente. O distúrbio começa quando problemas começam a surgir, sejam eles financeiros ou pessoais. Na maioria das vezes, o problema acaba sendo financeiro e gera problemas nas famílias.”
De acordo com Eliane, normalmente os pacientes têm algumas características de personalidade parecidas, como a desenvoltura, a agilidade e a inteligência. Ela afirma ainda que nem sempre as compras são motivadas por lacunas emocionais. Muitas vezes, são pessoas bem sucedidas emocionalmente e profissionalmente, que tentam preencher algo que não identificam o que é com as compras.
Os tratamentos para a Oniomania são, basicamente, a terapia individual ou a em grupo. A terapia em grupo existe por meio dos “Devedores Anônimos”, que seguindo a base dos 12 passos e das 12 tradições, visa tratar os pacientes através das experiências de outros compulsivos. Em ambos os tratamentos, o primeiro passo é admitir a doença. Dependendo do tratamento escolhido é possível até o uso de medicamentos controlados para amenizar alguns sintomas.
A Publicitária Raquel Stein, uma compradora compulsiva que conseguiu retomar as finanças dá a dica: Engane a sua mente. Se achar alguma coisa que quer comprar, finja que vai primeiro em casa para pensar, e, se decidir voltar para comprar, se for o caso, reserve a mercadoria. Como, na maioria das vezes, é apenas um ato impulsivo, quando você chegar em casa não vai nem lembrar o que era.

Torrar o cartão de crédito em compras, se arrepender e, depois, voltar ao shopping para aliviar essa angústia - entenda por que esse ciclo vicioso pode ser doença

 
Nas mãos de Cláudia, o dinheiro escorria feito areia, tal era sua mania de comprar.
Para aplacar essa compulsão ela agora faz terapia


O guarda-roupa da técnica contábil Cláudia Bassan é um reduto de calças, blusas, bolsas e sapatos. Só jeans ela tem mais de 20. Alguns nem saíram da sacola da loja. "Já comprei dez peças em menos de uma hora, sem experimentar", conta. Isso estava longe de ser um sonho de consumo — para Cláudia era um pesadelo. "Cheguei a fazer nove empréstimos em um mês porque meu salário não dava nem para o cheiro", lembra-se. Além de acumular dívidas, ela ficava deprimida por ter adquirido tanta coisa sem precisar." Eu me sentia um lixo e escondia tudo no fundo do guarda-roupa para esquecer o meu descontrole. Tinha até mesmo uma espécie de ressaca, como se tivesse bebido muito." Hoje, aos 28 anos, Cláudia faz terapia para resolver sua compulsão. O neomania é como os especialistas se referem ao impulso exagerado de comprar itens desnecessários. "É uma perda de controle que leva fatalmente a sérias dificuldades financeiras", resume a psicóloga Denise Gimenez Ramos, coordenadora da pós-graduação em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica, a PUC de São Paulo. Segundo o neuropsicólogo Daniel Fuentes, do Hospital das Clínicas paulistano, hoje se discute se ela seria uma doença propriamente dita ou um sintoma de outras patologias que, coincidência ou não, também aparecem em seus portadores. "Muitos compradores compulsivos têm distúrbios de humor como pano de fundo. Ansiedade excessiva e depressão são alguns deles", diz.
Estima-se que 3% da população brasileira sofra de compulsão por compras — e nove em cada dez vítimas são mulheres. "A maioria não trabalha", nota Denise Ramos. Por isso, acredita-se que fatores socioculturais tenham certo peso. "Em geral a mulher é vaidosa e gosta de receber coisas do homem. E ele, por sua vez, gosta de ser o provedor do casal", observa a psicóloga Célia Horta. Claro, situações assim não são regra — mas, se aparecem, funcionam como estopim para quem tende a ser compulsivo.
Segundo Daniel Fuentes, alguns estudos apontam que os compradores compulsivos teriam um funcionamento diferenciado em determinada área cerebral — o lobo pré-frontal — envolvida na nossa capacidade de planejar e gerenciar ações. "Essa disfunção faria com que as pessoas tomassem atitudes imediatistas", diz o neuropsicólogo. Isso explicaria por que um indivíduo usa as compras para aliviar um problema emocional em vez de tentar resolvê-lo a médio prazo.
O psiquiatra André Malbergier, professor da Universidade de São Paulo, compara essa compulsão à dependência de drogas, em que a vítima oscila entre o prazer e um mal-estar torturante. "A interação com o vendedor é sempre estimulante para o compulsivo. Quando sai da loja, porém, ele entra em um quadro depressivo, só minimizado se consumir de novo", diz ele.
Para quebrar o ciclo vicioso da oneomania podem ser usados remédios, como antidepressivos e ansiolíticos, conforme o quadro. Mas a solução passa inevitavelmente pela psicoterapia. Afinal, o consumidor precisa aprender a resolver seus conflitos em vez de tentar compensá- los em uma ida ao shopping

MECANISMO DE RECOMPENSASegundo o psiquiatra André Malbergier, quando o compulsivo faz compras seu cérebro libera mais dopamina do que o normal e essa substância provoca uma sensação de euforia. Mas sua ação se esgota com rapidez. "Daí a pessoa fica apática, desanimada, desestimulada. Para recuperar o bem-estar, sente que precisa voltar às lojas."
SERÁ QUE EU PERCO O CONTROLE?Descubra se você tende a ser um consumidor compulsivo1. Você sempre cede à tentação de comprar algo?
2. Já escondeu as compras para ninguém saber que torrou seu dinheiro?
3. Já comprou algo desnecessário só por causa de um desconto "imperdível"?
4. Costuma se perguntar por que comprou isso ou aquilo?
5. Cai para trás com as dívidas no final do mês?
6. Já perdeu uma viagem dos sonhos porque se descontrolou nas compras?
7. Pede dinheiro emprestado para compensar as loucuras consumistas?
8. Sente prazer em comprar, mesmo que não precise de nada?
9. Tem um monte de roupas que nunca usou ou que usou muito pouco?
10. Já acumulou dívidas cinco vezes maiores que o seu salário?
Cada resposta afirmativa vale 1 ponto. Quantos você marcou? De 8 a 10: Você pode precisar de ajuda de um especialista para aprender a se controlar.
De 5 a 7: Você gasta além da conta. Cuide-se para não perder a direção.
De 3 a 4: Você adora fazer uma boa compra, sempre que possível.
De 1 a 2: Você controla seus gastos, mesmo ficando na vontade.
PARA RECUPERAR O CONTROLEEstas dicas podem ajudar quem costuma fugir dos problemas consumindo sem parar
1. Perceba e assuma que você está deprimido ou tem algum problema precisando ser encarado.
2. Peça a alguém de confiança que cuide da sua conta bancária.
3. Saia de casa sem talão de cheques e sem cartão de crédito. Leve apenas o dinheiro necessário para a condução e a alimentação.
4. Não entre em shoppings de jeito nenhum!
5. Pare de pedir dinheiro emprestado a bancos, amigos ou parentes.
DEVEDORES ANÔNIMOSPara ajudar os consumidores compulsivos foi criado um grupo, o DA, nos moldes do tradicional Alcoólicos Anônimos. A primeira atitude de quem passa a freqüentar as reuniões é admitir a impotência diante das dívidas. Nesses encontros os participantes expõem seus problemas e, assim, uns se identificam com outros. Depois de três meses, o compulsivo pode eleger um casal de padrinhos para lhe dar assessoria financeira. Em São Paulo, maiores informações pelos telefones (11) 3229 6706 e (11) 3081 3446. O endereço do site é: www.devedoresanonimos-rj.cjb.net
Fonte: abril.com 

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