3.11.2013

Atividades físicas preparam o corpo para lidar com as pressões da vida

Professores correm para dar aulas em diferentes turnos, mas se sentem recompensados em transmitir conhecimento para seus alunos.

Vagner Sérgio dos Santos, de 42 anos, e Juliana Leite, de 40, são professores dedicados na sala de aula. Conhecemos Vagner em São Paulo. Juliana 
mora em Mairinque, a 70 quilômetros. Apenas uma hora e meia de distância entre eles. Os dois têm a mesma profissão, mas será que têm a mesma rotina? O tempo dirá.Para Vagner, o dia parece muito curto. Para Juliana, a calma da cidade pequena facilita muito o vaivém de uma escola
Quando termina esta aula, Vagner volta para casa e pega mais dois ônibus. Mais uma hora e meia de viagem - no mínimo.
Juliana gasta sete minutos da escola até a porta do prédio onde mora. Vai para lá e para cá de bicicleta. Quando vivia em São Paulo, ela, como o Vagner, também passava pelo menos três horas dentro do metrô ou do ônibus. Que diferença para a rotina de hoje em Mairinque.
Juliana é casada com Luis, que também é professor e diretor de uma escola rural. Eles optaram por não ter filhos.
O professor Vagner tem uma filha única, a Maria Camila. Ela está com 18 anos. É quase hora do almoço e Vagner ainda está a caminho. Às 13h30, encontramos Vagner já terminando o primeiro turno de aulas.
Neste exato momento, Juliana e o marido já podem almoçar. O restaurante fica perto. É só atravessar a rua. Eles sempre almoçam juntos, sem pressa e com muito gosto.
Aproveitamos a hora do almoço para ouvir o conselho do gastroenterologista Jaime Eizik, do Hospital das Clínicas de São Paulo: "As pessoas não têm tempo de apreciar uma boa alimentação. Comem muito depressa, mastigam muito rápido, não têm horário para se alimentar, e o aparelho digestivo sente. E responde à má educação do seu patrão trabalhando mal também. Ele vai apresentar uma série de sintomas decorrentes do mau funcionamento."
E o Vagner, onde está agora? No segundo ônibus de volta para casa. Infelizmente, um imprevisto vai atrasar os planos do professor. De repente, começa a chover forte. Haja fôlego, agora é a corrida contra o tempo instável. Que banho de desenvoltura! Impressionante como o professor Vagner dá aula de bom humor.
A agenda é cheia de compromissos, mas ele parece muito à vontade. Pelo jeito, nosso mestre aprendeu o cálculo do tempo. Mexemos nos ponteiros para acertar o relógio, mas será que é possível mexer no tempo tão corrido de hoje em dia? Sim, é.
O professor Vagner é nota dez em matemática. A professora Juliana é nota dez na quadra de vôlei. Sim, Juliana e o Vagner têm outra coisa em comum: eles acertaram o relógio biológico.
Mais tempo produtivo, menos tempo de correria. Mais saúde, menos stress. O relógio biológico de cada um de nós é mais eficiente do que estas máquinas tão delicadas e geniais.
"Os minutinhos que eu tenho, uma roupa que eu tenho de lavar, alguma coisa que eu tenha de fazer em casa; é uma atenção que você tem de dar para o marido. O reloginho tem de estar sempre junto porque o tempo é totalmente administrado o dia inteiro", analisa Juliana.
"Eu gosto do que eu faço", garante Vagner.
Para Vagner, não tem mesmo tempo ruim. Ele chega todo molhado, mas todo feliz para o almoço. A mulher Vânia Almeida Ferreira dos Santos e a filha já almoçaram, mas elas ficam ali, juntinho, curtindo aquela hora tão esperada.
"Ele almoça e deita um pouco. Quando está quase dormindo, já tem que levantar e tomar banho”, conta Vânia.
E já para a aula. Turno da noite no colégio estadual, perto de casa. Agora ele vai a pé.
Juliana também trabalha até tarde da noite. "Após o almoço, eu já volto para a escola. Tenho aula até 16h30 e depois vou para o terceiro tempo até 22h55h”, diz.
O professor Vagner ainda acha tempo para estudar. "Ele vai fazer mestrado", explica a mulher. "Vou passar na prova", garante Vagner, que acrescenta: "Eu falo para os meus alunos: quando quiser, faça. Você é aquilo que você quer ser."
Ele quis e conseguiu: o menino Vagner, que começou a trabalhar na roça aos 14 anos, foi o único da família a fazer faculdade. Ele virou professor.
"Eu era jogadora de vôlei profissional", lembra Juliana. "Foi uma das melhores fases da minha vida."
A ex-atleta virou professora. Recém-casada, largou São Paulo e se apaixonou pela cidade pequena. Mais uma vez, foi a questão do tempo.
"Uma cidade menor onde você gasta menos tempo, onde você tem uma qualidade de vida melhor, onde você pode andar de bicicleta a cidade inteira", define Juliana.
Quem não puder andar de bicicleta pela cidade, tem outras saídas, outros exercícios. Não é perda de tempo, garante o ortopedista Arnaldo Hernandez.
"Você não tem muito como evitar o stress porque a vida cotidiana, o mundo urbano, a vida profissional que temos é uma vida onde você está sujeito a competitividade e à demanda de chefias e falta de tempo", explica. "Você vai tendo reações que se acumulam. A pressão sobe, algumas pessoas têm enxaqueca e gastrite. Tem pessoas com problema de pele, psoríase que se agrava, com a tensão nervosa."
"Não descanso muito não. As pernas doem, a idade está chegando. Aos 42 anos começo a ter consequências. Eu gostava muito de andar pela sala. Agora, com dois empregos, com dez horas na sala de aula, eu não chego ao final do semestre", aponta Vagner.
Pode chegar, sim, professor. Basta ouvir o que o doutor Hernandez tem a dizer: "A atividade física é uma das melhores ferramentas para isso."
O doutor diz que o exercício físico treina o nosso organismo para aguentar o stress, assim como treina o nosso coração para uma corrida. "Da mesma forma que você treina o seu coração e a frequência dele abaixa, o seu sistema nervoso também é treinável”, esclarece.
Ou seja: mexendo o corpo, mexemos no nosso relógio da saúde. Mais uma lição que o tempo não apaga.
"Nossa, é um negócio muito instigante você ensinar as pessoas a conseguir melhorar as pessoas", diz Vagner.
"Você não conseguir passar para o aluno o ensinamento que você gostaria de passar - isso sim me estressa", reflete Juliana.
" Fico pensando: como poderia ser diferente se o país visse educação como investimento e não como o gasto", pondera Vagner. "O professor perde a identidade. O povo não me chama pelo meu nome. Não é Vagner, é ‘professor’", conta.
E na cidade pequena, tão perto e tão diferente da metrópole?
"Além de você ter uma qualidade de vida melhor, você também proporciona momentos de lazer. Você passa e vê as pessoas na rua. Você conhece o dono do cachorro e faz amizade também, e por aí vai. Acho que isso é muito bom. Cidade grande não tem isso", avalia Juliana.
Tem, sim. Não é, professor Vagner? "Eu tenho uma relação muito boa na minha comunidade em que moro, o pessoal é muito bacana. É uma comunidade muito carente, que precisa muito de educação", diz.
"O contato com eles me faz bem. Eu sempre digo para eles que eles fazem parte da minha vida", completa Juliana. "O que você faz da sua vida, o que você opta tem que ser feito com dedicação. O meu conselho é que você faça com prazer o que está fazendo. O tempo passa e você acaba não tendo problemas.”
outra. Ela ainda tem mais turmas do que ele. Vagner gasta muitas horas no trânsito."Eu acordo às 5h10, tomo banho e café. Pego ônibus às 5h45. Chego no ponto final por volta das 6h30. Aí pego outro ônibus, chego na escola por volta das 6h50. Começo as aulas às 7h10. Vou até 13h30”, relata Vagner..

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