12.29.2011

A pessoa-ponte

Ela me disse que acordou nua ao lado do cara. Nua, em todos os sentidos. Não que tivessem transado pela primeira vez e aquelas celulites lhe causassem algum constrangimento na luz da manhã. Sentia como se ele pudesse enxergar seus pensamentos e isso, sim, a envergonhava. Minha amiga não queria com ele nada além de tomar seus “bons drink”, fazer sexo casual e dormir de conchinha quando a carência se acomodasse junto aos dois, sob os lençóis do motel.
No amor e no sexo, as pessoas-ponte são mais construtivas do que a gente imagina

O problema é que o rapaz não a considerava o que chamo de “pessoa-ponte”. Queria que ela fosse o caminho inteiro. Feito ejaculação precoce, a história acabou bem antes do previsto. Ela ficou com a solteirice e ele, com uma mágoa do tamanho de suas expectativas. Com aquela sensação tão comum de “perda de tempo”. Desconfio que você, leitor, já tenha sido apenas travessia para algumas pessoas. E tenha feito o mesmo com outras.
No amor e no sexo, precisamos de pessoas-ponte para chegar a conclusões e mudanças que seriam impossíveis sem as experiências boas e ruins que elas proporcionam. Você descobre que ciúmes pode destruir uma relação, que língua na orelha te dá mais aflição que prazer, que gosta de pegar no sono roçando os pés nos dela, que homens broxam – e não necessariamente é culpa da sua calcinha bege.
Percebe que seu “panceps” não pode ser maior que a sua auto-estima, que transar sem afeto também leva a orgamos múltiplos, que clitóris não é campainha da casa da mãe joana para apertar ininterruptamente. De repente, ela liberta suas fantasias sexuais, seus pudores e suas inseguranças.
Pessoas-ponte te preparam para as “pessoas-rodovia”, aquelas com quem você quer seguir lado a lado por diferentes paisagens. Nesta virada de ano, se a sua mágoa ou o seu arrependimento permitirem, você verá que essas pessoas foram absolutamente construtivas na sua vida.
 08:30, 28/12/2011
Nathalia Ziemkiewicz

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