3.15.2013

Comparações, semelhanças.

O ontem, o hoje, o sempre.


Quando adolescente lembro-me que de tão sapeca vivia subindo no telhado de casa, um lugar escorregadio cheio de armadilhas. Minha mãe enlouquecia e alertava diariamente que era perigoso, que eu cairia e me machucaria. Mas aquilo era tão bom, me dava uma sensação tão plena de liberdade. Eu subia e ficava lá, parada, olhando o horizonte, de dia encontrava formas e desenhos nas nuvens... de noite escrevia poemas, contava as estrelas e conversava com a lua. Era meu universo, meu infinito particular. Eu ignorava os avisos de perigo, porque aquilo me fazia bem, me completava. E eis que numa bela tarde, os alertas se concretizaram, e eu escorreguei, cai, me espatifei no chão, o que rendeu uma fratura no braço esquerdo, agravamento no meu eterno problema do pulso direito, várias marcas roxas e um pé torcido. Minha mãe me encontrou aos prantos, e eu já esperava o "EU AVISEI". Ela não o disse, apenas me ajudou a levantar e me levou praticamente no colo para casa.
Diferente do que se pode imaginar, eu não deixei de subir no telhado, esperei que as dores amenizassem e voltei, mas passei a tomar muito mais cuidado, e a desconfiar de cada imperfeição da construção. O que não significa que eu nunca mais caí, apenas que os tombos não machucaram mais como o primeiro. 
As vezes lembro dessa historia quando me deparo com os avisos do mundo adulto que cotidianamente me dizem o que devo ou não fazer. E lembro de minhas amigas me alertando sobre os amores errados que tive na vida. É engraçado, porque quanto mais me diziam não, não se deixa envolver, não se deixa levar, não se deixa apaixonar, nãos e nãos e nãos... mais eu insistia, e tentava, e queria. Nenhum dos avisos foi por maldade, é claro, elas só queriam o meu bem. Mas ainda assim são exemplos, assim como o tombo da minha adolescência, assim como as quedas e dores diárias que sofremos por insistir. E o ponto principal aqui, é que a a gente só insiste quando nos faz bem, quando acreditamos que aquilo é importante, mais que isso, é fundamental. A gente permanece, tenta, volta quantas vezes for preciso, pelo simples e complexo motivo: amamos aquilo. E o amor é um sentimento que realmente dispensa qualquer explicação. Primeiro porque se você já amou entende do que estou falando, e segundo porque se você nunca amou, de nada adiantará que eu tente explicar, você não entenderá. Só entende quem vive na pele, quem sente. Acontece que as vezes os avisos se concretizam, e a gente cai. E se machuca. E chora. E espera o "eu te avisei". Que vem da boca de alguns. Mas que de outros não chega, nem nunca chegará. Eles apenas nos ajudam a levantar e nos levam pra casa (ou, na maioria das vezes, pro boteco mais próximo). Aí a gente pára, faz um esforço desgraçado pra esquecer, passa dias, meses, anos esperando a dor passar... mas chega uma hora que a gente não resiste, e volta. Só que agora com mais cuidado... E a gente cai de novo, chora de novo. Mas não dói mais tanto. Os calos são profundos, impedem o corte.
Comparações, semelhanças.
Me fazem perceber que primeiro: tombos são naturais, e necessários, mas a gente nunca aprende o suficiente, porque está sempre caindo de novo. E segundo: ou tenho tamanha resiliência que devo inspirar estudos psiquiátricos, ou minha teimosia ultrapassa os limites imagináveis da estupidez humana.


P.S: calma, chega uma hora que a gente cresce, e não sente mais vontade de subir no telhado, cair, amar errado, e doer.

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