4.28.2012

Bactérias do iogurte podem ajudar a combater doenças inflamatórias do intestino

Nutrição

Enzima produzida por microrganismo presente em iogurtes probióticos ajuda a diminuir quadros de inflamação no sistema digestivo

Imagem microscópica mostra os lactobacilos, bactérias que podem ser aliadas no combate a doenças inflamatórias no intestino Imagem microscópica mostra os lactobacilos, bactérias que podem ser aliadas no combate a doenças inflamatórias no intestino (Thinkstock)
Uma equipe de pesquisadores da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha, descobriu que alguns tipos de bactérias presentes nos iogurtes, como os lactobacilos, podem proteger o corpo contra doenças inflamatórias do intestino. Em um estudo feito com camundongos, os especialistas mostraram que o efeito probiótico desses microrganismos pode interromper processos inflamatórios do corpo. A pesquisa foi publicada na edição deste mês do periódico Cell Host & Microbe.

Saiba mais

ÁCIDO LÁTICO
Pode se formar naturalmente a partir de  reações de fermentação de alimentos como queijos e iogurtes, e também pode se formar sinteticamente. Reações do corpo humano com atividade física também podem produzir ácido lático.
PROBIÓTICOS
São microrganismos 'do bem', bactérias (como os lactobacilos) que contribuem para o bom funcionamento do organismo. Nos intestinos grosso e delgado, ajudam a regular movimento peristáltico e síntese de vitaminas, por exemplo, além de auxiliar no equilíbrio entre as bactérias que habitam os intestinos.
DOENÇAS INFLAMATÓRIAS DO INTESTINO
Acontecem quando há uma inflamação no intestino e o aparecimento de cólicas recorrentes e diarreia. As duas principais doenças são a Doença de Crohn e a colite ulcerativa. A primeira é uma inflamação crônica que atinge qualquer parte do aparelho digestivo, enquanto a segunda afeta principalmente o intestino grosso.
Em experimentos realizados com camundongos, os pesquisadores observaram a ação da bactéria do grupo Lactobacillus casei, presente no ácido lático do leite, e descobriram que ela produz uma enzima capaz de interromper processos inflamatórios no organismo. Isso acontece pois a enzima quebra moléculas que trabalham como mediadoras do processo inflamatório. No caso, rompem as citocinas (moléculas que ajudam as células a se 'comunicarem') pró-inflamatórias — tipo de citocina que, diferentemente das anti-inflamatórias, contribuem para os quadros de inflamação no intestino.
De acordo com o estudo, transtornos intestinais crônicos, como a doença de Crohn e a colite ulcerosa, são resultados de um mau funcionamento do mecanismo de defesa do corpo. Nesses casos, as citocinas pró-inflamatórias podem contribuir para a lesão no tecido devido a processos inflamatórios crônicos, impedindo a cicatrização dos tecidos.
De acordo com Dirk Haller, coordenador do trabalho, essa enzima é um elemento comum na área de pesquisa em tecnologia dos alimentos. Mas o que é surpreendente na sua pesquisa é o fato de que a proteína tem força para agir sobre importantes mediadores da resposta imunológica do organismo a processos inflamatórios. Para o pesquisador, o mecanismo que foi descoberto pode ajudar em novas abordagens de prevenção e tratamento de doenças intestinais crônicas. Seu próximo passo será realizar estudos clínicos que apliquem o uso farmacêutico da enzima em seres humanos e comprovem sua eficácia.


Opinião do especialista

Flávio Quilici
médico gastroenterologista e membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG)

"Já é sabido que as bactérias probióticas, que são as bactérias 'do bem', agem de maneira benéfica no intestino. Elas auxiliam na digestão, ajudam a combater bactérias que fazem mal ao corpo e algumas ajudam a amenizar processos inflamatórios.
No entanto, há uma dificuldade em determinar quais bactérias são boas para determinados problemas. Esse trabalho de busca pelas bactérias certas vem sendo feito ao menos há 15 anos. Já sabemos, por exemplo, que algumas desses bactérias que ajudam nas inflamações estão presentes no iogurte, estabilizando ou melhorando a doença.
Porém, ainda não foi possível identificar a bactéria correta para ajudar a compor medicamentos. Por isso, por enquanto, elas são usadas apenas como um complemento, e não como o tratamento em si."

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