11.17.2011

O que a internet está fazendo com nossos cérebros


Carr: A tecnologia pode obstruir o aprendizado, a memória e talvez a empatia. Foto: John Todd/AFP
Quando Nicholas Carr escreveu The Shallows: What the internet is doing to our brains (A Geração Superficial: O que a internet está fazendo com o nosso cérebro), o iPad ainda era apenas uma boa promessa, o Google Wave aparecia como um provável sucesso e os e-books ainda não tinham decolado. Hoje, o Google aposentou o serviço, o iPad é sucesso no mundo todo e as vendas de e-books estouraram nos Estados Unidos. Nesta entrevista, Carr diz como os novos avanços tecnológicos e da internet continuam oferecendo riscos aos nossos cérebros.
Carta na Escola: A maneira como a web é organizada estimula um sistema de recompensas que sugere que somos explorados pelos sites em suas brigas por audiência e retorno comercial. Seria o caso de algum controle legal ou de regulação a respeito do que se pode fazer na rede? Precisamos de proteção? Isso não implicaria censura da liberdade de expressão?
Nicholas Carr: É difícil dizer o quanto de nossos hábitos online resultam de pressões comerciais e o quanto é um reflexo de nossas próprias escolhas. Em outras palavras, nós podemos estar escolhendo ser superficiais. Não estou seguro a respeito de o controle governamental ou das regulações na forma como usamos a rede ser algo aconselhável. Se quisermos mudar nossos hábitos, isso realmente depende de nós, como indivíduos e como sociedade.
CE: A invenção e a proliferação da escrita e da leitura não são uma história fácil, nem mesmo natural, como o senhor reforça. Seria justo imaginar que o futuro da leitura e da escrita será determinado apenas pela facilidade dos usuários na utilização de ferramentas tecnológicas? Não temos espaço para mais esforços cognitivos?
NC: Nossa tendência é usar tecnologias para facilitar nossa vida, não para dificultar e, com os computadores em rede, esse desejo por conveniência está tendo uma enorme influência sobre nossas vidas intelectuais, assim como em nas físicas. Acho que existem evidências de que essa tal facilidade pode obstruir nosso aprendizado e nossa memória, e talvez até mesmo nossa disposição para a empatia.
CE: Quando o senhor publicou seu livro, em 2010, os livros eletrônicos representavam apenas 35% do total das vendas da Amazon. Agora, esse número já ultrapassa o de vendas de obras impressas. Procuramos por mais narrativas longas, ao mesmo tempo que gostamos da experiência dos aparelhos eletrônicos?
NC: As primeiras versões de leitores digitais, como o Kindle original, faziam um bom trabalho na replicação da experiência de um livro impresso. Mas, como já estamos vendo nas versões recentes de aparelhos como o iPad e o Nook, mais e mais opções e funcionalidades estão sendo incorporadas – e, ao mesmo tempo, oferecendo mais distrações aos leitores. Acredito que, no longo prazo, livros digitais tendem a ser lidos de maneira mais superficial, mais distraída do que os livros impressos.
CE: Com a web 2.0, as redes sociais e as ferramentas de curadoria e seleção de conteúdos, parece que caminhamos para uma relação mais atuante na rede e que nos leva a escolher nossas leituras. No entanto, diminuímos a quantidade de conteúdos diferentes a que somos expostos. Corremos o risco de perder a dimensão da rede e de ficar presos em um mesmo grupo?
NC: Sim, acho que estamos vendo essa mudança para uma rede mais controlada, mais “personalizada”. Essa é uma tendência muito similar ao que vimos com outros meios de comunicação no passado, como o rádio, e parece ser o resultado da comercialização. Certamente, há o risco de que acabaremos sendo expostos apenas ao que nos é familiar e assim reforçaremos as nossas próprias idiossincrasias. Nós nos tornaríamos mais limitados, em vez de mais amplos em nossas perspectivas.
Carta Capital

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