Pistas não faltam: seja pelo jeito peculiar com que as famílias vão se transformando, seja pela rotina das cidades, a evolução dos gostos e preferências das sociedades
1 - Morar Sozinho
Sozinho em um apartamento. Assim viverá grande parcela da população mundial nas próximas décadas, de acordo com os analistas de tendências. A largada foi dada pelos países mais ricos, em especial os localizados na península escandinava. Ali estão os três com mais moradores avulsos do mundo: Noruega, Finlândia e Dinamarca – em todos, mais de um terço das casas tem um só habitante. No Brasil, o fenômeno ainda desponta, mas com bastante vigor. Entre o censo de 2000 e o de 2010, o número total de moradias com um só habitante subiu 41%. Hoje são cerca de sete milhões de casas de sozinhos. A equação que explica o fenômeno, seja aqui, seja na Noruega, tem em sua base três fatores comuns. “São eles a estabilidade econômica, a independência feminina e a revolução da comunicação”, disse à ISTOÉ Eric Klinenberg, pesquisador da Universidade de Nova York e autor do livro “Vivendo Sozinho” (tradução livre, Editora Penguin, 2012). Nesse somatório, explica Klinenberg, cada elemento influencia a seu modo. O dinheiro é fundamental para pagar os custos, que são maiores. A independência feminina permitiu às mulheres bancar um estilo de vida independente, tornando-as parcela significativa dessa população. E os meios de comunicação facilitam a convivência, evitando que os sozinhos se tornem solitários.
Solidão, inclusive, não é boa palavra para
definir essa nova geração de quem mora só. O que se vê nesses lares nem
de longe lembra a imagem estigmatizada da excêntrica tia solteirona sem
amigos e cheia de gatos. “Moro só por opção e nem bicho de estimação
tenho, pois passo quase o dia todo fora”, diz o engenheiro Frederico
Lainer, 30 anos, que vive em um espaçoso quarto e sala na Cidade Baixa,
bairro tradicional de Porto Alegre. Lainer resolveu assumir a casa por
sua conta e risco após um período de vida em comum com uma namorada.
Hoje engrossa a lista dos sozinhos de Porto Alegre, capital brasileira
líder no ranking de gente que vive só. Por lá, 21,4% das residências
abriga um único morador, índice bem acima da média do País, que é de
12,2%. Mas quem imagina que morar só é coisa de jovem, se engana. Os
maiores de 60 anos representam 42% das casas de um único habitante no
Brasil. “O fenômeno ocorre atrelado ao envelhecimento da população”,
afirma a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) Ana Lúcia Sabóia. Mais velhos, com boa saúde e estabilidade
financeira, os idosos têm optado por seguir a vida em suas próprias
casas, bancando as despesas.
Enquanto cada vez mais gente opta por um
estilo de vida sozinho (apenas nos Estados Unidos, 36% de sua população
estará morando só até 2020), teóricos começam a discutir outra faceta
desse fenômeno: sua sustentabilidade. “A quantidade de alimento que se
compra é grande, então se perde muito, sem contar os gastos fixos, como
eletricidade, que não são divididos”, afirma o professor Samy Dana, da
Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Todo esse
consumo concentrado em uma só pessoa tem feito vários pesquisadores
rotularem esse estilo de vida como insustentável em larga escala. O
próprio Dana, porém, faz a defesa de quem mora só e diz que há
necessidade de se estudar melhor o tema. “Se por um lado se gasta mais
eletricidade, de outro se economiza combustível, porque a maior parte
das residências dos sozinhos está nas regiões centrais, então se gasta
menos com deslocamento.” .
2- O fim do dinheiroPouco seguro, o dinheiro de papel vislumbra uma derrota cada vez mais próxima para as novas tecnologias. Com um mercado de pagamentos móveis com potencial para movimentar US$ 600 bilhões por ano até 2016, nos cálculos da consultoria Gartner, o celular é a próxima fronteira a ser explorada pelos bancos (leia reportagem à página 64). Lançado recentemente pelo governo brasileiro, o Sistema de Pagamento Móvel promete ser uma alternativa para quem ainda não está incluído no sistema financeiro, além de reduzir os custos das transações eletrônicas e aumentar a concorrência, reinventando assim a forma como se utiliza a moeda no País. As regras do novo marco regulatório serão definidas pelo Congresso em 2013. O alcance da medida é amplo. Afinal, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 70% dos brasileiros acima de 10 anos de idade têm celular. A perspectiva da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) é que, até 2018, os aparelhos móveis tenham o mesmo peso que a internet nas transações bancárias.
3- A casa sem empregada
Agências que oferecem serviço eventual de faxineiras. Eletrodomésticos mais práticos e compactos. Comida congelada e produtos de higiene mais eficientes e concentrados. Alta expressiva no número de famílias que optam por diaristas. Vale-tudo para compensar a escassez de empregadas domésticas mensalistas no Brasil. Cerca de 500 mil mulheres, 10% do total, largaram a profissão entre 2009 e 2011, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As profissionais que se ocupavam dos afazeres domésticos tiveram acesso à educação e optaram por se recolocar em postos de trabalho no setor de comércio e serviços. E o mercado tem respondido com novos serviços e produtos para suprir os hábitos das famílias.
4- Comida que não estraga
“Validade: 5 anos após a data de fabricação”. Parece absurdo, mas essa frase pode estar escrita na embalagem de um sanduíche num futuro não muito distante. E não estamos falando de comidas desidratadas e sem gosto. A culinária do futuro visa a estender o tempo que os produtos podem ficar nas prateleiras dos supermercados, mas sem perder em nutrientes, textura, aparência e, claro, sabor.
Uma das maiores interessadas no tema é a Nasa. Com a tecnologia disponível hoje, uma viagem tripulada de ida e volta a Marte levaria mais de três anos. Assim, um dos maiores desafios da agência espacial americana será alimentar os astronautas durante o período. “Vamos criar um menu que dure até cinco anos em temperatura ambiente, sem refrigeração ou congelamento, pois os equipamentos ocupariam muito espaço e energia da nave. Estamos investigando o uso de técnicas alternativas”, explica Grace Douglas, pesquisadora do Projeto de Tecnologia Avançada de Alimentos da Nasa.
O Exército americano já usa a tecnologia de alta pressão para desenvolver o que tem sido chamado de “sanduíche indestrutível”. Com a meta de produzir alimentos que possam ser carregados pelos soldados em longas expedições, a principal função do HPP nesse caso é criar uma barreira contra a umidade e o oxigênio, elementos que tornam o ambiente propício e agradável para as bactérias. Até o momento, já conseguiram manter fresco um sanduíche de pepperoni por três anos.
A alta tecnologia aplicada à conservação de alimentos pode ajudar o homem a explorar regiões inóspitas da Terra e do espaço. Além disso, se conseguíssemos diminuir as perdas durante o transporte e o armazenamento, poderíamos reduzir o desperdício de 1,3 bilhão de toneladas de comida que acontece todos os anos, de acordo com dados da ONU. Mas, como toda revolução tecnológica, os alimentos de longuíssima duração podem encontrar resistência. Afinal, quem se arriscaria hoje a comer um sanduíche fabricado cinco anos atrás?
5- Vida social online
Não se espante se boa parte dos desejos de um próspero 2013 chegar a você neste começo de ano pelo Facebook. Ou que as fotos das férias do seu filho pisquem na tela do seu celular poucos segundos depois que elas forem tiradas. Acostume-se. A vida social, antes condicionada à presença física em festas, viagens, passeios e encontros, hoje acontece cada vez mais no mundo virtual. Com a ajuda das mais populares redes sociais – como Facebook e Twitter –, as pessoas compartilham de votos de felicidade a opiniões políticas, de fotos e vídeos de férias a reclamações de trabalho, de fofocas pessoais a gritos de torcida. E tudo de forma assustadoramente veloz, com alcance cada vez maior. Em 2012, por exemplo, 63,9 milhões de brasileiros se identificaram como usuários de redes sociais, acessando as páginas do computador de casa, do trabalho e pelo celular. Até 2014, serão pelo menos 79,3 milhões, ou 37,7% da população nacional, segundo dados da consultoria americana eMarketer. “Todos temos uma necessidade muito grande de pertencer a um grupo, de nos sentirmos parte de algo”, diz Luciana Ruffo, psicóloga do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Hoje, estar nas redes sociais é garantir pertencimento a um grupo cada vez maior e mais influente.”
6- Com a cabeça na nuvem
Uma boa memória e uma agenda de papel eram suficientes para armazenar boa parte das informações que utilizamos com mais frequência. Agora – com as facilidades oferecidas por computador, celular e ferramentas de busca –, datas de aniversário, números de telefone e compromissos migraram para fora de nossa cabeça. Não há consenso científico sobre se isso é bom ou ruim, mas uma coisa
é certa: a internet está mudando o funcionamento de nosso cérebro. Um experimento feito na Universidade de Colúmbia (EUA) apontou que as pessoas fazem menos esforço para memorizar uma informação quando acham que ela será armazenada no computador. Os pesquisadores notaram que, ao ouvir uma pergunta, os voluntários pensavam primeiro com quais mecanismos poderiam ir atrás da resposta. Segundo a psicóloga Betsy Sparrow, que conduziu o estudo, isso reflete uma falta de necessidade de decodificar internamente as informações que nos cercam.
7- Uma medicina feita para você
Você vai ao médico, relata seus sintomas e deixa o consultório com um pedido de exames tradicionais (colesterol, glicemia, etc.) e outro solicitando a análise do seu perfil genético. Ele deseja saber como seu organismo reagirá a determinada droga e se há algo em seu DNA que pode interferir – para melhor ou para pior – no trabalho a ser feito. Esta situação é a essência de um novo conceito de cuidado com a saúde chamado medicina personalizada. Ele consiste no oferecimento de estratégias desenhadas para o indivíduo de acordo com suas características genéticas.
A adoção da medicina personalizada também se intensifica na cardiologia. Existem testes para saber a resposta individual ao clopidrogel e a varfarina, usados por doentes cardíacos. E outras possibilidades estão em estudo. Um artigo publicado por Stephen Liggett, da Universidade do Sul da Flórida, descreveu como o perfil genético poderá predizer quem se beneficiará de uma droga para tratar insuficiência cardíaca, o bucindolol. “O teste nos diz quem irá responder à droga de uma forma muito favorável e quem não terá reação”, disse Liggett.
8- O convívio com a diversidade sexual
Não passou despercebida a iniciativa da Rede Globo de mostrar, na final do reality show “The Voice”, em dezembro do ano passado, imagens da família da vencedora, Ellen Oléria, com a seguinte legenda: “Mãe e namorada de Ellen”. A opção por não esconder a identidade sexual da participante é reflexo da mudança no modo como a sociedade brasileira lida com a diversidade – um avanço que ocorre a passos rápidos. “Sou formada em direito e minha monografia, apresentada em 2009, foi sobre a união homoafetiva”, afirma Rosa Maria Gonzaga Arouche, que acaba de formalizar seu casamento com Antonieta Cavalcante de Sousa na cidade de Santos, em São Paulo. “Na hora em que assinei a certidão, três anos depois, senti toda a emoção de ver o meu trabalho se concretizar.”
9- O preço da longevidade nas famílias
O Brasil já é uma nação de idosos. “E os estudos apontam que a partir de 2030 a população com mais de 45 anos crescerá”, afirma a economista Ana Alice Camarano, especialista em longevidade do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Se por um lado a convivência entre gerações de uma mesma família é gratificante, por outro, quando o envelhecimento não ocorre de forma saudável, é motivo de apreensão. Hoje, por exemplo, 3,1 milhões de idosos brasileiros têm dificuldades de executar as atividades mais básicas da vida diária, como tomar banho, comer e ir ao banheiro sozinhos. Os impactos financeiros e emocionais para cuidar deles são grandes e desgastantes para toda a família.“Um familiar em geral abre mão da sua vida para assumir o gerenciamento da vida do idoso. As contas, a compra e a administração dos remédios, as consultas, tudo vira tarefa dessa pessoa”, afirma o geriatra Saulo Buksman, diretor da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. O peso é tamanho que existe até uma doença já descrita com o nome de “estresse do cuidador”. “Mistura depressão, culpa e raiva. A pessoa tem um estresse muito forte, que pode induzir a doenças”, diz o médico.
Um dos problemas é que as políticas de hoje são voltadas apenas para o envelhecimento ativo. “Temos academia da terceira idade em cada esquina, centros de convivência, universidades para idosos, mas estamos deixando de lado o velho frágil e pobre”, diz a pesquisadora Ana Alice. “E não temos mais tantos cuidadores familiares. As famílias estão diminuindo e as mulheres hoje participam ativamente do mercado de trabalho. Elas não podem mais ficar em casa”, afirma. A especialista defende que seja dada uma compensação financeira ao parente que se dedique ao cuidado do idoso, já que muitos saem do mercado de trabalho para isso.
10- A imortalidade dos ídolos
Antes de morrer, o popstar Michael Jackson estava à beira da falência. No ano passado, contudo, ele foi o cantor morto com o maior rendimento no show business: faturou US$ 145 milhões. Se essa cifra prova que as chamadas “delebs” (celebridades falecidas) continuam vivas na memória de seus fãs, uma nova tecnologia veio mostrar que elas podem ser imortais: o holograma. A família Jackson já declarou que uma cópia digital do Rei do Pop está em estudo para uma turnê este ano, numa lista que inclui Elvis Presley, Jim Morrison, Jimi Hendrix, Freddie Mercury, Kurt Cobain e até Marilyn Monroe. No Brasil, um Cazuza versão digital está sendo feito pela empresa francesa 4DMotion para um show em comemoração aos seus 55 anos, em abril. “Temos de admitir que hoje a definição de carreira não se refere apenas ao período em que o artista era vivo”, afirma Mark Roesler, um dos maiores agentes desse segmento.
Ilustração: daniel rosini. foto: Jon Feingersh/getty images
Fotos: Nick Veasey, Eric Audras – getty images
Fotos: Yuriko Nakao/REUTERS; Ida P/getty images
Montagem sobre foto de Jetta Productions
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