Autoridades ocupam a favela da Rocinha, no Rio
Retomada era o maior desafio para a política de instalação de Unidades de Polícia Pacificadora no Estado do Rio de Janeiro
Wilson Aquino
Ao meio-dia a bandeira do Brasil foi hasteada na Rua 1, o ponto mais alto da favela, simbolizando a tomada total da comunidade. E os policiais distribuíam entre os moradores panfletos com telefones para denúncias de esconderijo de traficantes. Algusn panfletos foram lançados pelos helicópteros. Quando os homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e Batalhão do Choque se posicionaram nos acessos da Rocinha para iniciar a operação de retomada da favela, fogos foram estourados alertando sobre a chegada da polícia, mas não houve confronto com os bandidos, como já era esperado pela Secretaria de Segurança, desde que o chefe do tráfico Antonio Bonfim Lopes, o Nem, foi preso quando tentava escapar da favela, no final da noite de quarta-feira, na mala de um automóvel importado. O único esboço de reação por parte dos traficantes foi o derramamento de óleo e muito lixo na Estrada da Gávea, um dos principais acessos à Rocinha, para dificultar a manobra dos tanques blindados da Marinha e o “Caveirão” do Bope. Até essa hora, apenas 13 armas, sendo 11 fuzis, uma submetralhadora, uma escopeta e uma granada foram encontradas no matagal, na parte alta da Rocinha. Dois fuzis tinham adesivo de um coelho, fazendo com que os policiais deduzissem que as armas pertenciam ao traficante Coelho, braço direito de Nem. No Morro do Vidigal, foram apreendidos 16 máquinas caça-níqueis.
Os moradores comemoraram a tomada da favela com discrição. Mesmo com a ocupação, eles mostravam cautela e evitaram falar sobre os traficantes. Por volta das 7 horas, muitos começaram a aparecer nas janelas das casas de tijolos. “Estou assistindo de camarote”, festejou uma moradora que preferiu não se identificar. Outra se certificou que não estava sendo observada, antes de fazer o sinal de positivo e aplaudir. O presidente da União Pró-Melhoramentos da Rocinha, Leonardo Rodrigues de Lima, o Léo, recepcionou os policiais do Bope e se colocou à disposição para ajudar no relacionamento com os moradores. “Que seja bem vinda a UPP (se referindo à 19@ Unidade de Polícia Pacificadora que será instalada na Rocinha), mas que venham também as políticas públicas. Precisamos de saneamento, mais educação e saúde”, cobrou o líder comunitário.
Policiais militares, federais e civis vasculharam a favela atrás de traficantes. Além do arsenal apreendido, um suspeito foi detido. Uma casa que seria usada pelo traficante conhecido como Peixe, preso na quarta-feira quando tentava escapar da favela escoltado por policiais havia piscina e uma suíte com banheira de hidromassagem, além de um gigantesco aquário com quase dois metros de dimensão.
Maior favela do Rio, com população estimada em 120 mil habitantes, distribuídos por mais de 30 mil casas, a Rocinha era tida como a favela mais complicada para a instalação de uma UPP, em função das suas gigantescas dimensões e pelo grande poder que o narcotráfico exercia sobre a população local. O tráfico na Rocinha, de acordo com a polícia, era o mais rentável entre as favelas dominadas por traficantes. Lá eram vendidos cerca de 200 quilos de cocaína por semana e com faturamento estimado em R$100 milhões por ano. Encrustada entre dois dos mais chiques bairros do Rio de Janeiro (Gávea e São Conrado), a Rocinha abastecia de drogas a classe média alta carioca.
Isto É
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