3.11.2013

Uma força a mais para quem já venceu o câncer

Programas de reabilitação para sobreviventes da doença se espalham pelo mundo. Eles previnem efeitos tardios do tratamento e melhoram a qualidade de vida dessas pessoas

Mônica Tarantino

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Um novo modelo de atenção às pessoas que venceram o câncer ou convivem com a doença está ganhando espaço na medicina. Nos Estados Unidos, 100 hospitais já implantaram programas destinados aos sobreviventes do câncer. A diferença em relação ao monitoramento padrão feito após o tratamento, em que o paciente retorna ao médico em intervalos de tempo predeterminados, é a criação de equipes treinadas para reconhecer nesses indivíduos alterações relacionadas ao uso de quimioterápicos, à radioterapia ou sequelas deixadas por cirurgias que podem interferir na retomada do cotidiano. São sintomas como colesterol elevado, fraqueza, dificuldade de concentração, dormência em mãos ou pés e perda de equilíbrio.
O Hospital John Hopkins é um dos que aderiram a essa abordagem. “Queremos garantir que os sobreviventes permaneçam tão funcionais quanto possível”, disse à ISTOÉ Vanessa Wasta, diretora de relações públicas da instituição. Os pacientes recebem prescrições de exercício exclusivas, informações de bem-estar e terapias de reabilitação específicas com base em suas necessidades.
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SAÚDE
Mariana concluiu o tratamento do câncer há 16 anos, mas faz
controle do colesterol elevado, efeito dos remédios que tomou
Até pouco tempo, essa preocupação com os sobreviventes não existia. O movimento ganhou força quando a médica Julie Silver, da Faculdade de Medicina de Harvard e especialista em medicina de reabilitação, teve câncer de mama e sentiu a carência de apoio para voltar ao cotidiano depois do tratamento. “Tinha três filhos pequenos, estava fora do trabalho e me sentia devastada fisicamente. O médico me disse para descansar, o que equivale a dizer que eu estava sozinha para me curar. Foi muito difícil”, disse à ISTOÉ. A partir da experiência, ela criou um programa para treinar oncologistas, especialistas em reabilitação e outros profissionais para rastrear nos pacientes os comprometimentos associados à toxicidade do tratamento. A assistência mudou a vida da americana Sandra Wade, tratada no Hospital Júpiter, na Flórida. “Minhas necessidades emocionais e físicas estão sendo atendidas”, diz.
Colabora para a expansão desse tipo de programa o aumento do número de sobreviventes. Uma estimativa da Associação Americana do Câncer mostra que em 2022 os Eua terão 18 milhões de pessoas nessa condição. A mesma preocupação começa a se mostrar na Europa. Recentemente, a Sociedade Espanhola de Oncologia Médica (Seom) lançou um manifesto no qual defende a atenção permanente aos sobreviventes. “Cinco por cento da população espanhola será sobrevivente de câncer em 2015. Deve ter suporte para se reabilitar”, disse a ISTOÉ o médico Juan Jesús Cruz, presidente da Seom.
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No Brasil, os únicos programas são voltados para pacientes pediátricos. No Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer, a médica Mônica Cypriano acompanha o crescimento de ex-pacientes com a ajuda de equipe multidisciplinar. “É preciso ajudar as pessoas a superar os problemas decorrentes do tratamento”, diz. Outro serviço é o Grupo de Estudos Pediátricos Tardios dos Efeitos do Tratamento Oncológico, do Hospital A. C. Camargo, onde são atendidos 1,2 mil pessoas. “Tornou-se essencial acompanhar esses indivíduos na vida adulta para controlar o impacto dos efeitos tardios do tratamento”, diz a médica Cecília da Costa. Uma das sobreviventes acompanhadas é a biomédica Beatriz Nunes, 24 anos, que teve um tumor ósseo e hoje faz pesquisas sobre o câncer. “Tive apoio psicológico e de fisioterapia”, diz. A professora de história Mariana Arantes, 26 anos, também recebe auxílio. “O serviço me ajudou a superar a revolta de ter adoecido e a manter boa qualidade de vida”, conta.
Para sobreviventes adultos brasileiros, o suporte é obtido em grupos de apoio, serviços de psicologia dos hospitais, redes sociais e em portais especializados. Em algumas instituições, especialistas orientam os ex-pacientes a adotar práticas como meditação e ioga. Há também centros como o Instituto Espaço de Vida, criado pela sobrevivente Christine Battistini. “Minha mãe teve mieloma e eu, tumor de mama. Ter suporte depois nos ajudou muito.”
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Fotos: Kelsen Fernandes/Ag. Istoé; Marco Ankosqui

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