Os dias vão passando e você passa a perceber que não tem mais aquele ânimo que tinha antigamente. Isso é tristeza ou depressão? Isso é a rotinas da vida que faz com que tudo perca seu brilho inicial, e passa a incomodar pela sua mesmice? Enfim, quando somos arrebatados por essa sensação logo começamos a pensar em diversas razões para tentar explicar e entender tal condição. O fato é que quase nunca conseguimos explicação satisfatória. E aí então vamos ao médico.
Para o médico a depressão consiste em desarranjos da química em seu cérebro e isso precisa ser sanado com remédios (farmacoterapia). Muitos criticam os médicos por terem uma visão simplista das condições mentais de um indivíduo e de entupirem as pessoas de remédios, mas essa é a tarefa deles: tratar os pacientes com remédios e isso, bem ou mau, funciona. E é isso que esperamos dos médicos: que sejam rápidos e efetivos.
Você começa a tomar os remédios e sente alguma melhora: dorme melhor, lembra mais das tarefas do dia e consegue sorrir novamente, mas, ou mesmo tempo, sente um desgosto, um marasmo, uma coisa que não passa. Então você inicia uma psicoterapia (que, junto da farmacoterapia, é indispensável) que vai no sentido de você relembrar fatos do seu dia e da sua vida e contá-los em alto e bom tom para um analista (ou psicólogo). Mas o grande problema da depressão é a memória. É lembrar que você já foi mais feliz um dia... Você já foi mais feliz antes do que no tempo presente. Então não seria melhor tratar de esquecer o passado em vez de relembrá-lo e recontá-lo? Muitas pessoas pensam assim e não as recrimino. Não é fácil nem tão pouco agradável lembrar e contar coisas da nossa vida porque o passado pode ser algo perturbador, ora pela sua retumbante felicidade ora pelos fracassos, perdas e desilusões. Esse estado de felicidade parece ser algo que nos remete a infância, em que tínhamos certa satisfação em não fazer nada de útil, nada de rentável, nada de produtivo... Apenas éramos crianças. Claro que criança sofre, mas bem menos. Quando adulto você precisa trabalhar e trabalhar para ter dinheiro e ter dinheiro para poder tentar ser feliz. E na tentativa de ser feliz está todo desastre que culmina na depressão que sentimos. Ser feliz hoje é algo bem estabelecido: ter dinheiro é o fundamento do processo.
Como ser feliz sem um carro? Como ser feliz sem uma casa própria? Como ser feliz sem comer em restaurantes chics? Como ser feliz sem comprar aquele sapato? Como ser feliz sem ter filhos? Como ser feliz sem mostrar para todos que você parece ser feliz? A felicidade passa então a perseguir as pessoas, como se tivéssemos a obrigação de sermos felizes. E ser feliz é o contrário de ser depressivo. Deprimido você não trabalha, não trabalhando você não ganha dinheiro, não ganhando dinheiro você não consome, não consumindo você não presta, não prestando você precisa ir ao médico para que ele lhe conserte.
É próprio da depressão um raciocínio circular que nos leva ao buraco, como o raciocínio colocado nas linhas acima. Sair desse raciocínio circular é uma das chaves da resolução da depressão.
Por S. de Souza-Pinto
Por S. de Souza-Pinto
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