A falta de interlocução com as centrais
sindicais e a incapacidade de unificar o PDT e pôr fim à indústria dos
sindicatos tornam insustentável a permanência de Brizola Neto no governo
Pedro Marcondes de Moura
NA CORDA BAMBA
O ministro do Trabalho, Brizola Neto, está ameaçado de perder o cargo
Na quarta-feira 6, a presidenta Dilma Rousseff recebeu no Palácio do
Planalto os líderes das seis principais centrais sindicais do País, após
uma marcha que reuniu cerca de 40 mil trabalhadores em Brasília. Mais
do que a tentativa de reconciliação entre o governo federal e as
entidades, o encontro escancarou a todos os participantes o que no
governo e no PDT já se comentava intramuros: o completo isolamento do
ministro do Trabalho e Emprego, Brizola Neto. Durante a conversa que se
estendeu por uma hora e 40 minutos, o ministro nem sequer pediu a
palavra. Entrou na reunião mudo e saiu calado. Coube ao secretário-geral
da Presidência, Gilberto Carvalho, mediar o diálogo de Dilma com os
sindicalistas. “Foi constrangedor. Ele parecia alheio à discussão das
pautas de reivindicações”, contou à ISTOÉ o dirigente de uma das
centrais. Esse comportamento apático adotado pelo ministro, nos últimos
meses, tem sido alvo de críticas do governo. O Planalto debita na conta
de Brizola Neto, por exemplo, a ida da Força Sindical, a segunda maior
central do País, para os braços da oposição. Além da falta de
interlocução com lideranças sindicais e com setores do próprio partido, o
PDT, problemas na gestão do ministério, como a incapacidade de pôr fim
à indústria dos sindicatos – denunciada por ISTOÉ – foram o que levaram
Brizola Neto ao descrédito junto a Dilma. Nos bastidores do governo, há
quem aposte que Brizola Neto não atravesse a semana no posto de
ministro do Trabalho. Tende a ser apeado do cargo nos próximos dias,
dando início à reforma ministerial imaginada por Dilma com o objetivo de
recompor sua base de apoio de olho nas eleições presidenciais de 2014.
A leitura no governo é que Brizola Neto não fez frente às
expectativas depositadas nele. Ao contrário do que ele próprio
propagandeava ao postular a vaga na Esplanada dos Ministérios, o
ministro mostrou-se incapaz de unificar o PDT, fundado por seu avô
Leonel Brizola, a ponto de sua pasta não ser considerada por
correligionários como pertencente à cota do partido. Tampouco conseguiu
manter o apoio inicial que lhe foi dado pelas centrais de trabalhadores.
Paralelamente, a sua gestão de quase um ano à frente do Ministério do
Trabalho também foi marcada pela continuação do processo de perda de
relevância da pasta. Projetos importantes saíram de sua esfera. O
Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), por
exemplo, passou a ser subordinado ao Ministério da Educação.
Outra queixa recorrente advém de sua inépcia. Apesar dos discursos
eloquentes, apenas na segunda-feira 4, ou seja, dez meses depois de
assumir com promessas de acabar com as irregularidades na pasta, Brizola
Neto publicou no Diário Oficial alterações na Portaria 186/08 com o
intuito de frear a fábrica de sindicatos fantasmas que faturam com o
imposto sindical. Entre elas, a necessidade de publicação dos atos
processuais do Cadastro Nacional de Entidades Sindicais e a realização
de assembleia em caso de desmembramento dos sindicatos. Mas as medidas
ainda não entraram em vigor. É que elas só passam a valer 30 dias depois
de publicadas. Há tempos, iniciativas moralizadoras eram aguardadas
para dar transparência ao setor. Foram, aliás, as denúncias da
existência de um esquema de cobrança de propina para a criação de
entidades, feitas por ISTOÉ, que levaram o seu antecessor e desafeto
político, Carlos Lupi (PDT), a deixar o cargo.
DENÚNCIA
Ainda funciona no Ministério do Trabalho uma verdadeira fábrica de sindicatos
A exemplo do que ocorreu com Lupi, quando ele estava na iminência de
deixar o ministério, Brizola Neto viu sua sustentação política se
deteriorar nos últimos meses. Lideranças do movimento sindical reclamam
que ele teria se encastelado e deixado de lado acordos pactuados após
virar ministro. “Havia uma agenda com demandas que foram ignoradas”,
afirma um dirigente. Outros representantes do setor ouvido por ISTOÉ
questionam a sua ausência no papel de interlocutor nas principais
greves, como a dos servidores federais e de canteiros de obras pesadas
da construção civil. Dizem carecer da falta de um integrante do alto
escalão capaz de levar as suas demandas ao governo. Hoje, a tarefa é
cumprida pelo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. “No
passado, o Ministério do Trabalho tinha papel preponderante e era
chamado para opinar em diversas áreas”, atesta o presidente de uma
central. “Estamos vendo um processo de sucateamento”, lamenta. Algumas
entidades questionam também o fato de não ocuparem cargos no ministério,
que dizem só ter representantes da Força Sindical e da Central Única
dos Trabalhadores (CUT).
As maiores pressões pela demissão de Brizola Neto, no entanto, partem
da Força Sindical. Segunda maior central sindical do País, atrás em
filiados apenas da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a entidade é
uma espécie de braço sindical do PDT. Liderada pelo deputado federal
Paulo Pereira da Silva, a organização foi a primeira a avalizar o nome
de Brizola Neto ainda em 2012. Hoje, os seus dirigentes afastam-se do
ministro na mesma velocidade em que se aproximam do seu rival e atual
presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. Recentemente, dirigentes da
central, além de criticarem duramente a presidenta Dilma Rousseff (PT),
passaram a flertar com a candidatura do tucano Aécio Neves e do
governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ao Palácio do Planalto.
Os movimentos evidenciam para o governo a fragilidade política de
Brizola Neto em negociar com as entidades sindicais, mas,
principalmente, em mobilizar seus próprios correligionários em torno da
reeleição de Dilma em 2014.
Fotos: Adriano Machado, CELSO JUNIOR/AGÊNCIA ESTADO/AE
Nenhum comentário:
Postar um comentário