Nos últimos dias sucessivos problemas envolvendo erros em hospitais
brasileiros foram noticiados pela mídia. Esses acidentes trazem como
causa algo mais do que o erro humano. A máxima da Organização Mundial da
Saúde (OMS) no sentido de que “é mais arriscado e perigoso ir a um
hospital do que andar de avião” pode ser ilustrada por casos recentes
que provocaram mortes e graves ferimentos a pacientes brasileiros.
Como justificar que uma criança receba um ácido usado para
cauterização de verrugas (ácido tricloroacético) em lugar de sedativo?
Somente no primeiro trimestre desse ano, três bebês foram vítimas do
mesmo erro: ministraram leite na veia ao invés de soro.
Não se pode tratar como coincidência outro fato: no Distrito
Federal, ar comprimido em lugar de oxigênio seria a causa da morte de 13
pacientes que permaneceram no leito em que foi verificado o defeito na
tubulação, a qual estava invertida.
Um evento que causou alarde foram denúncias presentes em
mensagens trocadas por médicos de um hospital no Rio de Janeiro. Nos
e-mails, os profissionais tratam das seguintes ações: uma peça cirúrgica
esquecida em paciente; a orientação para a rápida ocupação de leitos na
UTI, a fim de evitar transferências externas; comentam o adiamento de
cirurgias por falta de material e; o isolamento inadequado de paciente
com doença infecciosa, o que poderia o ocasionar a disseminação da
patologia entre os pacientes.
De forma intencional ou acidental - não cabe aqui julgar o mérito
– o vazamento de informações referentes ao atendimento deste hospital
no Rio de Janeiro trouxe um holofote para um problema diário, grave e
que se escancarava - inclusive ao poder público – sem iniciativas que
atenuassem as dificuldades daqueles profissionais de saúde.
Sem a pretensão de eleger um “bode expiatório”, pode-se afirmar
que cuidados mínimos poderiam ser tomados pela simples identificação de
medicamentos, utilizando cores distintas e locais distintos de
armazenamento. De toda sorte, parece-nos descabido que somente o técnico
em enfermagem, enfermeiro ou médico sejam punidos exemplarmente. Talvez
esses profissionais envolvidos em acidentes diários dentro dos
estabelecimentos de saúde devessem também ser tratados como vítimas,
porque o são.
Da mesma forma, impossível dizer que apenas o setor público
apresenta deficiências. Mas, é fato que são necessárias reformas
sanitárias. O gerenciamento de riscos é uma condição sine qua non em
saúde.
Esses são casos recentes ilustram a máxima da OMSno sentido de
que milhões de pessoas morrem de infecções hospitalares epor erros
médicos no mundo. Liam Donaldson, o representante para os pacientes da
ONU junto à OMS, referiu que, quando alguém entra em qualquer hospital
do mundo, “há 10 por cento de probabilidades de ser vítima de um erro
médico e, destes, um em cada 300, acaba por morrer”. Vê-se, portanto,
que os problemas na área da saúde não são exclusividade do Brasil.
É essencial a melhoria das condições dos trabalhadores do setor:
ausência de estrutura física e humana culmina em mau atendimento dos
usuários dos serviços de saúde. Evidente que as condições degradantes em
que trabalham os profissionais, inclusive pela excessiva carga horária
necessária garantir sua renda mensal, não são positivas para qualquer um
dos envolvidos na prestação dos serviços: o prestador e o paciente.
Por Sandra Franco, consultora jurídica especializada em
Direito Médico e da Saúde,
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