Felicidade é a combinação de sorte com escolhas bem
feitas. Pessoas com vidas interessantes, interessam-se por gente que é o
oposto delas. Emoção nenhuma é banal se for autêntica. Dar certo não
está relacionado ao ponto de chegada, mas ao durante. O prazer está na
invenção da própria alegria, porque é do erro que surgem novas soluções,
os desacertos nos movimentam, nos humanizam, nos aproximam dos outros.
Enquanto o sujeito nota 10, nem consegue olhar pro lado, sobe pena de
ver seu mundo cair. O mundo já caiu, só nos resta dançar sobre os
destroços. Nosso maior inimigo é a falta de humor.
Mesmo as pessoas felizes precisam reavaliar
escolhas,confirmar sentimentos, renovar os votos. Apaixonar-se de novo
pelo mesmo marido ou pela mesma mulher nem sempre dá conta. Eles já
conhecem todos os nossos truques, sabem contra o que a gente briga,e no
momento o que precisamos é de alguém virgem de nós,que permita a
recriação de nós mesmos. Precisamos nos apaixonar para justamente
corrigir o que fizemos de errado enquanto compartilhávamos a vida com
nossos parceiros. Sem que isso signifique abrir mão deles. Isso explica
o fato de as pessoas sentirem necessidade de relações paralelas mesmo
estando felizes com a oficial. Explica,mas não alivia. Como é complicado
viver.
Marta Medeiros
Tenho medo de não conseguir manter minhas ideias, meus
pontos de vista, minhas escolhas. A minha cabeça é como um guarda que
não permite que eu estacione em local algum. Eu fico dando voltas e
voltas no meu cérebro e quando encontro uma vaga para ocupar, o guarda
diz: circulando, circulando. Você está me entendendo? Eu não tenho área
de repouso. Raramente desligo, e quando isso acontece, não dá nem tempo
para o motor esfriar.
E o que é que ela vê nele? Nossos amigos se interrogam
sobre nossas escolhas, e nós fazemos o mesmo em relação às escolhas
deles. O que é, caramba, que aquele Fulano tem de especial? E qual será o
encanto secreto da Beltrana?
Vou contar o que ela vê nele: ela vê tudo o que não conseguiu ver no próprio pai, ela vê uma serenidade rara e isso é mais importante do que o Porsche que ele não tem, ela vê que ele se emociona com pequenos gestos e se revolta com injustiças, ela vê uma pinta no ombro esquerdo que estranhamente ninguém repara, ela vê que ele faz tudo para que ela fique contente, ela vê que os olhos dele franzem na hora de ler um livro e mesmo assim o teimoso não procura um oftalmologista, ela vê que ele erra, mas quando acerta, acerta em cheio, que ele parece um lorde numa mesa de restaurante mas é desajeitado pra se vestir, ela vê que ele não dá a mínima para comportamentos padrões, ela vê que ele é um sonhador incorrigível, ela o vê chorando, ela o vê nu, ela o vê no que ele tem de invisível para todos os outros.
Vou contar o que ela vê nele: ela vê tudo o que não conseguiu ver no próprio pai, ela vê uma serenidade rara e isso é mais importante do que o Porsche que ele não tem, ela vê que ele se emociona com pequenos gestos e se revolta com injustiças, ela vê uma pinta no ombro esquerdo que estranhamente ninguém repara, ela vê que ele faz tudo para que ela fique contente, ela vê que os olhos dele franzem na hora de ler um livro e mesmo assim o teimoso não procura um oftalmologista, ela vê que ele erra, mas quando acerta, acerta em cheio, que ele parece um lorde numa mesa de restaurante mas é desajeitado pra se vestir, ela vê que ele não dá a mínima para comportamentos padrões, ela vê que ele é um sonhador incorrigível, ela o vê chorando, ela o vê nu, ela o vê no que ele tem de invisível para todos os outros.
Marta Medeiros
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