2.11.2012

Liderança não vem da teoria, mas sim da prática


Tetiana Mykhailiuk, presidente da AIESEC, a maior organização estudantil do mundo, explica como a entidade inspira mais de 65.000 jovens líderes

Beatriz Ferrari
Tetiana Mykhailiuk, presidente mundial da AIESEC Tetiana Mykhailiuk, da AIESEC, lidera mais de 65.000 jovens em 110 países (Arquivo Pessoal)
A AIESEC, originalmente uma abreviação de Association Internationale des Etudiants en Sciences Economiques et Commerciales – ou Associação Internacional de Estudantes de Ciências Econômicas e Comerciais, em português – é a maior organização estudantil do mundo. Sediada em Roterdã, na Holanda, a entidade tem como missão inspirar mais de 65.000 jovens, espalhados por 110 países em mais de 2.100 universidades. À frente desta verdadeira multinacional está uma ucraniana de 25 anos que é o espelho da geração que atende. Formada em administração de empresas, Tetiana Mykhailiuk, atua desde os 14 anos em organizações não governamentais voltadas à juventude. Sua ambição sempre foi se tornar uma empreendedora de sucesso, sobretudo no campo da educação. Na AIESEC, ela não só atinge esse objetivo, como também ajuda jovens inspiradores de todo o planeta a transformarem suas ideias em projetos bem-sucedidos.
Entre uma conferência e outra com os escritórios da entidade em todo os continentes, Tetiana cuida também do relacionamento da AIESEC com empresas globais, como Microsoft, Electrolux, PricewaterhouseCoopers, Nike e Unilever, que querem se aproximar de jovens com consciência social, conectados com o mundo e focados no próprio desenvolvimento. O assédio das companhias é compreensível, já que entre os mais de um milhão de jovens que passaram pela organização estão nomes como Mario Monti, primeiro-ministro italiano; Cavaco Silva, presidente de Portugal; e o finlandês Martti Ahtisaari, prêmio Nobel da Paz em 2008.
Criada em 1946 em Liége, na Bélgica, a AIESEC surgiu como uma plataforma de intercâmbio profissional entre estudantes. Com o tempo, esta passou a ser uma das ferramentas da organização, que se voltou a políticas diversas direcionadas ao desenvolvimento de jovens líderes globais. O nome por extenso em francês não é mais utilizado, já que estudantes de qualquer parte do globo podem fazer parte. A cada ano, todas as posições de liderança são renovadas. Em julho, Tetiana deve deixar o cargo, que pode ser ocupado pela brasileira Anna Laura Schmidt, ex-presidente da AIESEC no Brasil, caso seja eleita.
Tetiana falou ao site de VEJA sobre o desafio de criar novas lideranças globais.
Como a AIESEC estimula o desenvolvimento da liderança entre os jovens?

A estratégia é criar oportunidades para que os jovens assumam um papel ativo no mundo. Procuramos lhes dar problemas reais para que possam resolver. Isto porque uma das premissas da AIESEC é que a liderança não vem com a teoria, mas sim com a prática. Cremos que qualquer um pode ser um líder se tiver uma chance.
A experiência da organização mostra que, depois que os jovens passam por lá, eles se tornam mais empreendedores. Passam, inclusive, a olhar para os problemas que precisam resolver não como uma dificuldade, mas como uma oportunidade. É uma liderança direcionada para a criação de valor. Vi essa mudança acontecer em mim. Eu mudei a maneira como tomo minhas decisões, como me comunico e como lidero as pessoas.
O intercâmbio profissional sempre ocupou lugar de destaque da AIESEC. Como ele pode ajudar no processo de desenvolvimento de liderança entre os membros?

Temos um programa de intercâmbio global em que os membros podem trabalhar em grandes companhias em todo o mundo. O objetivo é que tenham a oportunidade de vê-las funcionando por dentro. Eles podem continuar trabalhando nessas empresas quando voltam para casa. Contudo, mesmo nos casos em que preferem cortar o vínculo profissional, os jovens levam consigo a aprendizagem que tiveram para outros projetos, como, por exemplo, quando vão abrir seu próprio negócio.
É inegável que as companhias propiciam experiências práticas reais. O problema é que muitos estágios convencionais em empresas são oferecidos apenas para cargos de baixa responsabilidade. A especialidade da AIESEC é abrir espaço para que os intercambistas assumam tarefas realmente importantes e possam exercer impacto nas organizações para as quais estão trabalhando.  As empresas também participam dos nossos programas e conferências para desenvolvimento de liderança, disponibilizando equipes que vão compartilhar opiniões, conhecimento e experiência com nossos membros.
Você comanda uma organização com 65.000 jovens comprometidos em liderar processos de mudança no mundo. De todos eles quem se destaca?

Em nossa última conferência mundial, em agosto no Quênia, tivemos um momento em que apresentamos casos de sucesso de nossos membros. O mais interessante, a meu ver, foi o de Marianne Knuth, nascida na Dinamarca, de mãe dinamarquesa e pai zimbabuano. A família decidiu se mudar, quando ela era ainda criança, para o país africano. Marianne passou a vida entre os dois continentes, mas, quando fez 16 anos, voltou para ficar mais tempo na Europa para aprofundar seus estudos. Já adulta, após passar pela AIESEC da Dinarmarca, decidiu retornar ao Zimbábue para abrir uma escola chamada Kufunda Village. O propósito do projeto é que as pequenas comunidades rurais do país tenham sua própria produção, construam suas escolas e ergam seus pequenos hospitais para que possam ser autossustentáveis. Isso tem tudo a ver com os “Objetivos do Milênio” e com o que a Organização das Nações Unidas (ONU) está tentando implementar na África. A iniciativa dela começou bem modesta e agora está se popularizando no Zimbábue. É uma história muito inspiradora de como alguém pode liderar mudanças na vida de muitas pessoas.
Como os jovens da AIESEC na Europa reagem à crise econômica pela qual passa o continente?

A AIESEC é apolítica. Não temos uma posição da organização sobre a crise mundial. Contudo, nossos membros, individualmente, assumem um papel importante nas mudanças que estão em curso na sociedade. Minha recomendação é que os governos ouçam mais o que esses jovens têm a dizer, que abram espaço para uma ação mais colaborativa. Esses jovens estão agora com seus olhos voltados para o futuro, não apenas para sua própria carreira profissional, mas também para projetos inovadores e questões sociais.
Veja

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